Opinião: criatividade na crise vai garantir o carnaval de rua no Rio de Janeiro.
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O carnaval de rua do Rio de Janeiro já está arrastando foliões em todas as partes da cidade. Até o dia 14 de fevereiro serão 505 blocos autorizados pela Prefeitura, 49 a mais do que no ano passado. Como alguns blocos vão sair mais de uma vez, a cidade vai ter 650 desfiles oficiais, além dos desfiles das Escolas de Samba na Marquês de Sapucaí.
A expectativa da Secretaria Municipal de Turismo do Rio é a de que o Carnaval de Rua da cidade atraia mais de 1 milhão de turistas este ano, injetando cerca de R$ 3 bilhões na economia do Rio de Janeiro.
“Não é muito fácil de entender. Na verdade não é o número de foliões que vem crescendo, mas sim o número de agremiações. Virou moda na cidade. Virou moda ser dono de um bloco. Botar um bloco na rua hoje não é uma coisa fácil, exige uma série de autorizações, mas criou-se um modismo aí. Todo mundo quer ter o seu próprio bloco, com seu grupo de amigos, e, para completar e piorar o cenário, os artistas também viram no formato bloco uma forma de se promover. Isso cria hoje um cenário em que é preciso começar a separar as coisas. Nem tudo que está na rua é bloco. Existem palcos, apresentações em locais fixos que usam o nome de bloco. Então estamos aí com um cenário novo, cheio de questões que a gente vai ter que trabalhar.”
Em ano de crise, Rita Fernandes diz que os blocos estão precisando usar de muita criatividade para driblar a falta de patrocínios e verbas públicas para garantir o carnaval nas ruas do Rio. Somente na Sebastiana, a crise reduziu em 30% o apoio institucional que costuma receber.
“A crise afetou a todos nós. As marcas e as empresas estão com um pouco mais de cautela em relação ao uso do dinheiro. O curioso é que, mesmo em um cenário de crise, esse número de blocos aumenta. Já existe uma limitação e os blocos estão batalhando pelo dinheiro. Mesmo assim, tem mais bloco na rua. Eu acho que o caminho agora é sermos criativos. Usar outras formas de fazer renda e de conseguir apoio para o bloco desfilar, como vender camisetas, fazer festas, fazer ensaios, passar o livro de ouro entre os comerciantes e vizinhança da redondeza. Buscar outras formas de colaboração. Com certeza, vai todo mundo desfilar, porque o carnaval é isso. Sai com menos, sai com mais recursos, corta custos, para se adequar ao valor menor de patrocínio.”
Ao comentar a alta do dólar e a consequente possibilidade do aumento do número de turistas internacionais no carnaval, bem como a de turistas brasileiros, a presidente da Sebastiana afirmou que deverá ser algo muito vantajoso para a Prefeitura. Rita Fernandes lamentou, no entanto, que não haverá repasse de nenhuma parte desses lucros para os blocos e os artistas que, afinal, garantem a realização da folia.
“Aos blocos não vai trazer incremento nenhum. Vai só aumentar o número de foliões nas ruas e o trabalho que temos. No caso dos blocos, eu não acho que seja bom. É bom para a Prefeitura, porque vai ter uma arrecadação maior para os hotéis, bares e restaurantes. Quer dizer, você tem um giro de dinheiro na cidade, que é uma coisa muito boa. A Prefeitura e a cidade vão ganhar muito com o carnaval de rua. Mas, ao contrário do que as pessoas pensam, nenhum dinheiro da arrecadação vai para os blocos. Na verdade, não temos nenhuma participação ou nenhum retorno sobre esse dinheiro.”
Este ano, no âmbito dos dos preparativos para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, diversos canteiros de obras ocuparam partes da cidade. Rita Fernandes, entretanto, não acredita que isso afetará a folia, mesmo com a alteração do trajeto de alguns blocos.
“Sempre há um jeitinho. A cidade já estava em obras no ano passado. Todo mundo vai se ajustando e se adequando. Todo mundo sabe que isso é passageiro. Daqui há pouco, a cidade vai ter uma nova configuração e as coisas se acomodam de novo. Alguns locais sofrem um pouco mais com os impactos das obras, como os blocos da Zona Portuária, do Centro da cidade, mas todo mundo acaba se ajustando. O carnaval é orgânico. Ele vai se moldando à realidade e ao momento que estamos vivendo.”
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