Flavio Aguiar: Destaques da agenda internacional na semana de 22 a 29 de novembro de 2015

Com a vitória de Macri, esperam-se mudanças expressivas: distanciamento do Irã e de Cuba, reaproximação com os EUA e a retomada dos princípios neoliberais.

Flavio Aguiar, de Berlim - Carta Maior
Mauricio Macri / Facebook
.Europa, Estados Unidos, Estado Islâmico e temas conexos.
 Em Bruxelas quase tudo está parado ou fechado: metrô, escolas, universidades, museus, cinemas, teatros, repartições públicas (exceto de organismos da ONU ou da União Europeia, com policiamento reforçado), restaurantes e grande parte do comércio no centro da cidade. As autoridades locais e do país disseram que este estado de emergência pode se prolongar, falando-se até em uma semana de duração. Na semana passada a polícia anunciou a descoberta de um apartamento no bairro de Molenbeek com explosivos e material químico. Até o momento houve a detenção de 16 pessoas em batidas policiais, mas o alvo principal, Salah Abdelsam, irmão de um dos atacantes de Paris, não foi encontrado. Em Paris, a policia anunciou a descoberta de que uniformes especiais para lidar com material químico de risco foram roubados de um hospital. O serviço de abastecimento de água está sendo rigidamente controlado, com redução ao mínimo do pessoal com acesso a esta área. Na segunda-feira o primeiro-ministro britânico, David Cameron, em visita a Paris foi até o café Bataclan junto com François Hollande, onde 89 pessoas foram mortas pelos atacantes, que também morreram no local. Movimentos de direita estão exigindo medidas mais repressivas contra suspeitos ou insuspeitos, desde que estrangeiros, o que poderia incluir até mesmo a negação ao reconhecimento de dupla nacionalidade. 

 
Na Alemanha, a policia da cidade de Hannover anunciou que havia um plano para atacar o estádio onde seria efetuado um jogo entre as seleções da Alemanha e da Holanda na semana passada com três bombas, pelo menos. Continuam as buscas pelos possíveis responsáveis pelo plano.
 
Há uma discussão nos bastidores sobre a eficácia dos serviços de segurança dos diferentes países envolvidos. A Turquia disse que alertara a Franca sobre a iminência dos ataques, a França reclama que não recebeu avisos nem cooperação de outros países.
 
Analistas dizem que os ataques em Paris, mais a explosão do avião russo no Sinai e o ataque em Beirute mostram que o Estado Islâmico está ampliando seu raio de ação e diversificando o seu modus operandi, se aproximando do estilo da Al Qaeda que funciona através de “franquias” e células mais ou menos autônomas umas das outras e em relação ao comando central. Avaliam também que vem se intensificando a competição entre estes dois grupos e também o Boko Haram, que opera na Nigéria, para determinar quem é mais efetivo. Sinais desta competição são o ataque ao Hotel Radisson em Bamako, no Mali, aparentemente feito por dois grupos ligados à Al Qaeda, e duplo ataque na Nigéria, nas cidades de Yola e Kano, por grupos ligados ao Boko Haram, logo na sequência dos ataques em Paris.
 
Nos Estados Unidos o clima político vem se deteriorando cada vez mais devido à competição entre os republicanos - inclusive os pré-candidatos à presidência - para saber quem é mais anti-muçulmano. O pré-candidato Donald Trump afirmou que em New Jersey grupos muçulmanos dançaram nas ruas depois dos ataques do 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas em Nova Iorque, o que foi logo desmentido pelas autoridades locais. Propostas mirabolantes vêm aparecendo, como a de colocar pulseiras de localização no tornozelo de todos os muçulmanos no país. A Câmara de Deputados aprovou novos procedimentos policiais que dificultam a aceitação de refugiados, o que não deve passar no Senado ou ser vetado pelo presidente Obama. 
 
Argentina
 
A vitória do candidato conservador Mauricio Macri na Argentina vem sendo comentada na mídia tradicional como “o fim do Kirrchnerismo” no país e o possível (há torcida a respeito) do “ciclo populista de esquerda” na América do Sul e Latina. A vitória foi mais apertada do que se esperava, 51,48 a 48,56%. Esperam-se mudanças expressivas na política externa: distanciamento do Irã e de Cuba, reaproximação com os Estados Unidos, “abrandamento” da posição em relação às Malvinas, confronto com a Venezuela, o que pode trazer problemas para o Mercosul. Também espera-se a retomada de princípios neoliberais na economia, a desarticulação de políticas sociais e dificuldades na área dos direitos humanos, devido a declarações contrárias às Mães da Plaza de Mayo e contra o que ele chamou de “el curro (a enganação) de los derechos humanos” por parte de lideranças ligadas a Macri. Entretanto a Frente para la Victoria kirchnerista e seus aliados mantém a maioria em ambas as casas do parlamento: 117 cadeiras em 207 entre os deputados e 42 em 72 entre os senadores.
 
Crimeia, Rússia, Ucrânia
 
A crise nas relações entre Ucrânia, Crimeia e Rússia se reacendeu graças a atentados terroristas a bombas contra as torres de transmissão de energia elétrica daquele pais para a província reanimada pela Rússia. A Crimeia ficou praticamente sem eletricidade. A Rússia se dispôs a colaborar pra resolver o problema, o que foi rejeitado pelo governo ucraniano.
 
Ebola
 
A Organização Mundial de Saúde vem recebendo críticas pela lentidão na forma com que atuou durante a crise do Ebola começada no ano passado. Há um grupo da ONU estudando o caso, cujas conclusões devem ser apresentadas ainda em dezembro. Alguns novos casos foram registrados na Libéria, retardando a declaração de que o surto chegou ao fim. Até o momento o único pais da região (noroeste africano) que foi oficialmente declarado livre do vírus foi Serra Leoa.
 
FIFA e futebol 
 
A crise na entidade se acentuou com a Comissão de Ética da FIFA recomendando punições a Sepp Blatter e ao atual presidente da UEFA Michel Platini. Na Alemanha prossegue a polêmica e a investigação sobre a possível compra, através de suborno, de votos no Conselho da FIFA para garantir a Copa de 2006. Das últimas copas realizadas, até o momento apenas a do Brasil não é alvo de acusação, suspeita ou investigação.




Créditos da foto: Mauricio Macri / Facebook

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