Luis Nassif: O Banco Central ainda não se deu conta do tamanho do tombo

Com a reforma ministerial e o processo aberto contra Eduardo Cunha, é possível que o cenário político se acalme e Dilma Rousseff possa enfrentar seus inimigos reais: a situação econômica.
Há dois riscos prementes no caminho de Dilma.
O primeiro é a síndrome da presença de Deus que acomete todo gestor quando dirige pela primeira vez o carro da economia. É tomado por um sentimento de onipotência, da bala de prata. Sempre há a ilusão da grande saída jamais tentada, a sacada genial que colocará a realidade debaixo das rédeas sábias da teoria econômica.
Dessa síndrome não escapou sequer Delfim Neto. Quando assumiu o comando da economia no governo Figueiredo. Lançou um pacote sem nexo para acabar com a indexação cambial. Dava uma maxi na frente, depois congelava câmbio e correção monetária. Sem a indexação, dado o choque e uma política monetária severa, supunha estar dando o tiro fatal na inflação.

Arrebentou com a economia. A maxi aumentou a inflação e o congelamento da correção monetária fez com que o mercado fosse correndo para ativos reais. A inflação dobrou em pouco tempo.
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Outra aventura temerária foi o período Gustavo Franco no Banco Central. A teoria dizia que dali para frente haveria liquidez internacional eterna. Em nome da crença, Gustavo segurou o câmbio até o limite da irresponsabilidade.
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A síndrome, agora, tomou conta de Joaquim Levy, Ministro da Fazenda, e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central.
A bala de prata consiste em apertar a economia do lado fiscal, do lado monetária até a inflação despencar. Despencando, as taxas de juros longas despencam e o investimento voltaria reanimando a economia em todos os quadrantes.
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Trata-se de uma aposta de alto risco, quase como pretender dar um cavalo de pau em um transatlântico, em uma quadra particularmente complexa.
Há dois tipos de inflexão na economia. As que chegam aos poucos são captadas pelos radares dos indicadores. As inflexões abruptas, não. Na maioria das vezes, pegam os gestores desprevenidos.
Um dos grandes problemas de gestores públicos de gabinete é só perceber o tamanho da crise depois que o iceberg arrebenta o vidro da cabine do piloto.
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Em fins de 1994 ocorreu um desses fenômenos. A economia começou a desabar rapidamente, mas os economistas do Real não se deram conta. Em abril de 1995, com a inadimplência começando a correr solta, o Ministro Pedro Malan insistia que o PIB iria cair apenas 1 ponto. Em junho o próprio Fernando Henrique Cardoso precisou vir a público admitir que tinham minimizado a crise.
O erro de previsão liquidou com duas carreiras políticas promissoras, o então governador mineiro Eduardo Azeredo e o gaúcho Antônio Britto. No início do ano acreditaram nas previsões de consultorias paulistas, de que a arrecadação do ICMS cresceria 12%, deram aumentos por conta e se acabarm no primeiro ano.
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 Agora vive-se momento semelhante.
Desde o segundo semestre do ano passado a economia vem caindo. Um Ministro mais experiente teria percebido os ventos contrários e não forçaria tanto do lado monetário.
A soma dos desarranjos da economia com a Lava Jato, a crise fiscal e a política monetária estão jogando a economia ladeira abaixo, agora, em uma velocidade imprevista.
Se o BC persistir com a atual política monetária, quando a inflação e os juros caírem se terá apenas a paz dos cemitérios.

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