Merenda: grampos mostram que ‘Moita’, do PSDB, operava ‘do Palácio’, diz jornal

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Jornal do Brasil - Hoje às 10h43 - Atualizada hoje às 11h09

De acordo com investigações da Operação Alba Branca, Luiz Roberto dos Santos, conhecido como “Moita”, então braço direito do secretário-chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin, operava para a quadrilha da merenda escolar de sua sala no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. “Moita” caiu no grampo da Polícia Civil várias vezes dizendo a interlocutores “tô no Palácio”. As informações são do Estado de S. Paulo.
A reportagem afirma que relatório policial mostra sucessivos contatos ao celular, de seu próprio gabinete, com integrantes da organização sob suspeita de fraudar licitações e superfaturar produtos agrícolas e suco de laranja destinados à merenda.

De acordo com o Estadão, um dia antes da deflagração da Alba Branca, “Moita” foi demitido do cargo de confiança que ocupava. O secretário Edson Aparecido o devolveu à função de origem na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
A reportagem afirma que boa parte dos grampos flagra “Moita” orientando o lobista Marcel Ferreira Júlio, apontado como operador de propinas da organização que se infiltrou em pelo menos 22 prefeituras paulistas e mirava em contratos da Secretaria da Educação do Estado. “Moita” fala sempre de um número de celular e diz que está “no Palácio”.
Segundo o texto, o dossiê Alba Branca indica o campo de ação de “Moita”. Ele age diretamente para atender aos interesses da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), apontada como carro-chefe da fraude.
Os investigadores atestam que a atuação de “Moita” é incisiva. De acordo com a reportagem, uma interceptação pegou o então assessor de Edson Aparecido sugerindo ao lobista Marcel Ferreira Júlio que pedisse reequilíbrio financeiro de contrato de merenda, e não aditamento. “Moita” contou que tinha falado antes com Fernando Padula, na época chefe de gabinete da Educação, de quem disse ter recebido a orientação.
“As interceptações trouxeram a lume a participação no esquema dos indivíduos apontados como ‘Moita’ e Alex”, destaca o inquérito. “Marcel menciona mais de uma vez que Alex, que seria da Executiva do PMDB, iria fazer o primeiro contato com prefeitos para depois a prefeitura ser visitada pelos vendedores da Coaf. A partir daí, o órgão público é visitado, já com a proposta da comissão, negociada de acordo com o valor do contrato pactuado.”
No dia 4 de dezembro de 2015, às 12h34, “Moita” liga para Marcel.
“Moita”: Eu tava enrolado com esse negócio de escola prá cima e prá baixo, não dá nem prá eu pensar nas minhas coisas, mil e duzentos, mil e trezentos, mil e quatrocentos, mil e quinhentos o mínimo.
Marcel: Ah, então não é melhor eu te mandar isso aí prá segunda, você tá hoje trabalhando?
“Moita”: Eu tô no Palácio.
Marcel: Até que horas você fica?
“Moita”: Até as 6, eu não saio antes.
Marcel: Fica tranquilo, pelo menos a gente já matamos os dois, e o da Coaf. Eles estão chegando na terça-feira aqui com o freezer da Coaf e eu já te cobro também.
“Moita”: Tá bom, valeu.
No mesmo dia, às 15h09, “Moita” informa o lobista sobre a queda do então secretário da Educação, Herman Voorwald – na ocasião, o governo Alckmin vivia uma etapa de grande tensão com os estudantes que ocupavam dezenas de escolas em protesto contra projeto de reorganização do ensino.
Na conversa, “Moita” citou o nome de Fernando Padula, então chefe de gabinete da Educação.
Os dois falam sobre um contrato da Coaf com a pasta.
“Moita”: Tudo bem graças a Deus acabei de falar com o Padula.
Marcel: Opa.
“Moita”: E ele entende, assim como eu, que não é aditivo tá, é reequilíbrio financeiro.
Marcel: Ah, então tem que pedir por reequilíbrio né.
“Moita”: É, não põe aditivo porque você não tá mantendo o preço. Cê tá pedindo a atualização monetária de dólar, aquelas coisas entendeu. Então, tem que tirar aditivo lá, ele falou que vai mandar pro departamento, tá, ele não garantia porque também tá pendurado lá agora, você sabe né.
Marcel: Eu sei isso.
“Moita”: Caiu o Herman, viu.
Marcel: Não sabia, não sabia.
“Moita”: Então, ele é o cara que tava na frente com isso, eu nem sei se continua, então protocola logo.
O ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Alckmin Luiz Roberto dos Santos “Moita” não respondeu aos contatos da reportagem.

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