Marcos Coimbra: Do ódio semeado à indiferença

Opinião

O antipetismo cresce aquém do imaginado, e o PSDB não consegue se firmar como alternativa
por Marcos Coimbra — na Carta Capital -  publicado 13/01/2016

Thiago Silva/A Folha Notícias
Manifestação-contra-PT
Manifestação em Mato Grosso em agosto de 2015
Em junho de 2015, esta coluna tratou dotamanho que o ódio ao PT alcançou na sociedade brasileira. Baseava-se em pesquisa do Instituto Vox Populi realizada em maio, que mostrava que 12% da população adulta afirmava que “detestava” o PT, quando perguntada a respeito de seus sentimentos em relação ao partido.
A proporção era expressiva, pois um repúdio desse nível está além do que consideramos normal. Nossa cultura política desvaloriza o conjunto dos partidos e tende a tratar a todos como igualmente desmerecedores de crédito. Por isso o ódio específico ao PT sobressaía.

O Vox Populi voltou ao tema em nova pesquisa, concluída na segunda quinzena de dezembro. Desta feita, incluindo uma pergunta análoga a respeito dos sentimentos quanto ao PSDB.
Comparando os resultados de maio e dezembro, vemos que o ódio ao PT teve uma pequena expansão: os que o “detestam” foram de 12% a 16%. Um aumento tão exíguo que, considerando a margem de erro de 2,5% estimada para a pesquisa, sequer se poderia afirmar com segurança que tivesse acontecido.
Visto, no entanto, em conjunto com o acréscimo da proporção dos que “não gostam do PT, mas sem detestá-lo” (que foi de 19% a 21%), percebemos que, nesses oito meses, a aversão ao PT cresceu. A rejeição não aguda subiu 2 pontos porcentuais e a intensa 4, o que fez com que a soma passasse de 31% para 37%.
A primeira reação ante esses números é de surpresa pela tenuidade. Se levarmos em conta o que aconteceu de maio a dezembro, é extraordinário que o antipetismo continue a mal ultrapassar um terço da população. De um lado, isso aponta para a solidez das identidades partidárias, sugerindo como resistem aos desgastes conjunturais.
De outro, muito revelam a incapacidade do discurso oposicionista de conseguir convencer a maioria do País, apesar da militância cotidiana de todas as suas facções e, em especial, da “grande” imprensa. 
Se lembrarmos que o antipetismo crônico na opinião pública nunca foi menor que 33%, vemos que o intenso desgaste a que o PT, suas lideranças e o governo Dilma Rousseff vêm sendo submetidos desde 2012 teve consequências pouco expressivas. O saldo de mais de quatro anos de esforço concentrado das oposições é parco.
Dilma
Se o antipetismo quase não cresce, diminui a proporção dos que simpatizam com o partido (Paulo Pinto/ Agência PT)
Mas a comparação entre as duas pesquisas revela um dado preocupante para o PT. Se o antipetismo, a rigor, quase não cresce, diminui a proporção dos que simpatizam com o partido.
A soma dos que se dizem “petistas” com os que “gostam, mas não se sentem petistas” caiu de 29% em maio para 21% em dezembro.
Claro que se ampliou a fatia dos que “não gostam nem desgostam” do PT, que foi de 35% para 38%. O que sugere que os 8 pontos porcentuais que o partido perdeu em sua base se distribuíram: subiu o antipetismo e cresceu a indiferença.    
Voltando à imagem clássica de um Brasil dividido em três pedaços iguais em sua relação com o PT, constata-se que o cenário mudou. Em cada dez pessoas, quase oito são hoje antipetistas ou indiferentes ao partido, enquanto os petistas tornaram-se dois. É uma mudança relevante. 
E o PSDB? Na pesquisa de dezembro, foi feita pergunta idêntica à aplicada a respeito do PT, com as mesmas opções de resposta. A pesquisa de maio não tratou do assunto.
Consideraríamos “peessedebistas” os 14% que advêm da soma dos que assim se definem com os que “gostam, mas não se sentem” tucanos.
No polo inverso, temos 6% que “detestam” o PSDB e outros 19% que “não gostam do PSDB, mas sem detestá-lo”, que perfazem 25%. Restam 61%, os que “não gostam, nem desgostam” do PSDB.
Se a queda do PT fica aquém do que se poderia imaginar, vemos que o PSDB não se constituiu como alternativa. A indiferença é o que melhor caracteriza o modo como é visto pela maioria da opinião pública.
Pensando nos dois partidos, a pesquisa mostrou que 22% da população “detesta” um ou outro. O que não pode ser ignorado, pois haver quase uma em cada quatro pessoas que odeia um deles é preocupante.
A única coisa boa é que não se tem notícia de violências e arbitrariedades cometidos pelos que detestam o PSDB.
Quanto aos antipetistas, encorajados pelas lideranças tucanas e acobertados pela “grande” imprensa, continuam a desfechar seus ataques e agressões contra aqueles que veem como inimigos.

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