Stiglitz: Banco Central do Brasil estrangula economia do país

20 de janeiro de 2016 - 17h06 

Prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Joseph Stiglitz afirmou que o Banco Central do Brasil “estrangula a economia do país”. Segundo ele, a atual política monetária está agravando os problemas existentes. Em entrevista a O Estado de S. Paulo, Stiglitz destaca que aumentar juros só tem efeito para reduzir uma inflação de custos “matando a economia”. As declarações foram dadas pouco antes de o Copom decidir, nesta quarta (20), sobre o futuro da taxa básica de juros da economia.


  
"Vocês têm uma das mais altas taxas de juros no mundo. Se o Brasil reagisse à queda no preço das exportações com medidas contracíclicas, o país talvez pudesse ter evitado a intensidade da atual crise. Outra questão é que, sempre que ocorrem escândalos de corrupção da magnitude do que acontece agora no Brasil, a economia é jogada para baixo. Isso cria uma espécie de paralisia", afirmou o economista, ao analisar os atuais problemas da economia verde-amarela.

De acordo com ele, a política monetária deveria se contrapor aos impactos na economia impostas pela Operação Lava Jato e pela queda no preço das commodities. "O sistema legal no Brasil está colocando muita gente na prisão. Não estou dizendo que não deveriam fazer isso, mas a política monetária deveria reconhecer que este é um período em que haverá restrição de gastos, particularmente no setor público, em que as pessoas serão mais cautelosas em tomar decisões, em que a construção civil vai se contrair".

“Teoria desacreditada”



Stiglitz rechaçou a ideia – que tem guiado as escolhas do Banco Central – de que é preciso, de qualquer forma, elevar juros para controlar preços. “Esse modelo que diz que, se a inflação está alta, você sobe os juros é uma teoria que foi desacreditada. É preciso saber qual é a fonte da inflação. Se for excesso de demanda, aí você sobe os juros, porque tem que moderar a demanda. Mas se for um impulso por custos, você tem que ser cuidadoso. Nesse caso, a forma pela qual a alta de juros reduz a inflação é matando a economia”, disse.

Segundo ele, nesse caso, “se você conseguir desemprego o suficiente, os salários são deprimidos, e você segura a inflação”. Stiglitz disse que não é bom ter uma inflação descontrolada, mas também não se deve matar a economia. “E eu acho que eles [do BC brasileiro] perderam esse equilíbrio”, avaliou.

Questionado pelo jornal se a culpa dos problemas econômicos seria da política fiscal ou do Banco Central, o economista ressaltou que, quando a economia desacelera, as receitas tributárias caem e ocorrem déficits. “Se a economia for estimulada, a receita sobe. Dessa forma, a política monetária pode ajudar a política fiscal”, declarou.

“Vocês têm dois problemas: o colapso do preço das exportações e o escândalo de corrupção. O que eu disse é que a política monetária deveria se contrapor a esses fatores, mas, em vez disso, ela está agravando o problema”.

Desigualdade e crise global

Em relação ao quadro mundial, Stiglitz avaliou que a economia terá desempenho em 2016 igual ou pior ao de 2015. “ Há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse por ela, a economia teria sido fraca”, destacou.

Segundo ele, há quatro motivos para a demanda reduzida. “A primeira é a desigualdade. As pessoas no topo não gastam tanto (como parte da sua renda) quanto as pessoas na base. Então, à medida que a desigualdade cresce, a demanda se enfraquece”, explicou.

Em segundo lugar, apontou, há transformações estruturais acontecendo em quase todos os países. “Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os serviços; na China, das exportações para a demanda interna. Mas os mercados são duros em conduzir essas transições. Tem sempre gente que fica para trás, o que contribui para a desigualdade. Os setores que ficam para trás não podem demandar bens”, diagnosticou.

Em terceiro e quarto lugares, estariam a “bagunça” que está a zona do euro, com políticas econômicas que contribuíram para reduzir o crescimento, e a queda do preço do petróleo.
Para sanar os problemas da economia global, o economista defende um aumento de gastos do governo nos Estados Unidos e na Europa. “Nos dois casos, os setores públicos podem tomar emprestado a juros muito baixos. E, por outro lado, é preciso investimento em tecnologia, educação, infraestrutura. Isso estimularia a economia. Compraríamos mais do Brasil, o que ajudaria vocês”, indicou.

Hitler, produto do desemprego

Stiglitz, contudo, disse haver obstáculos políticos a essa estratégia. Segundo ele, há um amplo sentimento no partido Democrata dos EUA em favor desse tipo de abordagem. Já nas Europa, “é mais complicado”, por causa da ideologia alemã. “Os alemães reescreveram a história para acreditar que a inflação foi o problema principal (na ascensão do nazismo), mas o que causou Hitler foi o desemprego. E eles se esqueceram disso. Eles esqueceram que o desemprego é a verdadeira causa da instabilidade social”, encerrou.




 Do Portal Vermelho, com O Estado de S.Paulo

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