O ‘MARCO ZERO’ DO IMPEACHMENT: A FARSA RECONSTRUÍDA.
Crime de lesa democracia: a ‘informação’ não se confirmou |
Por Paulo Nogueira - no DCM - 05/02/2016
Fernando Brito, do Tijolaço, tratou algum tempo atrás do ‘marco zero do impeachment’.
Um amigo seu mandoulhe um texto sobre essa hora infame.
É um vídeo da TVeja, a tevê da Veja, segundo o entendimento do amigo de Fernando.
Não estou certo de que se trate do ‘marco zero’, mas é, definitivamente, um vídeo que
impressiona. (Impressiona mal, naturalmente.)
São quatro cavaleiros do apocalipse no preciso instante em que se sabe que Dilma venceu:
Joice Hasselmann, Ricardo Setti, Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo.
Dois deles já perderam seu emprego, Joice e Setti, pela inépcia da Abril em lidar com a
mídia digital, expressa na pavorosa TVeja, aliás, com programas aborrecidos e
intermináveis numa era em que vídeos têm que ser rápidos e dinâmicos.
Você vê o desgosto com que eles anunciam a iminência da derrota de Aécio.
Desesperados, ainda tentam fazer contas para verificar se há a possibilidade de uma virada
mágica.
Não há.
E é então que aparece a palavra impeachment.
É curiosa a circunstância em que ela irrompe. A Veja acabara de dar uma capa criminosa
com o delator Youssef. Com base num alegado vazamento, Youssef dizia que eles, Lula e
Dilma, apresentados na capa com semblantes sinistros, sabiam de tudo.
“Sabiam de tudo” a respeito do chamado Petrolão.Aquela capa da Veja capa foi a peça de
propaganda mais forte de Aécio no maior mercado eleitoral brasileiro, o de São Paulo.
A Abril gastou o dinheiro que não tinha, como se vê hoje pelas finanças miseráveis da
editora, para inundar São Paulo com a imagem de ladrões de Lula e Dilma.
Não se sabe exatamente quantos votos Aécio ganhou ali, mas não foram poucos. Não era
um panfleto dele: era um texto pretensamente jornalístico.
O detalhe é que, quando veio à luz a delação real de Youssef, nem Lula e nem Dilma
apareceram sabendo de tudo. Paradoxalmente, quem foi surgiu foi Aécio, que segundoYoussef recebia propina derivada da estatal Furnas.
Também um antigo e morto presidente do PSDB, Sérgio Guerra, foi citado por Youssef.
Guerra teria recebido 10 milhões de reais para abafar uma CPI da Petrobras alguns anos
atrás.
Não foi uma menção solitária a Aécio. Mais recentemente, ele foi vinculado a um
terço dos desvios de Furnas, o que rendeu inúmeras piadas nas redes sociais. Imagens de
Aécio agarrado a um terço religioso inundaram a internet.
É engraçado ver a defesa dos jornalistas da Veja sobre as delações. Joice sublinha que elas
são absolutamente confiáveis porque os delatores só conseguem redução da pena se os
fatos forem verdadeiros.
Não, vêse, quando os acusados são Aécio e outros amigos da Veja e da mídia.
Temos ainda que suportar, no vídeo, Azevedo falando pela milésima vez da
palavra petralha. Tolstoi, Flaubert, Machado de Assis jamais se gabaram de sua obra
monumental, mas Azevedo acha que merece o Nobel por uma palavra que simboliza o
ódio da direita brasileira.
Jamais a Veja voltou à delação de Youssef, quando ela deixou de ser vazamento
manipulado – e naquele caso falso – e se transformou em realidade.
Nunca, igualmente, a revista foi cobrada por seu crime de lesa democracia. Dilma chegou
a anunciar um processo, mas não o levou adiante – num claro encorajamento para que a
revista faça mais do mesmo.
Ficaria claro, o futuro mostraria, que a tese do impeachment seria usada com qualquer
pretexto que fosse.
Youssef não disse aquilo? E daí? O que temos para colocar a palavra impeachment nas
manchetes?
Isto é a imprensa brasileira. Isto é a Veja. Isto são os golpistas de sempre.
E, pela ausência de resposta enérgica, isto é Dilma.
PAULO NOGUEIRA
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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