Paulo Nogueira: Faz sentido um governador ter avião no Brasil?
Postado em 20 nov 2015
Nunca existiu avião privado para o primeiro ministro britânico.
O assunto de tempos em tempos é discutido. Tony Blair queria comprar dois jatos para deslocamentos oficiais – atenção: oficiais – dos principais integrantes do governo britânico.
Seu sucessor, Gordon Brown, abortou o projeto.
Outra vez o assunto é discutido, agora, entre os ingleses. A resistência é grande. As pessoas acham que é uma extravagância, uma ostentação, algo que distancia ainda mais o governo do povo.
Adicionalmente, nestes tempos de austeridade, os britânicos consideram que não cai bem aos olhos da opinião pública comprar um avião para a elite dirigente.
Depois de uma acalorada discussão, o premiê conseguiu, agora, emplacar um jato privado para ele e seus principais auxiliares.
Para uso estritamente oficial, naturalmente.
Falei disso tudo em face das informações trazidas por Kiko Nogueira, do DCM, a respeito do uso e abuso do jato de Minas por Aécio.
A lista de gente que voou por conta do dinheiro público mineiro impressiona. Vai de FHC a barões da mídia, de parentes a amigos de Aécio.
Quando você lembra do “choque de gestão” tão apregoado por Aécio a vontade é gargalhar.
Aécio nunca foi fiscalizado, nem pela imprensa e nem pela Justiça, e por isso pôde cometer as barbaridades que cometeu sem risco de ser desmascarado.
A mídia sempre o protegeu. Ele conseguiu falar sem cessar em meritocracia na campanha eleitoral mesmo nomeando copiosamente amigos e pessoas da família para cargos públicos em Minas.
Mas há uma questão que transcende Aécio.
Pense nos britânicos e agora pense em nós. Faz sentido um governador ter avião privado? Somos tão ricos assim? Não haverá aplicações sociais melhores para o dinheiro?
O fato é que o Brasil demanda um choque de frugalidade, de simplicidade. Alguma coisa que seja inspirada em Mujica ou no Papa Francisco.
Vigora, em todas as esferas do poder, uma cultura abjeta de ostentação e de utilização sem freios do dinheiro público.
Salários altos, mordomias infindáveis, apartamentos funcionais, carros de alto padrão pagos pelo contribuinte e substituídos frequentemente – é uma orgia com o dinheiro do contribuinte.
Países ricos como os escandinavos são extremamente comedidos no que oferecem a suas autoridades. Juízes pagam sua condução e seu apartamento.
Um país pobre como o Brasil vai na direção oposta.
Isso, entre outras coisas, gera raiva e desconfiança nos cidadãos comuns.
Tony Blair não conseguiu seu avião. David Cameron lutou tenazmente para que o seu fosse aprovado em meio a uma enxurrada de críticas.
Enquanto isso, no Brasil, é tido normal que um governador tenha o seu brinquedinho que voa.
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