Luis Nassif: Com a crise política contida, Dilma precisa governar

Na sentença em que autorizou a detenção do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, o juiz Sérgio Moro escreveu que  não há nenhum indício que comprometa o ex-presidente, que provavelmente Bumlai se valia a utilização "indevida" do nome de Lula, sem que ele soubesse.
Significa que a Lava Jato desistiu de caçar Lula? Longe disso.
Três fatores levaram a essa inesperada declaração de isenção de Moro:
Fator 1. O fato de que a perseguição ao ex-presidente já transbordou os limites da prudência, podendo prejudicar a Lava Jato em tribunais superiores. Justamente por isso Moro inseriu sua declaração nos autos, em vez de se limitar a uma declaração à imprensa.
Fator 2. A entrada em vigor da nova Lei de Direito de Resposta que restringe bastante o uso que a Lava Jato vem fazendo de vazamentos e declarações em off -- muitas delas sem base nas delações aprovadas.
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De fato, nos últimos tempos Moro, policiais e delegados da Lava Jato se tornaram os editores de fatos na cobertura diária. As redações limitam-se a receber as informações de forma passiva e a apimentar as informações com suspeitas em off.
Em recente palestra na ANER (Associações Nacional dos Editores de Revista) Moro defendeu o vazamento de informações , mais ainda em períodos eleitorais. Não se pronunciou sobre a capa de Veja na véspera da eleição, com base em informações falsas.
Fator 3. O fato de, finalmente, os alvos da onda de boatos resolverem se defender na Justiça.
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Para efeito de montagem dos cenários futuros, leve em consideração os seguintes dados:
1. A Lava Jato continuará  empreendendo todos seus esforços para pegar Lula. Mas vem poupando os integrantes do governo graças ao trabalho de bombeiro do Procurador Geral da República Rodrigo Janot.  Esses fatos, mais a entrada em vigor da nova Lei de Direito de Resposta reduziram sensivelmente a capacidade da Lava Jato em agitar o ambiente político.
2. É mínima a possibilidade de impeachment do governo. Os resultados da dobradinha PSDB-mídia foram o desgaste do próprio partido junto ao seu eleitorado e aos grupos econômicos, obrigando-o a uma marcha ré.
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Há um conjunto de fatores positivos para 2016:
1.     Há condições objetivas de aprovar o pacote fiscal no Congresso, acenando com algum desafogo para 2016.
2.     Há sinais no horizonte de redução gradativa da inflação a partir do próximo ano, quando começam a sair do índice anual os alinhamentos de preços de 2015 e o desemprego e queda de renda impedem repasses. Com a volta das chuvas, há condições objetivas de redução no valor nominal das contas de luz.
3.     A cada mês que passa mais nítidos ficam os efeitos da desvalorização cambial na balança comercial. Começam a ganhar corpo movimentos de substituição de importações tanto em produtos acabados quanto em insumos.
4.     Há o fator expectativas travando investimentos e consumo. Assim que houver sinais sólidos de que o fundo do poço foi atingido, há condições de uma recuperação rápida do nível de atividade..
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Com a normalização política, se o governo Dilma lograr apresentar uma plataforma mínima de ação, começará a tirar a economia do buraco. Dilma continua sendo a grande incógnita.
Com o céu clareando se saberá até que ponto a presidente aprendeu com a crise. E até que ponto os agentes econômicos acreditarão que ela efetivamente aprendeu com a crise.

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