O poste e o Porsche


porsche
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Um pobre – em geral mulato ou negro –  pego com drogas é “apresentado” à imprensa pela polícia, muitas vezes puxado pelos cabelos para mostrar o rosto.
É um “privilégio” que não é para todos. Muito bem, diz a mídia, cada vez mais parecida com os “escrachaaaa” que ocupam as concessões públicas de televisão. Liberdade, dizem, orgulhosos.
Ontem, no início da tarde, um imenso engarrafamento se formou, por várias horas, na Rodovia dos Bandeirantes, próximo a Jundiaí, infernizando a vida de milhares de pessoas.
Tudo normal, acontece.

O que não é normal é que os dois carros fizessem parte de um grupo de uma dúzia de carrões que disputavam um “pega” – eu não consigo chamar de “racha”, que pra mim será sempre uma pelada de futebol improvisada – em plena rodovia.
Corrida com direito a imagens aéreas, filmadas de um helicóptero alugado que sobrevoava os intrépidos ases do volante, passando em altíssima velocidade ao lado de carros com adultos e crianças.
A polícia deteve os motoristas dos Porsche batidos e o piloto do helicóptero “globocop” da turma de riquinhos irresponsáveis.
Ninguém, porém, os “apresentou à imprensa”.
Muito menos, claro, puxou-lhes os cabelos para que se visse o rosto assustado.
Como os olhos do menor humano, ao “brinquedinho” tamparam-lhe a placa para “preservar a identidade”.
Nem mesmo os nomes foram publicados e docilmente a imprensa o aceitou.
São os reizinhos, filhos dos homens e mulheres bem postos, que querem deitar regras de como se deve governar um país e nem mesmo educar os filhos para respeitarem a vida alheia conseguiram.
Quem já sofreu, como eu, um acidente de automóvel jamais estaria aqui tripudiando do infortúnio de quem quer que fosse, pobre ou rico, que tivesse em meio a uma colisão acidental.
Mas aquilo não foi uma colisão acidental, foi um crime.
Porque organizar uma corrida de automóveis em uma rodovia movimentada, com direito a imagens aéreas das proezas não é acidente. É crime, não é infortúnio.

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