Helena Sthephanowitz: Corre que o “japonês bonzinho” vem aí
Por Helena Sthephanowitz - 28/11/2015
O agente da Polícia Federal Newton Hidenori Ishii é um dos rostos mais conhecidos da Operação Lava-Jato. Todo preso que chega na carceragem de Curitiba, ou é transferido, aparece ao lado do policial na maioria das fotos. Foi assim com José Carlos Bumlai, Marcelo Odebrecht, João Vaccari Neto, Pedro Corrêa, Ricardo Pessoa... Todos com Ishii, que quase sempre está de óculos escuros e colete.
Com a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), a atenção dos leitores se voltou novamente para Ishii por conta do diálogo gravado entre o parlamentar; Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró; Bernardo Cerveró e Diogo Ferreira, chefe de gabinete do parlamentar.
Nas gravações, em um dos trechos acerca do vazamento dos termos da delação premiada do ex-diretor da estatal, Bernardo Cerveró citou uma escuta instalada na cela, e o senador questionou: "Alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe." Ribeiro então afirmou que Ishii - que ainda é rotulado como "japonês bonzinho" por Ferreira - é o responsável pela divulgação, além de o acusar de vender informações. "É o japonês. Se for alguém, é o japonês", disse o advogado. "É. Aquele cara é o cara da carceragem, ele que controla a carceragem."
A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o vazamento da delação de Nestor Cerveró: a corporação ouviria o ex-diretor na tarde de ontem, entretanto, o depoimento foi adiado. Ishii também deve depor, mas ainda não há data marcada. Contrabando Servidor da PF desde 1976, Newton Ishii foi preso em flagrante pela própria corporação, em 2003, mas acabou reintegrado aos quadros após decisão judicial. A Operação Sucuri, da Polícia Federal, começou no fim de 2002 e revelou que 23 agentes, sete técnicos da Receita Federal, três policiais rodoviários federais e mais 13 contrabandistas e intermediadores estavam envolvidos com contrabando e descaminho em Foz do Iguaçu, que fica na tríplice fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina. Após a prisão, Ishii se aposentou, em outubro de 2003. A aposentadoria foi cassada, em 2009, e meses depois cedida novamente ao policial. Em abril de 2014, por fim, o benefício acabou revogado e ele retornou à atividade.
De acordo com o Ministério Público Federal, os Servidores Públicos deixavam veículos contendo mercadorias contrabandeadas do Paraguai, conduzidos por outros integrantes do grupo, entrarem no Brasil sem a devida fiscalização. As penas variaram entre oito anos, um mês e 20 dias de prisão; 160 dias-multa a quatro anos e oito meses de reclusão e 100 dias-multa. O Superior Tribunal de Justiça, em 2012, confirmou a reintegração de Newton Ishii, anulando o processo administrativo disciplinar de 2009 que determinava a demissão de alguns dos policiais envolvidos. A Polícia Federal informou que o agente, após ser inocentado e reintegrado, trabalha normalmente e não passa por preconceito ou nenhuma distinção no ambiente de trabalho devido ao caso. Correio Brasiliense
Confira trechos da gravação em que Ishii é citado
BERNARDO: Os caras não tinham uma escuta em cima da...da cela?
DELCÍDIO: Alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe.
EDSON: É o japonês. Se for alguém, é o japonês.
DIOGO: É o japonês bonzinho.
DELCÍDIO: O japonês bonzinho?
EDSON: É. Ele vende as informações para as revistas.
BERNARDO: É, é.
DELCÍDIO: É. Aquele cara é o cara da carceragem, ele que controla a carceragem.
BERNARDO: Sim, sim.
(...)
EDSON: Só quem pode tá passando isso, Sérgio Riera
BERNARDO: Mas eu já cortei...
EDSON: Newton e Youssef.
DELCÍDIO: Quem que é Newton?
BERNARDO: É o japonês.
EDSON: E o Youssef, só os dois. (vozes sobrepostas) O Sérgio, porque o Sérgio traiu...
BERNARDO: Sim. Ele fez o jogo do MP, assinou. Tá...tá
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