Jornalistas e radialistas da EBC fazem greve contra reajuste abaixo da inflação e pelo fim de privilégios

A EBC é a empresa pública federal responsável pela TV Brasil, Agência Brasil, Portal EBC, Radioagência Nacional, oito rádios públicas; além de operar serviços como o canal de televisão NBr e a Voz do Brasil
Discussões sobre cláusulas sociais do Acordo Coletivo dos trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) marcaram, hoje (11), o segundo dia de greve da categoria. Desde a 0h de ontem (10), as atividades da estatal, que é responsável – entre outros veículos – pela TV Brasil e Agência Brasil, foram interrompidas para reivindicar um reajuste salarial para os empregados acima da inflação e pelo fim dos privilégios de cargos comissionados da empresa. A greve ocorre nas quatro sedes da empresa em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão.
A proposta da empresa é de 3,5% para os próximos dois anos. “É muito inferior à inflação do período [últimos 12 meses], que está sendo registrada de quase 10%. Se a gente considerar o cenário econômico adverso do ano que vem, podemos ter uma perda salarial de quase 15%”, avaliou Gésio Passos, diretor do Sindicado dos Jornalistas do Distrito Federal (SJDF). Ele destacou ainda que uma pesquisa da entidade apontou que os salários-base da EBC são os mais baixos das empresas públicas. A data-base da categoria é 1o de novembro.

Os empregados reivindicam um aumento salarial conforme o índice de inflação mais um ganho real linear para todos os empregados de R$ 450. Além disso, eles lutam para que as negociações do acordo coletivo sejam realizadas anualmente, e não a cada dois anos, como quer o órgão. A EBC informou, por meio de nota, que, diante da negativa para a proposta de 3,5%, “não restou outra opção à empresa a não ser ingressar com pedido de Dissídio Coletivo junto ao Tribunal Superior do Trabalho (TST)”. Disse ainda que mantém disposição para negociar.
Adesão
A EBC, a empresa pública federal ligada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, possui cerca de 2 mil funcionários e é responsável pela TV Brasil, Agência Brasil, Portal EBC, Radioagência Nacional, oito rádios públicas, como as Rádios Nacional do Rio de Janeiro e de Brasília e as Rádios MEC AM e FM.
Além disso, opera serviços como o canal de televisão NBr e o programa de rádio Voz do Brasil. “A gente quer chamar atenção da sociedade de que a comunicação pública precisa ser valorizada, ser mais autônoma, sem ingerência do governo e para fortalecer a multiplicidade de vozes da sociedade. Isso significa mais democracia”, defendeu Gésio.
De acordo com os grevistas, a paralisação atinge todos os setores da empresa. “Foram cortados jornais no radiojornalismo, o setor de publicidade legal está parado, foi reduzido o horário do jornal da TV, a reportagem da Agência Brasil parou 90%”, exemplificou. Gésio aponta ainda que a EBC tem colocado comissionados sem a capacitação técnica devida e sem registro profissional para operar os equipamentos de TV e de rádio, além estagiários para trabalhar como jornalistas. “Em um momento de greve, está cometendo várias ilegalidades”, apontou. A EBC foi procurada sobre estes pontos, mas não respondeu até a publicação da reportagem.
Corte nos privilégios
Os trabalhadores questionam que, em um cenário de crise econômica, a empresa tenha apresentado como solução a redução no salário sem indicar outras medidas. “Não vimos nenhum movimento na EBC para adequar o seu orçamento para essas questões. A única proposta dela nesse momento de dificuldade é reduzir o salário dos empregados”, criticou.
Ele destacou que a EBC mantém grande número de comissionados com pessoas de fora do quadro de empregados, além dos altos salários. “Um secretário-executivo no ministério, cargo de segundo escalão, ganha menos que um gerente na EBC, que é o quarto escalão na empresa. É isso que a gente não entende”, disse.
Ele citou ainda, entre os benefícios dos gestores, as vagas de garagem pagas pelo órgão e diárias de viagem diferenciada. Um abaixo-assinado redigido pelos empregados, endereçado ao ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, pede o fim dos privilégios na empresa pública. No primeiro dia de mobilização, os trabalhadores fizeram um cabidaço, colocando cabides na entrada da empresa, para expor esta situação.

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