Convocação urgente à intelectualidade brasileira

Este não é um convite para um exercício diletante de revisão da conjuntura. É uma convocação, para o esforço de reflexão que visa compreender para agir.


Anivaldo Padilha - Presidente do Fórum21 na Carta Maior - 28/02/2016
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A primeira atividade de 2016 do Fórum 21 tem uma natureza organizativa e emergencial. E não poderia ser diferente.

Estamos convocando um seminário interno para traçarmos as linhas de ação da entidade diante da deterioração acelerada da conjuntura política e econômica do país.

É imperioso alargar o horizonte da esperança na ação para não sermos engessados em um novo normal de perplexidade e rendição.

Portanto, este não é um convite para um exercício diletante de revisão da conjuntura. É uma convocação, para o esforço de reflexão que visa compreender para agir.


 
O seminário “Política, Economia, Direito e Mídia: os fundamentos da crise” deverá ocorrer nas datas que cada capítulo definir, com a urgência necessária, ou seja, no próximo mês de março, buscando aglutinar vozes ecumênicas, que pavimentem um diálogo abrangente no mundo acadêmico e dele com as forças da sociedade.

O desafio é trazer transparência histórica a um ambiente democrático aturdido pela corrosão do estado de Direito, pela judicialização  da política, pelo questionamento das urnas, pela

ofensiva aos direitos sociais e pela desqualificação midiática da luta por um Brasil justo e soberano.

O terreno pantanoso requer pavimentação.

Antes de conversar publicamente, vamos nos preparar um pouco, formando uma espécie de programa de debates,.

Para os membros da diretoria está claro que o eixo é a política. Mas em suas várias faces. Para dialogar com os acontecimentos em curso temos que associar política e direito, política e economia, política e mídia, evidenciando o campo unificado de poder que dificulta o debate do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Na esfera do Direito, por exemplo, está evidente que o uso político da Justiça no país, cada vez mais intenso, e a contrapartida de constrangimentos à liberdade individual e partidária. Mecanismos de controle frente aos abusos de setores do Judiciário, inexistentes no país, devem ser  discutidos.

A deliberada omissão das determinações internacionais no diagnóstico conservador da crise econômica, é outro flanco a ser radiografado.

Ocultá-lo, como faz a mídia, restringe a compreensão dos desafios e, portanto, o acervo das soluções,   pavimentando a demonização de organizações, agendas, programas e lideranças progressistas.

O risco, e ele é cada vez maior, é adotar-se como redentoras, fórmulas  que deram origem ao colapso mundial.

A saber: décadas de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas economias ricas; mimos tributários que promoveram o fastígio dos endinheirados --e o definhamento fiscal do Estado-- e doses maciças de crédito, a dar funcionalidade à espiral da desigualdade e ao declínio dos direitos.

Esse é um ponto obsessivamente interditado no debate brasileiro.

Os interesses e as práticas que levaram a economia mundial à mais longa convalescença de todas as crises do capitalismo desde o século XX,  são vendidos aqui como opção virtuosa aos conflitos que marcam a luta pelo desenvolvimento no país.

A duração da crise mundial desmente a eficácia dessas respostas e realça a insuficiência estrutural da demanda na origem da pasmaceira sistêmica, cujas raízes podem ser resumidas em dois números.

Apenas 62 famílias detém tanta riqueza quanto 3,6 bilhões de seres humanos (metade da humanidade). Em contrapartida, US$ 6 trilhões em capitais ociosos repousam em juros negativos, em celibatária relação com o principal motor do desenvolvimemto: o investimento produtivo

É essa contradição intrínseca aos mercados desregulados, que se irradia derrubando cotações e contraindo o comércio internacional.

E é ela que se tenta vender agora como o ‘novo normal’, como se  ‘normal’ fosse assentar a vida sobre os escombros da desordem produzida pelos mercados.

O imenso poder político do capital financeiro é um traço constitutivo desse desarranjo sistêmico.

Mas, como explicar que vários bancos centrais de vários países pensam adotar a TAXA DE JUROS NEGATIVA ?

Os juros da dívida pública brasileira, uma sangria equivalente a 8% do PIB, materializam esse desequilíbrio entre nós.

Não pode ser subestimado o papel da mídia na manutenção desses constrangimentos.

Um dos polos de poder mais fortes no Brasil, a mídia se constitui hoje, juntamente com o Judiciário e parte significativa do capital financeiro, em um campo unificado de poder que ataca o Estado democrático de direito, e o faz da forma virulenta como  estamos vendo.

Funcionária do capital financeiro, a mídia vem opinando e formando sentimentos. Isso explica a construção do ódio político no Brasil. O uso da “linguagem selvagem e personificada, machista e preconceituosa que pauta a desinformação –‘uma linguagem muito perigosa que não pode ser negligenciada’.

Em sua primeira atividade do ano, o Fórum 21 promoverá seminários internos em seus núcleos estaduais.

O passo seguinte será a promoção de grandes seminários abertos ao público, inaugurando assim o diálogo direto entre a nossa entidade e a sociedade brasileira.




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