José Eduardo Cardozo: a porta aberta para o golpismo “institucional”

porteira
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Avessa à pequena política, a Presidenta Dilma Rousseff dá a impressão de não perceber que cabe aos seu auxiliares, neste caso, suprir o que é sua falta de apetite.
Foi assim no caso da permanência de Aloízio Mercadante, cuja substituição – não é preciso nenhuma longa tese para explicá-lo – por Jaques Wagner produziu tantos e tão bons frutos em tão pouco tempo.
Mercadante tem a mesma inapetência e falta de jeito para a política miúda que a Presidente e, portanto, acabava por exponenciar o problema.
O caso do Ministério da Justiça é semelhante e tão grave quanto. Ou mais.
Não se está discutindo as qualidades e a dignidade pessoais de José Eduardo Cardozo.
O que se discute são suas características.
Cardozo não é homem de  se afirmar como chefe.
E é preciso.

Aliás, é preciso mais: é preciso que ele seja chefe e que a Polícia Federal tenha um chefe.
Chefes, nas áreas jurídicas, não definem quem ou o que será investigado ou objeto de medidas judicial, isso é inadmissível, sim.
Mas chefe determina e controla  o como se irá proceder.
Define o método e o método não pode ser o do abuso e o da politização da polícia.
Comandá-la com autoridade faz com que insubordinações, atropelos aos ritos legais, vazamentos e abusos tenham consequências. Nem sempre públicas, mas bem entendidas pela instituição.
Quando não se faz isso num serpentário como são as instituições policiais, as cobras criam asas.
Ao contrário das corporações militares – onde há um núcleo que raciocina estrategicamente, que tem preocupações geopolíticas, visão de desenvolvimento nacional, pelo papel de defensor da integridade e da soberania do país – as polícias são instituições sem brilho, mesquinhas pela sua própria função.
Claro que com exceções, a função policial induz ao exercício do poder autônomo. O de considerar que seu “direito” de investigar, notificar, acusar, indiciar, prender é absoluto.
É por isso que – ao contrário do que ocorre com as Forças Armadas, que se auto-regulam e cultivam a disciplina e a hierarquia como pilares de sua existência- a polícia precisa de um imenso sistemas de freios e contrapesos, cujo fulcro pessoal está fora da corporação, no caso da União, no Ministro da Justiça.
Está evidente que, se não há sabotagem, há leniência do comando da Polícia Federal com a disciplina interna.
É impensável que um policial se exponha fazendo tiro ao alvo na imagem da Presidente da República e só depois de uma grita geral ele tenha sido “camaradamente” punido. E olhem que é econômico dizer isso para quatro dias de suspensão, aplicados um ano depois (um ano depois!!!) de o assunto se tornar público.
Isso, com o perdão da palavra, é um achincalhe!
Agora some o fato de delegados da Lava Jato montarem grupinho político eleitoral no facebook, vazarem o que querem, a sindicância da escuta clandestina arrastar-se há meses sem consequências, e vá imaginando o clima que existe dentro da Polícia Federal.
As cobras estão todas aladas, surfando na “onda” em que a imprensa – óbvio – elevou a Polícia Federal como “salvadora da pátria”.
Este foi e é o problema de José Eduardo Cardozo e é algo que foi além da Polícia Federal, porque transmite para todos os setores com os quais institucionalmente tem de se relacionar – a Justiça, o Ministério Público – a imagem de um fraco, sem comendo, sem decisão, um passageiro dos fato e não um condutor de situações.
Não é o caso de “o Lula não quer”, ou de “o Lula quer indicar o fulano”.
É que Cardozo se tornou uma porteira aberta por onde passa a caravana golpista.
Não conseguirará recuperar a pouca autoridade que teve e muito menos conquistar a que jamais exerceu.
É algo que está evidente há tempos e a cada dia que passa será mais difícil a missão de seu sucessor, porque fechar porteiras pelas quais a boiada já atravessa é muito, muito mais difícil.

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