A discussão sobre o novo e o velho jornalismo em Tiradentes

Neste final de semana houve um interessante encontro jornalístico em Tiradentes, MG, com dia e meio de discussões sobre o presente e o futuro da imprensa.
Foi uma boa oportunidade de rever velhos colegas que, em outros tempos, eram representantes do bom jornalismo técnico, investigativo de qualidade.
Obviamente, há uma enorme dificuldade, da sua parte, em admitir a queda de qualidade da mídia ou o pensamento único vigente. Como confessou uma colunista econômica, com quase trinta anos de colunismo nunca recebeu a menor censura dos Marinho.
De fato, a intuição para entender o pensamento da casa é o primeiro capítulo do manual de sobrevivência. Mas nem sempre é o melhor indicador de diversidade no jornalismo.

Um dos argumentos levantados foi a indagação sobre em que período a imprensa foi melhor. De fato, os anos 90 foram um período de inúmeras barbaridades jornalísticas. Mas havia o contraditório, tanto no interior de cada redação como nos veículos, entre si.
A partir de 2005, o pacto proposto por Roberto Civita matou totalmente o contraponto. Todos os veículos passaram a reproduzir as mesmas matérias, os mesmos enfoques, o mesmo negativismo entranhado, a mesma falta de filtros para as manchetes.
Aliás, cada vez mais as manchetes passaram a entrar  em conflito com o próprio conteúdo das reportagens.

A jovem guarda

O segundo argumento – correto – é que existe, hoje em dia, uma geração de jovens jornalistas melhor que a anterior.
Ouso concordar e digo mais: o esgoto em que se transformou a mídia é filho direto da velha guarda, dos jornalistas que, desde a campanha do impeachment, colocaram o atendimento das demandas das empresas acima dos compromissos com a notícia; que aderiram de cabeça ao jornalismo-produto, à escandalização fácil e aos escândalos de um lado só.
Em outros períodos, grandes chefes de redação não titubeavam em alertar os empresários midiáticos quando determinadas demandas ultrapassavam os limites da qualidade jornalística.
São os remanescentes dessa geração do impeachment que assumiram o comando em vários veículos, definiram critérios tortos de promoção das matérias, desestimularam os jornalistas mais criteriosos, pelo fato de seu esforço ser pouco recompensado, em benefício do jornalismo de cascata.
Participei de duas bancas de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) com dois trabalhos de excelente qualidade.
No meu tempo de faculdade, dizia-se: com seis meses de redação aprende-se muito mais do que com quatro anos de curso de jornalismo. Agora, era diferente: cuidado para, com seis meses de redação, não desaprender o que aprendeu em quatro anos de faculdade.
De fato, as faculdades hoje tornaram-se necessárias, não pela obrigatoriedade do diploma, mas por ser o único lugar preservado desse neo-velho-jornalismo praticado nas redações.

O velho e o novo

Para quem analisa as coberturas dos jornais, há um contraste interessante entre dois tipos de jornalismo, ambos conflitantes e visíveis nas páginas dos mesmo jornais, especialmente nas editorias de política.
Começam a surgir cada vez mais reportagens a quatro ou seis mãos, dentro de um espírito colaborativo inexistente até alguns anos atrás. Quase sempre a parceria é entre jovens repórteres.
Na outra ponta há seguidas matérias de repórtere mais experientes, que consistem em uma declaração em off qualquer, atribuída a uma fonte genérica, e, depois, um conjunto de declarações em on questionando a declaração em off.
O que sai de reportagens sobre “dirigentes petistas declaram isso”, “o Palácio declarou aquilo”, “empresários disseram aquilo outro” é um exercício permanente de cascata.
Em suma, há um jovem jornalismo a caminho, mas impedido de voar pelo anacronismo da cobertura jornalística e do modelo de produção que não se renovou e pela premiação do arrivismo.

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