Game do ano: aprenda a fórmula Joaquim Levy e ganhe 50% ao ano

O jogo só vale para quem dispuser de no mínimo US$ 1 milhão depositados no exterior. Para quem tiver acima de US$ 10 milhões, será uma festa. Acima de US$ 100 milhões, uma barbada.
O jogo abaixo explica dois fatos recentes.
O primeiro, a história trazida por nosso colunista André Araújo, de como um empresário brasileiro, disposto a vender uma empresa de energia, da noite para o dia viu seu valor despencar.
O segundo, a maneira como o Ministro Joaquim Levy articula sua imagem nos Estados Unidos, contando com a colaboração do ex-jornalista Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson, de Washington, conforme relato de André Barrocal, na Carta Capital de hoje.
Em artigo para o Huffington Post, Sotero classificou Levy como “um promotor-chave dentro do governo brasileiro de uma relação mais produtiva e consequente com os Estados Unidos”.

Nessa relação “produtiva e mais consequente”, têm papel-chave as agências de risco, especialmente a Standard & Poors. Segundo a reportagem instigante de Barrocal, houve ume enorme coincidência na atuação de Sotero e da S&P, assim que as propostas de Levy de mais cortes orçamentários foram derrotadas na infausta reunião ministerial que gerou a decisão de enviar um orçamento com déficit para o Congresso.
Não se pense em conspirações na calada da noite, Levy reunindo-se na surdina com representantes das forças ocultas norte-americanas e do mercado. O jogo é mais explícito e sua única blindagem é a carteirada acadêmica. Wall Street define as regras de bom comportamento e Levy as segue. E o aparato mercadista – agências de risco, jornais ligados ao mercado (Financial Times e Wall Setreet Journal) e a mídia brasileira se incumbem do trabalho de pressão junto ao mercado e à opinião pública.
Vamos a dois exemplos, com duas planilhas para vocês brincarem de ficar rico.

 Game 1: como ganhar comprando ativos nacionais

É um jogo mais simples. (coloquei como imagem porque o embed estava repetindo a tabela de baixo)

Imagine a Empresa A que fatura R$ 50 milhões por anos.
Seu valor de mercado corresponderá a uma TIR (Taxa Interna de Retorno) correspondente à taxa Selic mais um fator de risco de 5%.
Trazendo a Valor Presente, seu valor de mercado será de R$ 282,5 milhões. Ou seja, para se obter um ganho de 12% ao ano, sacando anualmente R$ 50 milhões, o valor atual da empresa seria de R$ 282,5 milhões.
Com o dólar a R$ 2,50, o valor em dólares será de US$ 113 milhões.
Aí começa o jogo Levy:
1.     A Selic pula para 14,5%.
2.     Depois da jogada da S&P (que Carta Capital insinua ter sido articulada com Levy para fortalece-lo no debate interno) a taxa de risco salta para 8%.
3.     A recessão derruba o faturamento da empresa para R$ 45 milhões.
4.     Com a nova TIR, a nova taxa de risco e o novo faturamento, seu valor em reais cairá para R$ 173 milhões.
5.     Com o dólar a R$ 4,00, em dólares ela valerá US$ 43 milhões, uma redução de 62%
Game 2: como ganhar em cima do Tesouro nacional e levar o leite das criancinhas
Esse é o jogo que os investidores mais apreciam. Não tem essa bobagem de correr riscos com empresas, os dólares entram e saem com enorme facilidade e os lucros, astronômicos, são bancados pelos cortes que o Ministro fará em áreas supérfluas: educação, saúde, combate à miséria, inovação.
Confira:
1.     O investidor traz US$ 100 milhões. Com o dólar a R$ 4,00, converte em R$ 400 milhões.
2.     Aplicando na Selic a 14,5% ao ano, um ano depois terá R$ 458 milhões.
3.     Com o dólar caindo a R$ 3,00, a conversão o deixará com US$ 152 milhões, um ganho de 53% bancado pelo orçamento público – ou seja, dinheiro da educação, saúde.
Mas suponhamos que o investidor seja mais sofisticado. Em vez de comprar papel de 12 meses, ele arrisca por 18 meses. Um ano depois, ele terá 6 meses a mais de prazo no seu investimento. Mas aí a inflação terá sido derrubada e a Selic caiu para, digamos, 10%.
Quando cai a Selic, aumenta o valor de face dos títulos selicados.
Exemplo simples:
1.     Nos títulos pré-fixados, já se sabe o valor do resgate. Assim, a taxa de juros equivalerá à diferença entre o valor aplicado e o valor de resgate. Um titulo que vale 100 no resgate, a uma taxa de juros de 14,5 valerá 87,3 na compra (87,3 x 1,145 = 100). Ou seja, 87,3 aplicado a 14,5% ao ano valerá 100 em um ano. Se a taxa de juros cair para 10% o valor do titulo aumentará para 90,9. Ou seja, quanto maior a taxa menor o valor do título no momento da aplicação. E vice-versa.
2.     Como ele comprou papeis a 14,5%, por 18 meses o valor de resgate será de R$ 490 milhões. No 12o mês,  se a taxa cair para 10%, seis meses antes do vencimento o lote estará valendo R$ 467,2 milhões. Q quem comprar por R$ 467,2 e resgatar por R$ 490  milhões terá uma rentabilidade de 10%.
Juntando os dois ganhos, o investidor sairá com US$ 155,8 milhões em 12 meses, ou um ganho de 55,8%.
O erro de Sotero foi considerar que a relação é produtiva e consequente apenas com os Estados Unidos. Nesses tempos de migração, o Brasil de Levy aceitará capital de qualquer parte do mundo.

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