Economista analisa o impacto do aumento da Selic

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no GGN - 12/01/2016

Jornal GGN - A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, acredita que haverá um aumento da taxa Selic, e que sua elevação na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) traria um custo muito alto e desvantajoso diante do benefício. Em entrevista ao Valor, Latif analisou as dificuldades encontradas pelo Banco Central para controlar a inflação e suas expectativas em relação aos preços administrados em 2016.
 
Leia a entrevista completa ao Valor:
 
Valor: O Banco Central vai subir os juros na próxima reunião? 
 
Zeina Latif: Tudo indica que sim. Eles têm dado todos os sinais nesse sentido. Você pega a carta [que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, enviou para o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa] e parece um livro-texto de economia, com todas as explicações para a inflação alta e como pretendem combatê-la. 
 
Valor: Mas eles deveriam subir os juros agora?
 
Zeina: Eu acho o seguinte: a política monetária perdeu eficácia, está perdendo a relevância. Entendo o BC querer subir os juros para preservar alguma credibilidade, tentar segurar as expectativas inflacionárias. Mas também entendo que, com essa confusão fiscal, o melhor é não fazer nada. Pode ser uma questão de defesa do Banco Central, mas não vai funcionar. A relação custo-benefício não compensa. Estamos em um regime fiscal que está ficando perto de um colapso. Se o BC mantivesse a taxa, não criticaria.
 
Valor: Mas o que a sra. acredita que deveria ser feito, então? 
 
Zeina: Seria compreensível [o BC] não fazer nada. É uma escolha difícil. O que dá para dizer é que a eficácia da política monetária está comprometida. Talvez subir os juros seja uma medida inócua. Essa é a palavra: inócua. Esse é o meu temor, que a relação-custo benefício não seja boa.
 
Valor: Quais os efeitos que um aumento teria na atividade? E na dívida pública? 
 
Zeina: Afeta as duas coisas. Com um mercado de crédito bastante enfraquecido, obviamente você reforça esse quadro se subir os juros. Seria melhor ir devagar [com o aumento dos juros]. Espero em 2016 uma recessão maior do que em 2015, porque a gente está falando de empresas com dificuldades.
 
Valor: Ainda maior do que no ano passado?
 
Zeina: Sim, é recessão em cima de recessão. A oferta está sendo afetada, não é só a demanda. Com isso, o potencial da economia também vai encolhendo. A crise vai ser prolongada e forte. Não é um ciclo normal, é uma coisa mais com cara de depressão. A Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio] indica que a situação do emprego começou a piorar só em setembro. Ou seja, o mercado de trabalho ainda tem um ajuste grande pela frente. É difícil. A indústria, por exemplo, está em espiral de queda. Todo mundo está contaminado. Pouco setores conseguem ter performance positiva. Quando isso afeta a situação financeira das empresas, a crise vai para outro patamar. Isso é muito mais grave.
 
Valor: E a inflação, como deve ficar em 2016? 
 
Zeina: O que eu noto nos meus modelos estatísticos é que a inflação está sempre vindo acima do que o modelo previa. Há um aumento da inércia, do repasse, que surpreende. Os preços livres não estão recuando como deveriam estar. A pressão dos administrados não vai ser igual a de 2015, como a gente sabe. Mas meu medo é que preços livres não cedam como deveriam. Acho que vamos ficar com a inflação muito acima do teto da meta.

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