Nakano critica remuneração no ‘overnight’ e defende mudanças nas regras do Banco Central

nakanofotoGUSTAVOBEZERRA
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O economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo (EESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), traçou para a Bancada do PT nesta semana, em Brasília, um detalhado diagnóstico acerca da economia brasileira e indicou possíveis caminhos para sanar problemas estruturais que contribuem com o momento de dificuldade enfrentado pelo País. Segundo o professor, entre os principais desafios destacam–se a consolidação de diretrizes que assegurem o crescimento de longo prazo e o enfrentamento do desajuste fiscal.

Nakano apontou ainda quais seriam as reformas prioritárias para superar a crise fiscal e retomar o crescimento, citando, entre elas, a reforma das regras operacionais do Banco Central (BC). O principal objetivo de mudar as regras, segundo o professor, seria estancar a drenagem financeira, trazendo a taxa de juros para níveis internacionais.
O economista disse considerar um “absurdo total” o fato de o Banco Central pagar a taxa Selic [de longo prazo] no overnight – onde estão aplicados mais de R$ 900 bilhões, que rendem por ano cerca R$ 120 bilhões, quantia superior ao orçamento da União para o setor da saúde em 2015.
“Pagar a mesma taxa no overnight – que tem liquidez instantânea e que os bancos podem ganhar os juros no mesmo dia – é total absurdo. Você faz com que toda a curva de juros do Brasil suba. Isso precisa acabar. E o nosso Banco Central tem que fazer o que todos os bancos centrais fazem no restante do mundo. Assim, nossa taxa de juros não seria de 14%, seria infinitamente menor, porque sobra de caixa de banco não é investimento, não precisa ser remunerada”, alertou Nakano.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO – O economista citou ainda o forte processo de desindustrialização do País como uma das causas da atual crise econômica. O Brasil, de acordo com dados apresentados por Nakano, tinha em meados da década de 80 uma indústria com participação da ordem de 35,8% no Produto Interno Bruto (PIB), mas, a partir de então, apresentou uma tendência de queda – caindo para 29% do PIB em 1993, 19% em 2004 e , finalmente, 9,1% em 2015. Para reverter esse quadro, o economista disse ser necessário mudar as políticas cambial, de juros e a tributária.
As altas taxas de juros e o real sobrevalorizado, aliados à atual política tributária, constituem o que Nakano chamou de sistemas de drenagem de renda dos setores produtivos. “O sistema de drenagem financeira, por exemplo, impõe ao País uma das mais altas taxas de juros do mundo, prejudicando o setor produtivo. A consequência é clara: o retorno é relativamente baixo, e o custo de capital é muito alto”.
Ele explicou também o prejuízo causado à indústria quando o câmbio está apreciado. “Isso torna mais baratas as importações, e os únicos que ganham são o setor de serviço e a construção civil, que não têm concorrência, podem elevar seus preços e conseguem absorver a pressão de salários repassando-a para os custos. Ou seja, o País acaba protegendo o setor (serviços) que não sofre concorrência internacional, enquanto penaliza o que sofre (indústria). Na verdade, está praticando uma política ao revés”, detalhou.
Nakano chamou ainda a atenção para o significado estrutural das altas taxas de juros para o País, relacionando-as ao crescimento. “Para o Brasil voltar a crescer 4% ou 5%, precisaria investir pelo menos 25%”, disse. Mas, para isso ocorrer, ele defendeu que, juntamente com o aumento da taxa de investimento, o Brasil deveria praticar um ajuste fiscal de longo prazo, que envolveria o desafio de fazer o consumo do governo e o consumo privado das famílias crescerem menos que o PIB.
Ou seja, para ele o Brasil precisaria inverter sua lógica de crescimento, que teria que se desvencilhar do consumo e se sustentar eminentemente no investimento. “Tudo isso num longo prazo, não dá pra fazer do dia pra noite. A ideia não é reduzir o consumo, ele pode continuar crescendo, mas não deve crescer mais que o PIB. Com o PIB crescendo mais, é possível abrir espaço para investir mais em infraestrutura, por exemplo. É um problema aritmético. Infelizmente é a dura realidade que temos que enfrentar. Não tem outro caminho”, explicou.
A reunião com o professor Nakano foi realizada na quarta-feira (18), como parte de uma série de encontros promovidos pela Bancada com acadêmicos e especialistas em economia a fim de discutir alternativas para a retomada do crescimento econômico com justiça social. A Bancada elaborou um documento com propostas tributárias e não tributárias para o País. O documento, consolidado pelo líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), e pelos deputados Afonso Florence (PT-BA), José Mentor (PT-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Vicente Cândido (PT-SP), foi entregue ao professor Nakano.
Equipe PT na Câmara
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara
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