Paulo Nogueira: O Jornalista do Ano.
Postado em 01 jan 2016
É triste ver como certas pessoas pioram com o correr dos dias. FHC e Helio Bicudo são dois casos. São oantivinho.
Em compensação, há aqueles que não cessam de melhorar, e é importante louvá-los.
Um caso notável é o do jornalista Mino Carta, editor e fundador da Carta Capital.
Já passado dos 80 anos, Mino reúne virtudes em geral associadas à juventude: é vigoroso, intrépido, infatigável, explosivo na defesa de uma sociedade menos abjetamente desigual.
Sua revista marcha gloriosamente na contracorrente de uma mídia que serve apenas aos próprios interesses da classe que representa – a plutocracia.
Todos são iguais, na lógica infame da imprensa, mas alguns são mais iguais que os outros, para lembrar a célebre sentença de Orwell. Os mais iguais são os plutocratas, à frente dos quais estão os próprios barões da imprensa, com suas fortunas fabulosas derivadas maciçamente de dinheiro público.
Mino é o oposto disso.
Ele combate o bom combate, aquele em cujo centro estão os desvalidos, os excluídos, os invisíveis.
E faz isso com classe, num dos textos mais elegantes que você poderia encontrar em jornais e revistas. Mino é um mestre na arte de pensar e de escrever.
Não bastasse, fala como poucos, como se pode ver nos vídeos semanais em que conversa com o editor do site da Carta, Lino Bocchini, entre goles de bom vinho.
Em 2015, ele foi um dos focos de resistência ao golpe armado pela direita. Desmascarou FHC, Cunha, Aécio, a mídia e tantos outros que lutaram, e ainda lutam, por cassar 54 milhões de votos.
Pelo que fez no ano que se encerrou, e mais ainda pelo conjunto da obra, o DCM elegeu Mino Carta o melhor jornalista de 2015.
Sem Mino a Veja não existiria – e é irônico que hoje você possa perguntar se ele prestou um bom ou um mau serviço ao Brasil com isso, dado o ganguesterismo editorial que é agora a marca da revista.
Mino pôs de pé a Veja, em 1968. Quando percebeu a natureza de seus chefes, Victor e Roberto Civita, se insurgiu. Jamais perdoou Roberto Civita, e eis um dos raros traços negativos de Mino, um rancor à prova do tempo.
Acabou demitido.
Isso o obrigou, dali por diante, a ser seu próprio patrão. Por um breve período, infelizmente, comandou no começo dos anos 80 um jornal dos sonhos, o República, no qual trabalhavam estrelas do jornalismo como Claudio Abramo.
O custo era alto demais para quem, como Mino, não tinha um grande grupo por trás, e o República fechou.
Ele criou depois a IstoÉ, então o exato oposto do que a revista é hoje, assim como a Veja.
Finalmente veio a Carta Capital, alvo desde o início de uma campanha vergonhosa das grandes empresas.
Elas diziam que a Carta era favorecida por anúncios do governo. Quando, enfim, foram revelados os números da publicidade estatal, ficou claro o tamanho da mentira.
A Carta recebia uma fração insignificante dos valores extraordinários que jorravam sem cessar para empresas como Globo e Abril.
Os governos petistas financiaram quem tentou desde logo destruí-los, e deixaram virtualmente a pão e água quem defendia não a eles — mas a ideia de uma sociedade igualitária.
Mino jamais esmoreceu.
Por tudo isso, é o Jornalista do Ano.
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