Herói do ódio: um olhar para o passado que não pode voltar, por Jari da Rocha

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Daniel Mitrione era casado e tinha nove filhos. Encarregado de negócios na embaixada americana trabalhou no Brasil e, depois, no Uruguai.
Em 31 de julho, guerrilheiros tupamaros seqüestraram Mitrioni (Pepe Mujica era dirigente do MLN).
O objetivo era trocá-lo por 150 prisioneiros. O governo não aceitou. Dias depois, em 10 de agosto de 1970, Mitrioni foi morto com dois tiros na cabeça. Foi encontrado no banco traseiro de um Buick verde com capota branca, estacionado numa ruela muito escura, a Coronel Lasala.

O funeral, em Richmond (Indiana), foi pomposo e com honras de estado. Eisenhower e Nixon estavam lá. Frank Sinatra e Jerry Lewis cantaram num concerto beneficente para a família do defunto.
No filme “Estado de Sítio”, de Costa-Gavras, Yves Montand faz o papel de um americano chamado Philip Michael Santore.
Philip ensinava práticas de tortura aos policiais militares.
Meticuloso, demonstrava como usar choques elétricos sem deixar marcas. Ele acreditava e propagava que a tortura eficaz era uma ciência.
Philip é encontrado morto dentro de um carro, com dois tiros na cabeça.
Philip e Mitrione são a mesma pessoa. Policial da Cia disfarçado de encarregado de negócios na Embaixada Americana, mais conhecido como “O papa da tortura”.
Antes de ir para o Uruguai, difundiu a técnica no Brasil entre 1960 e 1967.
As prisões deveriam acontecer bem cedo – para pegar as pessoas desprevenidas. Eram vendadas, despidas e colocadas em isolamento e ainda impedidas de dormir e comer. Por fim, o choque para a submissão do traidor da pátria.
Eram tempos em que a justiça prendia sem provas, fazia longos interrogatórios sob ameaça física e psicológica até que o pobre diabo ‘confessasse’. Era uma espécie de delação premiada pelo ‘bom comportamento’ do acusado.
A polícia, por sua vez, atirava para depois perguntar, baixava o cassete em todos que parecessem comunistas. Tinha fixação pelo vermelho, defendia o verde e amarelo e era exaltada pelo azul Marinho.
Foram tempos de chumbo e Mitrioni, convicto de sua missão em defesa do bem, deixou sua marca.
Admirado, virou herói.

PS do Tijolaço: Assista, se puder, o filme de Costa-Gravas, legendado, logo abaixo. Sobretudo se não estiver rondando os 60. Vai aprender, talvez duvidar. É tudo verdade.

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