Uma grande história nas mãos de um grande escritor | Eric Nepomuceno escreve sobre Hereges, de Leonardo Padura

Blog da Boitempo - Publicado em 06/10/2015


Eric Nepomuceno Hereges Padura
Em seu novo livro, o escritor cubano Leonardo Padura repete a façanha do best-seller premiado O homem que amava os cachorros (2013, Boitempo) ao criar um híbrido de romance histórico, policial e social. O livro ganhou o X Prêmio Internacional de Romance Histórico “Ciudad de Zaragoza” e foi finalista dos prêmios Médicis e Fémina. Confira, abaixo, o texto de orelha do livro assinado por Eric Nepomuceno.

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O ponto de partida é um episódio real: a chegada ao porto de Havana do navio S.S. Saint Louis, em 1939, onde se escondiam mais de novecentos refugiados vindos da Alemanha. A embarcação passou vários dias à espera de uma autorização para o desembarque. No romance, o garoto Daniel Kaminsky e seu tio aguardavam nas docas, trazendo um pequeno quadro de Rembrandt que pertencia à família desde o século XVII e que esperavam utilizar como moeda de troca para garantir o desembarque da família que estava no navio. No entanto, o plano fracassa, a autorização não é concedida e o navio retorna à Alemanha, levando também a esperança do reencontro. Quase setenta anos depois, em 2007, o filho de Daniel, Elías, viaja dos Estados Unidos a Havana para esclarecer o que aconteceu com o quadro e sua família.
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Uma grande história nas mãos de um escritor medíocre talvez resulte num livro razoável. Uma história medíocre nas mãos de um grande escritor talvez se transforme num livro interessante. Uma grande história nas mãos de Leonardo Padura é garantia de um grande livro. Hereges, por exemplo.
Aqui, temos de volta a figura instigante e sedutora de Mario Conde, que no passado foi policial e que agora, volta e meia, se mostra um detetive singular. Sua missão é descobrir o que aconteceu com um pequeno quadro pintado por Rembrandt, que em 2007 apareceu num leilão em Londres. E, ao mesmo tempo, descobrir o paradeiro de uma rica e misteriosa adolescente de Havana.
A partir desse enredo, cada palavra de cada linha de cada página deste livro se justifica. Padura, uma vez mais, comprova ter o domínio completo do seu ofício ao construir personagens, situações e atmosferas que se impregnam na memória do leitor.
Se em O homem que amava os cachorros ficaram nítidas e consolidadas suas credenciais como um dos grandes autores da sua geração – e não só de Cuba, mas da literatura escrita em espanhol –, em Hereges ele confirma sua imensa dimensão.
Por trás da história e dos personagens, esta é uma obra sobre a vida humana, suas grandezas e suas misérias.
Fica, então, uma advertência ao leitor: ler este livro até o fim pode mudar sua maneira de ver a vida e o mundo. Para melhor, é claro.
Eric Nepomuceno
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Padura passou na sede da Boitempo para desempacotar a edição brasileira de Hereges com a gente e aproveitou para falar um pouco sobre o livro!

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