Fernando Brito: O interrogatório do japonês
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Li a matérias sobre o depoimento de Lula à Polícia Federal.
A história é terrível.
Os delatores, que acusam todos de tudo, não acusam Lula de nada.
Lula é indagado sobre ser ou não ser amigo de alguém.
Ou sobre ter nomeado funcionários de carreira, com 20 anos de casa, que tinham indicação política de partidos aliados.
Não se apura ato algum que, eventualmente, possa configurar um ilícito pessoal.
Uma vantagem, um dinheiro, um favor recebido?
Não.
Um ato de governo praticado? Não.
As relações pessoais de Lula, ainda que pudessem ser melhores, não são problema de alguém?
Alguém chamou Aécio Neves para depor sobre o suposto “favor” de André Esteves, o banqueiro solto hoje, em sua lua-de-mel?
Não, e nem deveria.
Diferente seria se houvesse indícios de que ele tivesse praticado algum ato em favor de Esteves, não é assim?
No mesmo raciocínio os delegados da Polícia Federal poderiam ser interrogados sobre porque colocam, na linha de frente de suas operações, o “japonês bonzinho”, que tem uma condenação por contrabando, posteriormente anulada por razões processuais?
“Delegado é amigo de agente que foi condenado”.
“Candidato do PSDB foi hóspede de banqueiro corruptor”.
São, certamente, frases possíveis dentro de uma acusação sobre algo real, factual.
No máximo, a serem citados para mostrar que tinham relações pessoais.
Mas motivo para interrogatório?
Para dizer o que?
Se querem, de fato, inculpar Lula, senhores policiais e promotores, achem fatos.
Do contrário, é política.
E não se faz política com polícia.
Pois isso a torna polícia política.
Dispenso-me de citar os nomes das polícias políticas que infestaram décadas de autoritarismo, aqui e no mundo.
Aqui, porém, com uma característica especialíssima, uma verdadeira jabuticaba que só no Brasil existe.
Um polícia política contra o governo.
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