Michael Löwy: Não à guerra das civilizações
Michael Löwy comenta as repercussões dos atentados de Paris
Por Michael Löwy.
Tradução de Mariana Echalar.
Só podemos reagir com horror à loucura assassina dos atentados jihadistas em Paris. Eles são uma “represália” aos bombardeios franceses na Síria? Ou uma punição à França “imoral e descrente”? Poderíamos discutir ao infinito, mas o essencial não é isso. Esses massacres terão como resultado político o fortalecimento da extrema direita racista e islamofóbica; eles agravarão a situação da população muçulmana na França, que em sua esmagadora maioria não tem nenhuma afinidade com o jihadismo; e dificultarão ainda mais a necessária acolhida dos refugiados, em especial os da Síria. Podemos nos perguntar se não é exatamente esse o objetivo dos mandantes do crime: criar condições para uma “guerra de civilizações” entre uma Europa racista e um Islã jihadista. A única bússola que pode nos orientar neste momento é não aceitar cair na armadilha, mantendo o rumo do antirracismo e da solidariedade com os refugiados.
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Confira os vídeos do curso Sociologia Marxista da Religião, de Michael Löwy na TV Boitempo
Em tempos acirramento de fundamentalismos pra todos os lados, a Boitempo acaba de lançar o aguardado O absoluto frágil, ou, porque vale a pena lutar pelo legado cristão, de Slavoj Žižek, um ensaio explosivo que defende uma aproximação entre o cristianismo e o marxismo num projeto político emancipatório renovado. Nas palavras do esloveno: “O primeiro paradoxo da crítica materialista da religião é este: às vezes é muito mais subversivo destruir a religião a partir de dentro, aceitando sua premissa básica para depois revelar suas consequências inesperadas, do que negar por completo a existência de Deus.“
Neste contexto, que tal conferir os vídeos do curso “Sociologia marxista da religião“, ministrado por Michael Löwy, que acabamos de publicar na TV Boitempo? São 7 aulas completas apresentando a contribuição de alguns dos maiores nomes da tradição marxista (com ênfase aos “marxistas heterodoxos”) na compreensão do fenômeno religioso: Marx, Engels, Benjamin, Bloch,Gramsci, E.P.Thompson e Hobsbawm. Para além da fórmula da religião como “ópio do povo”, o sociólogo franco-brasileiro fornece elementos para compreendermos a dialética entre os elementos emancipatórios e os opressivos das religiões. O curso foi realizado no final de 2014 no curso de pós-graduação em sociologia da USP e foi viabilizado pelo Programa Escola de Altos Estudos da CAPES.
1. A sociologia marxista da religião
A concepção da religião como “ópio do povo” é neo-hegeliana; anterior ao marxismo. O estudo materialista histórico da religião como uma das formas da ideologia, em conexão com as relações sociais, só começa com A ideologia alemã(1848).
A concepção da religião como “ópio do povo” é neo-hegeliana; anterior ao marxismo. O estudo materialista histórico da religião como uma das formas da ideologia, em conexão com as relações sociais, só começa com A ideologia alemã(1848).
2. Friedrich Engels como sociólogo da religião
Engels se interessa sobretudo pelas formas revolucionarias da religião, como por exemplo em seu livro “clássico” A guerra dos camponeses (1850), que estuda as bases sociais do movimento anabaptista do século 16 e o papel do teólogo Thomas Münzer.
Engels se interessa sobretudo pelas formas revolucionarias da religião, como por exemplo em seu livro “clássico” A guerra dos camponeses (1850), que estuda as bases sociais do movimento anabaptista do século 16 e o papel do teólogo Thomas Münzer.
3. Walter Benjamin e a religião capitalista
Em um fragmento descoberto recentemente, “O capitalismo como religião“, datado de 1921, Walter Benjamin utiliza uma expressão de Ernst Bloch para analisar, partindo de Max Weber, o capitalismo como religião.
4. Antonio Gramsci: marxismo e religião
Em seus escritos de juventude Gramsci se interessa pelo potencial utópico da religião, mas no Escritos do Carcere seu tema é o papel conservador da Igreja, e em particular dos Jesuítas, na Itália.
5. Ernst Bloch e a religião como utopia
“Ateu religioso”, Ernst Bloch aborda em seus escritos a dimensão utópica da religião; seu estudo sobre Thomas Münzer, teólogo revolucionário (1921) se inspira em Engels, mas da um especial destaque ao milenarismo cristão.
6. E.P.Thompson: a religião dos operários.
Partido dos escritos de Max Weber, o historiador marxista inglês E.P.Thompson estuda o papel do metodismo na submissão dos operários ao trabalho industrial – mas também a efervescência sócio-religiosa contestaria suscitada pelos metodistas dissidentes.
7. Eric Hobsbawm: sociologia do milenarismo camponês
Em seus trabalhos sobre os “rebeldes primitivos”, Eric Hobsbawm descobre o papel subversivo do milenarismo camponês, na Itália e na Andalusia, em fins do século 19.
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Michael Löwy, sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade, Walter Benjamin: aviso de incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (2009), A teoria da revolução no jovem Marx (2012), A jaula de aço: Max Weber e o marxismo weberiano (2014) e organizador de Revoluções (2009) e Capitalismo como religião (2013), de Walter Benjamin, além de coordenar, junto com Leandro Konder, a coleção Marxismo e literatura da Boitempo. Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.
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