O golpe do golpe: se Temer trai agora, por que não trairia seus novos aliados?
Postado em 11 dez 2015
Assim como os pássaros nasceram para voar e a PM para bater, conspiradores nasceram para conspirar. Se Michel Temer faz o que faz agora, em plena luz do dia, o que o impediria de trair seus novos aliados do golpe?
Eduardo Cunha será preso cedo ou tarde, mas conta com o compadre Michel na presidência. O ex-vice decorativo adquiriu uma desenvoltura invejável. Além da pregação ininterrupta da necessidade de um governo de “união nacional” — sob sua tutela —, Temer tem conversado com governadores que são contra o impeachment.
Na sexta, 11, deu uma palestra no IDP (Instituto de Direito Público), em São Paulo, com Gilmar Mendes. Falou que “as forças motrizes do desenvolvimento decorrem da conjugação do capital e do trabalho. Se estiverem harmonizados, colaboram com o país e com o governo, por isso toda iniciativa governamental deve priorizar a iniciativa privada”. Mencionou, ainda, a esperança de instaurar o que chamou de “semiparlamentarismo”.
Gilmar o elogiou: “Temer é um excelente nome para as funções que exerce. Seria um ótimo presidente do Brasil.”
O PSDB fechou questão a favor do impeachment numa reunião com a presença de FHC. José Serra virou articulador político de olho num ministério, Geraldo Alckmin abandonou a costumeira cautela, Aécio parece ter sossegado o facho com relação à convocação de novas eleições em 2016.
O acordo dos tucanos em torno de Temer envolve seu compromisso de conduzir o país até 2018 e, chegando lá, entregar a encomenda e ir para casa.
Ainda que Temer esteja prometendo isso e seja conveniente ao pessoal acreditar, ficou mais clara do que nunca sua índole. Depois das cenas absurdas a que estamos assistindo de iniquidade institucional, seus colegas jamais poderão se surpreender quando MT mudar de ideia daqui a três anos e se candidatar.
O PMDB tem planos, Temer tem 75 anos e está com sangue nos olhos. “Se é verdade que as conspirações são, por vezes, montadas por pessoas de espírito, são, contudo, executadas por animais ferozes”, disse o escritor francês Antoine de Rivarol.
Estamos cercados de animais ferozes loucos para se devorar uns aos outros, e o chefe da matilha é autor de cartas constrangedoras e autovazáveis.
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