Fernando Brito: Marceu Vieira. O cara que eu mais invejo e que você vai ver porque

marceu
Há uma velha regra, do Graciliano Ramos, de que não se deve usar o abominável pronome “eu” em bons textos.
Vou quebrá-la, hoje, e escrever cheio de “eus”.
Mas não se assuste, não é um “eu” vaidoso – todo mundo é vaidoso, mesmo que o negue, e jornalista escreve a lambe a cria, seu texto, como a mais bela criatura da face da terra, até o o pobre coitado vá embrulhar peixe no dia seguinte.
Sic transit gloria mundi.
É um “eu” invejoso, miúdo e, paradoxal que pareça, feliz por isso.
Porque quem ama a escrita, não como “bela arte”, mas como ferramenta delicada a descrever e aplacar a dor, a solidão e a canseira humana.

Invejo, confessadamente, a capacidade e a delicadeza de Marceu Vieira de fazê-lo e acho que é um presente para o Rio de Janeiro e a humanidade que, finalmente, ele tenha tirado da toca o magnífico cronista que é.
Quem se dispõe a olhar e ver como irmão o bebum da Lapa, o garoto do sinal, o vendedor de balas, passageiro do trem, que reconhece e sente a  humanidade de todos eles, merece essa carinhosa inveja de quem anda no meio da brutalidade da política há tantos anos como eu.
Marceu é destas figuras que honram a tradição carioca de cronistas, que tiveram e têm a ventura de viver uma cidade, na linguagem de hoje, “junta e misturada” e ele próprio o é, vindo lá de Morro Agudo, da Baixada, saído e sempre voltado.
Não vou reproduzir seus textos, um novo e um antigo, com que inaugura o seu blog. Vá lá e ensine a este talento recalcitrante como o que escreve emociona e tem valor. E pode mandar ele escrever mais, porque foi isso o que fiz, outro dia, numa conversa de Facebook:
– Marceu, estamos precisando de humanidade. Há um déficit terrível de humanidade!
Blog do Marceu, lançado hoje, uma gota que seja, é das de água mais límpida e necessária.
E antes que alguma mente miúda ache que eu devo algo ao Marceu, digo logo que devo, mesmo: um bocado de fé na capacidade do ser humano de ser bom. No que se escreve e no que se é.

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