Flavio Aguiar: Destaques da agenda internacional na semana de 03 a 10 de janeiro de 2016

A Arábia Saudita e o Irã são as principais potências petrolíferas da OPEP e um conflito entre as duas nações impacta a economia do mundo todo.


Por Flavio Aguiar, de Berlim - na Carta Maior - 04/01/2016
Erin A. Kirk-Cuomo
Arábia Saudita x Irã.
 
O começo da semana vem marcado pelo rompimento de relações diplomáticas da Arábia Saudita para com o Irã. O governo de Ryad deu 48 horas para que os diplomatas iranianos se retirem do país. O recrudescimento da proverbial tensão entre os dois países se deu depois que o governo saudita executou 47 condenados à morte, entre eles o xeque e líder religioso Nima al-Nimr, da fé Shia, acusado de terrorismo. A execução provocou reações imediatas em todos os países muçulmanos onde há pessoas da fé Shia. Em Teerã uma multidão enfurecida invadiu um anexo da Embaixada Saudita, que foi incendiado e saqueado.
A polícia reprimiu os invasores e o presidente Hassan Rouhani prometeu prendê-los, mas a Arábia Saudita aproveitou o episódio para provocar a ruptura. Num outro desenvolvimento, a Arábia Saudita anunciou o fim da trégua com os rebeldes Houthis no Iêmen, que são apoiados pelo Irã. Para o governo de Ryad a nova posição do Irã, com o acordo sobre seu programa nuclear e sua inclusão nas negociações de paz sobre a Síria, em Viena, tornou-se insuportável do ponto de vista político e também do econômico, uma vez que ele se tornará atraente para empresas ocidentais e será também um forte concorrente de Ryad quanto ao petróleo. A Arábia Saudita e o Irã são as principais potências petrolíferas da OPEP. A situação se complica para os Estados Unidos e seus aliados que não querem recuar na reaproximação com o Irã, mas ao mesmo tempo têm no regime despótico da Arábia Saudita um de seus principais aliados na região, ao lado do Egito e de Israel. Também é bom lembrar que um conflito desta natureza entra na cesta de valores dos candidatos republicanos nos EUA, para a eleição de 4 de novembro próximo, que prometem jogar o acordo com o Irã no lixo.

 
China.
 
Numa medida inédita, as bolsas de valores chinesas foram fechadas na segunda-feira, por ordem governamental, depois de quedas vertiginosas em suas pontuações, sobretudo em Xangai e Hong-Kong, com reflexos no mundo inteiro. O próprio conflito no Oriente Médio, entre Ryad e Teerã, foi apontado como uma das razões ara esta retração, cujo alcance ainda não se pode determinar, embora tenha efeitos catastróficos para as bolsas e a economia mundiais. 


 
Europa em alerta vermelho permanente.
 
Especialistas em segurança comentaram que a suspensão de eventos, como ocorreu em várias metrópoles europeias durante o Ano Novo, e a sensação de insegurança diante de possíveis ameaças terroristas serão a nova ‘normalidade’ europeia daqui para frente. Também comentaram que a situação tende a propiciar o surgimento de ‘ondas’ de histeria e paranoia coletivas com a presença dos refugiados potenciando tais sentimentos. Dando corpo a estes temores, a Suécia anunciou que passará a exigir documentos com fotos dos viajantes que se dirijam ao pais desde a Dinamarca, coisa que não ocorria desde os anos 50 do século passado. A medida visa coibir, de algum modo, as viagens de refugiados ilegais que queiram entrar no pais.
 
México.
 
A prefeita Gisela Mota, da cidade de Temixco, ao sul da capital, foi assassinada por quatro pistoleiros em sua residência um dia depois de assumir o cargo. A prefeita, do partido de esquerda Revolução Democrática, se notabilizara pelo combate a grupos de narcotraficantes. O governador da província de Morelos, onde fica a cidade, Graco Morales, do mesmo partido, se comprometeu a elucidar o caso. Como parte das investigações, dois suspeitos foram mortos pela policia num tiroteio e outros três foram presos, dentro de uma van, onde foram encontradas várias armas que podem estar relacionadas ao crime.
 
Itália.
 
A ministra da Saúde italiana, Beatrice Lorenzin, determinou uma investigação depois que quatro mulheres grávidas, entre sete e nove meses, morreram em hospitais do país em menos de 48 horas. A Itália tem uma das menores taxas de fatalidades em partos do mundo: 4 casos em cada 100 mil. Há suspeitas de falta de atendimento adequado em pelo menos dois dos casos registrados.
 
Israel.
 
As autoridades israelenses indiciaram 4 acusados pela morte, em incêndio criminoso, de três palestinos, sendo que uma das vítimas do ataque, perpetrado durante a noite, tinha 18 meses. As outras vítimas fatais foram a mãe e o pai da criança. Um irmão desta, de 4 anos, sobreviveu. Os indiciados também foram acusados de pertencerem a uma organização terrorista israelense.
 
Espanha e Catalunha.
 
Na Catalunha, o governador-presidente da província autônoma, Artur Mas, do partido de direita Convergencia i Unió, perdeu o apoio do partido de esquerda Candidatura d’Unitat Populare (CUP), o que torna impossível sua permanência no cargo. Novas eleições devem ser chamadas para março. O CUP pode vir a formar um novo governo com o Podem, versão catalã do Podemos nacional, que venceu a recente eleição para o Parlamento Nacional na província. Ambos defendem a realização de novo plebiscito sobre a independência. Por outro lado, até o momento, nenhum partido presente no Parlamento conseguiu liderar a formação de uma coalizão, o que pode levar a novas eleições nacionais na primavera.
 
Os brutos não só não amam como estão à solta.
 
Para quem ainda não viu o famoso faroeste dirigido por George Stevens em 1951 e lançado em 1953, ‘Shane”, que em português recebeu o lamentável título de ‘Os brutos também amam', há uma oportunidade de acompanhar algo parecido ao vivo e a cores nesta semana, nos Estados Unidos.
 
O faroeste se passa no estado de Wyoming e foca o conflito entre sitiantes e pecuaristas que, como de costume nestes filmes, é resolvido a bala. O conflito termina opondo dois pistoleiros, o mocinho, Shane, vivido por Alan Ladd, e o bandido, Wilson, vivido por Jack Palance. Van Hefling, Jean Arthur, Emile Meyer, Ben Johnson e Brandon deWilde, que encarna um guri chatíssimo, completam o grande elenco, que conta com outros atores de relevo na tradição do faroeste.
 
Pois bem, no quase vizinho estado de Oregon, rancheiros de um movimento de extrema-direita estão ocupando, fortemente armados, um refúgio para nevascas, em protesto contra a prisão de dois deles. Estes dois foram detidos por tocarem fogo em propriedade pública, sob alegação de ‘protegerem seus rebanhos’ (?). Os ocupantes realizaram uma marcha pela cidade e  logo depois partiram para a ação. No começo reprimiram até a presença da mídia que foi ao local, mas depois se desfizeram em sorrisos e amabilidades, escondendo as armas. Os ocupantes, que chegam a uma dúzia, estão cercados por policiais, que estão evitando a presença de outras pessoas na área. Além disto, lançam mãos dos tradicionais argumentos sobre ‘liberdades individuais’ e ‘oposição a ações descabidas do Estado’, etc.
 
Não perca - o filme, quero dizer, se não viu, ou se viu, reveja. Ele é classe A.
 
Já este outro filme, do Oregon, é classe C ou D, quem sabe E, e esperemos que termine sem vítimas.



Créditos da foto: Erin A. Kirk-Cuomo

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