Na Itália, deputado usa Pizzolato para atacar até a militância do PT: “É o que há hoje de pior na política brasileira”. Mas alivia para Cunha

publicado em 08 de outubro de 2015 às 09:25
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O deputado federal Rubens Bueno, presidente do PPS do Paraná e líder do seu partido na Câmara, participa na Itália de um Fórum de parlamentares daquele país e da América Latina.
Nessa segunda-feira-feira 5, ele deu entrevista à repórter Giovanna Reanda, da Rádio Radicale, em Roma.
O gancho, a questão da extradição de Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, condenado na Ação Penal 470. Foragido do Brasil, ele foi preso na Itália.
A entrevista durou 10m30s.  A repórter perguntava, é claro, em italiano, a tradutora repassava em português para o deputado, cuja resposta era então traduzida para a repórter. E assim foi o tempo todo. Detalhe: a tradutora foi Renata Bueno, filha do deputado.

Bueno usou Pizzolato para fazer acusações aos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff. Sobrou até para a militância do Partido dos Trabalhadores:
O processo [contra Pizzolato] é um processo por corrupção, conhecido como mensalão, desvio de dinheiros do Banco do Brasil, desvio de outros órgãos do governo para usar este dinheiro na compra mensal, com pagamentos mensais a deputados, parlamentares para aprovar medidas do governo Lula.
Eu sou líder da bancada do PPS e como tal mandato na oposição ao atual governo. E essa oposição se dá não só por causa do mensalão do caso Pizzolato. Hoje nós estamos vivendo o petrolão, que é a tomada de assalto da Petrobras, a maior estatal brasileira e de lá foram desviados bilhões de reais.
Nós também esperávamos que Battisti [ativista Cesare Battisti] fosse extraditado,  tanto que a Justiça, pelo seu processamento, deu pela extradição. Mas lá nós temos o presidente da República, o chefe do Poder Executivo, é que dá a última palavra. E como tal o presidente Lula negou a extradição.
E, por isso, ele [Battisti] está lá [Brasil] livre, leve e solto, aplaudido pela militância do PT, que hoje infelizmente é o que há de pior na política brasileira.
Em compensação, Rubens Bueno aliviou para o deputado Eduardo Cunha (PMDB), que já foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro. A Procuradoria Geral da República acusa-o de receber propina de US$ 5 milhões em contratos de navios-sonda da Petrobrás.  Além disso, Cunha teve cinco contas bloqueadas na Suíça pelo Ministério Público de lá. O MP suíço  informou aos procuradores brasileiros que Cunha abriu empresas de fachada para esconder seu nome nos registros bancários na Suíça.
A repórter da rádio italiana questionou o deputado brasileiro: o senhor vem ao Fórum de parlamentares da Itália e América Latina, representando o presidente do parlamento brasileiro, visto que ele está também sofrendo problemas judiciais?
Rubens Bueno responde sim e atenua para Eduardo Cunha:
Ele está sofrendo denúncias, mas são denúncias que ainda não têm nenhuma decisão da Justiça brasileira, sequer para acatar o processo.  E como tal tem que aguardar o desdobramento com todo direito à ampla defesa prevista na Constituição brasileira.
Só que, ao degravar toda a entrevista, esta repórter descobriu que a tradução não é fidedigna.
Ao traduzir as falas do deputado para a repórter Giovanna Reanda, Renata Bueno acrescentou alguns “contrabandos” que não constam  da fala do deputado, mas para a repórter da rádio italiana foi como ele tivesse dito, já que não entende português.
Um dos “contrabandos” é totalmente estapafúrdio: “Pizzolato era o operador, era quem sempre pagava os parlamentares para aprovação a favor de Lula”.
Já outro reforça a minimização das denúncias contra Eduardo Cunha: “Nós partimos sempre do princípio da inocência”.
Em outro “contrabando”,  ela esqueceu-se que Eduardo Cunha também está denunciado no petrolão: “Tanto no primeiro processo, o do mensalão, no qual está condenado Pizzolato, quanto neste segundo processo, petrolão, que são dirigentes políticos, todos estão encarcerados em presídio de melhores condições do que o sistema em geral”.
Assim como o pai, Renata Bueno é anti-petista e já foi vereadora em Curitiba pelo PPS. Não conseguiu se reeleger vereadora e foi procurar a sorte política na Itália.
Ela tem também cidadania italiana. E desde 2013 é deputada brasileira no Parlamento Italiano. No final daquele ano, ela ganhou alguma projeção nacional, quando tentou se vender como alguém que teria autoridade para descobrir informações sobre Henrique Pizzolato, condenado na Ação Penal 470.
Mas o advogado Walter Petruzzielo, Conselheiro do Brasil no CGIE – Consiglio Generale degli italiani all’estero (Conselho Geral dos Italianos no Exterior) desmascara Renata Bueno ao escrever aos senadores italianos dizendo“posso assegurar que a posição da On. (honorável) Renata Bueno, em favor da extradição (de Pizzolato) é uma posição para ser citada na mídia”.
O advogado diz mais:
“O fato é que a honorável Bueno deu entrevistas aos telejornais locais (brasileiros) sobre o caso de Pizzolato, utilizando informações que eu havia dito, fazendo de conta que ela havia obtido junto ao Governo italiano. Digo isto porque, como advogado do Consulado Geral da Itália por quase 30 anos, conheço todo o processo de como Pizzolato conseguiu o reconhecimento da cidadania italiana e o passaporte italiano. Além disso, é preciso evidenciar que Pizzolato tinha o direito à cidadania italiana e não se tratou de uma cidadania obtida de modo irregular”.
No Brasil, Renata é direitista. Na Itália, faz “pose” de representante da esquerda, integrando o Comitê permanente de direitos humanos da comissão de entrageiros da Câmara dos Deputados, além de ser uma “enamorada” de Renzi (Presidente do Conselho de Ministros da Itália), como publicado pela imprensa italiana.
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Renata era casada com Juliano Borghetti, que, em 2013,  envolveu-se numa violenta briga entre torcidas num jogo entre Vasco e Atlético Paranaense, em Joinville, Santa Catarina. À época, ocupava cargo de confiança no governo Beto Richa (PR-PSDB).  Era superintendente da PR Projetos, vinculada à Secretaria de Planejamento do Estado. Ele pediu demissão ou foi levado a fazê-lo.
Em fevereiro de 2012,  Polícia Federal no Paraná instaurou inquérito para investigar a acusação de caixa dois na campanha de Renata Bueno para o cargo de vereadora em Curitiba. Um ano depois das investigações, Renata foi indiciada e o Ministério Público pediu o aprofundamento das investigações, com cinco diligências que envolveriam também o pai Rubens Bueno.
Para salvar a filha, Rubens Bueno pediu que as investigações fossem remetidas ao STF. Bueno pai alegou ter “foro privilegiado”.
Agora Renata Bueno parece ser a “embaixadora” do Brasil na Itália.
Do contrário, como explicar que ela  foi a primeira a ser informada pelo advogado do governo italiano, Giuseppe Albenzio, sobre a extradição de Pizzolato. Ela soube no dia 1º de outubro. O advogado de Pizzolato só soube oficialmente no dia 2.
O fato intrigou muito os senadores italianos Maria Cecilia Guerra e Luigi Manconi, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Intrigou tanto que eles apresentaram um questionamento oficial ao Ministro da Justiça italiano, perguntando “por que Renata Bueno foi informada pelo advogado do governo italiano, Giuseppe Albenzio, da autorização da extradição de Pizzolato ANTES que tal notícia tivesse sido comunicada ao próprio Pizzolato?”
Cá entre nós. Embaixadora do Brasil que fala mal do País lá fora é um pouco demais. O que parece mesmo é que Renata é protagonista de um “bueno” jogo duplo.
O curioso é que, apesar do esforço dela e do pai para desconstrução do governo brasileiro na Itália, ela mesmo admite num dos “contrabandos” introduzidos na fala do pai, sobre Cesare Battisti: “E o que impressiona muito é que Lula vem à Itália, fica hospedado, ele é aplaudido por tantos aqui”.
Íntegra da degravação: Os grifos em vermelho são os “contrabandos” introduzidos por Renata Bueno à tradução da fala do pai, deputado Rubens Bueno
Repórter Giovanna Reanda– Qual a sua opinião sobre a extradição de Pizzolato, visto que o governo italiano já deu autorização e faltam poucos dias para resolver. Aqui ele chegou como marginal e foi preso.  Qual  sua impressão do Brasil?
Rubens Bueno — A minha impressão é a melhor possível, porque o Brasil está aguardando há muito tempo que essa extradição seja feita. Ele já foi processado e condenado há mais de 12 anos de prisão no chamado processo do mensalão, e ao fugir para a Itália, com a dupla cidadania, ele ganhou esse espaço de tempo.
Repórter Giovanna Reanda– É um processo por corrupção?
Rubens Bueno — Sim, é um processo por corrupção, conhecido como mensalão, desvio de dinheiros do Banco do Brasil, desvio de outros órgãos do governo para usar este dinheiro na compra mensal, com pagamentos mensais a deputados, parlamentares para aprovar medidas do governo Lula.
Repórter Giovanna Reanda –Ele era do Partido dos Trabalhadores?
Rubens Bueno — Sim, ele era do Partido dos Trabalhadores, do PT, do partido de Lula e da atual presidente. Ele foi candidato a governador pelo PT no Estado do Paraná, em 1990. E, como tal, ele continuou na cúpula do partido. E chegou a ser diretor do Banco do Brasil, onde aconteceu o episódio do mensalão e ele foi condenado.
Repórter Giovanna Reanda– Você também é líder de um partido de oposição?
Rubens Bueno — Eu sou líder da bancada do PPS e como tal mandato na oposição ao atual governo. E essa oposição se dá não só por causa do mensalão do caso Pizzolato. Hoje nós estamos vivendo o petrolão, que é a tomada de assalto da Petrobras, a maior estatal brasileira e de lá foram desviados bilhões de reais.
Repórter Giovanna Reanda — Você vem ao Fórum de parlamentares da Itália e América Latina, representando o presidente do parlamento brasileiro, visto que ele está também sofrendo problemas judiciais?
Rubens Bueno — Sim, ele está sofrendo denúncias, mas são denúncias que ainda não têm nenhuma decisão da Justiça brasileira, sequer para acatar o processo.  E como tal tem que aguardar o desdobramento com todo direito à ampla defesa prevista na Constituição brasileira. Nós partimos sempre do princípio da inocência.
Repórter Giovanna Reanda — Para alguns parlamentares aqui na Itália a extradição de Pizzolato é vista como uma afronta à questão dos direitos humanos por causa da situação dos presídios no Brasil. Senadores do partido Democrático foram contra a  extradição de Pizzolato. Então o que você pensa sobre isso?
Rubens Bueno — Na verdade, o que você tem no Brasil são prisões que deixam muito a desejar, são prisões que não atendem a visão humanista do tratamento do ser humano. Mas, no caso do Pizzolato e de todos condenados no processo do mensalão, inclusive ex-deputados, chefe da Casa Civil, eles foram condenados e presos na Penitenciária da Papuda em Brasília, que deu todas as condições para essa prisão. É para onde está indo o Pizzolato.
Tanto no primeiro processo, o do mensalão, no qual está condenado Pizollato, quanto neste segundo processo, petrolão, que são dirigentes políticos, todos estão encarcerados em princípio de melhores condições do que o sistema em geral.
Repórter Giovanna Reanda — O que pensa do caso Battisti que a Itália esperou tanto a extradição?
Rubens Bueno – Nós também esperávamos que Battiti fosse extraditado,  tanto que a Justiça, pelo seu processamento, deu pela extradição. Mas lá nós temos o presidente da República, o chefe do Poder Executivo, é que dá a última palavra.  E como tal o presidente Lula negou a extradição e, por isso, ele está lá livre, leve e solto, aplaudido pela militância do PT, que hoje infelizmente é o que há de pior na política brasileira. E o que impressiona muito é que Lula vem à Itália, fica hospedado, ele é aplaudido por tantos aqui…
Repórter Giovanna Reanda — Esse encontro…Acha que pode haver realmente de colaboração entre o parlamento italiano e os da América Latina sobre a questão dos direitos fundamentais?  
Rubens Bueno – Com o mundo globalizado e a internet,  isso tudo leva os parlamentos cada vez mais se unirem, em busca de legislação, claro que preservando a sua cultura, preservando situações regionais e locais. Mas tendo a amplitude de ver o mundo de forma diferente e ninguém pode mudar nada se não for pela lei e quem faz a lei é o parlamento. Então, nós achamos que isso aqui , esse primeiro encontro, deve se desdobrar em tantos outros,  para mostrar que não só a Itália está assumindo este  papel,  mas saber que América Latina e Caribe estão pensando da mesma forma,  em busca de legislações em comum que tragam  justiça social e, sobretudo, respeito à dignidade humana.

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