Mauricio Dias: Até tu, Michel Temer?
O documento do PMDB intitulado “Uma ponte para o futuro” é uma estocada traiçoeira contra Dilma
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 06/11/2015
Conversa de 2011, mas a afinidade se acentua
Não só a punhalada nas costas é exemplo de traição. Há outros recursos, também traiçoeiros, embora mais sutis, como o recente documento difundido pelo PMDB, de Norte a Sul do País, denominado “Uma ponte para o futuro”, e chancelado porMichel Temer, presidente do partido, como proposta de “debate interno”. O PMDB avisa que fala para dentro, mas fala mesmo é para fora.
O texto é uma comprovação. Parece uma proposta de diálogo. Se for, não é, porém, com a presidenta Dilma. Ela fica de fora, diante dessa convocação destinada, segundo o PMDB, “a preservar a economia brasileira e tornar viável o seu desenvolvimento, devolvendo ao Estado a capacidade de executar políticas sociais que combatam efetivamente a pobreza e criem oportunidades para todos”.
Estocadas traiçoeiras como esta, distribuídas por 18 páginas, não fazem sangrar, mas doem. Num simples passar de olhos no texto é possível perceber as mensagens impertinentes para um governo do qual Temer é vice-presidente e os peemedebistas são, ou deveriam ser, integrantes da base de sustentação no Congresso.
A baixa popularidade de Dilma e do governo, diante de uma crise de inflação e desemprego, estimulou nos aliados a vontade de trair. Eles já não conseguem se desligar do golpismo inserido sub-repticiamente nas propostas do programa feito “em nome da paz, da harmonia e da esperança, que ainda resta entre nós”.
Com o coração e a mente sempre voltados contra o Planalto, o PMDB dispara: “Todas as iniciativas aqui expostas constituem uma necessidade, e quase um consenso, no País. A inércia e a imobilidade política têm impedido que elas se concretizem”. Inércia e imobilidade são algumas das críticas coladas na presidenta pela oposição.
Não há, entretanto, por parte do documento de Temer referência às manobras da oposição, cuja meta, para alcançar a renúncia da presidenta ou o impeachment, é a de impedir que Dilma governe. São duas opções traiçoeiras.
O senador gaúcho Paulo Paim, do PT, farejou no documento a construção de um caminho para o passado: “É só anunciarem que está havendo crise que os setores mais conservadores começam o ataque em cima dos direitos dos que mais precisam”.
Não por acaso, as propostas do PMDB, divulgadas no dia 29 de outubro, convergem para o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicado em O Globo, dois dias depois, onde ele diz: “A saída da crise” requer a formação “de um novo consenso nacional”.
Trata-se “de dar um novo rumo ao país na busca de melhor sociedade futura”. FHC alerta para a “necessidade de um consenso nacional para juntarmos forças ao redor de um caminho mais claro para o futuro”.
É claro, para o ex-presidente tucano, que a solução requer a saída de Dilma. Ascenderia ao lugar dela o vice, Michel Temer, com o compromisso de cumprir o restante do mandato. Ele não disputaria a eleição de 2018. Essa articulação traiçoeira tem o propósito de deixar a porta aberta para o candidato do PSDB ou, quem sabe, para José Serra entrar com o uniforme do PMDB.
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