Fernando Brito: O depoimento de Barusco é uma fraude evidente, que ninguém quer ver

barusco
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Em troca do que as empreiteiras pagavam propinas milionárias a Pedro Barusco,  ex-gerente da Petrobras e principal acusador do pagamento de propinas ao PT?
Não pagavam a troco de nada, apenas porque “sempre foi assim”, segundo ele depõe diante do juiz Ségio Moro.
Assista o trecho que separei de seu depoimento e veja você mesmo:

É preciso que alguém seja, de fato, muito ingênuo para crer que alguém tenha recebido dezenas de milhões de dólares para não fazer absolutamente nada, até porque Barusco diz que não participava da confecção do orçamento, nem da concorrência e apenas sua área coordenava a execução do projeto.
É obvio que recebia em troca de algo e este algo, ao que parece, não aparece em toda a mais de uma hora de investigação.
Ele confirma, no trecho anterior ao que veiculei (a parte 2 do depoimento registrado no Estadão) que recebia desde 1997 e que tudo cntinuou. Por que? Ah, porque o “status quo” era conveniente para eles.
Francamente, será que alguém acredita que se paga, como no caso dele, US$ 100 milhões a troco de nada?
Não é possível concluir do depoimento dele se Renato Duque, seu diretor, também recebia. Isso vai depender dos documentos bancários das contas que ele teria no exterior.
É estranho, porém, que Duque fosse chamá-lo para ser seu sócio se nada dependesse dele, apenas porque precisava de um parceiro para não se sentir roubando só.
E mais ainda que o tesoureiro do PT fosse, também sem depender de Barusco – que, afinal, diz que não fazia nada para receber propina – para negociar as supostas contribuições ao partido.
Barusco é evidentemente um mentiroso ou está ao menos omitindo fatos nas barbas do juiz Moro.
O Estadão descreve um trecho interessante do depoimento:
O delator foi questionado qual era o codinome usado por ele para identificar Vaccari.
“É Moch”, respondeu.
“Por qual motivo?”, insistiu o procurador da República que participou da audiência na Justiça Federal no Paraná.
“Porque ele andava sempre com uma mochila.”
O procurador quis saber para que Vaccari usava a mochila.
“Eu não sei, mas a gente achava que era para carregar dinheiro.”
A mochila foi apreendida com Vaccari em março, quando foi detido pela Lava Jato em sua residência, em São Paulo. A mala estava com um caderno quase em branco, uma agenda sem telefones, sem qualquer elemento de interesse da Polícia Federal.
“A gente achava que era para carregar dinheiro”. Eu também ando com uma mochila preta, sem um tostão dentro, às vezes meu laptop. No ônibus e no metrô topo com dúzias de jovens – ou nem tão jovens – carregando mochilas.
Prova de corrupção é dinheiro, escondido ou não, que não se tem forma legítima de explicar.
Barusco tem, o que estava nas contas que devolveu (tudo?).
Paulo Roberto Costa, também.
Eduardo Cunha, idem.
Se confirmado o que se diz, Renato Duque, Jorge Zelada e Nestor Cerveró, da mesma forma.
E quem mais?
Depois de passar pelo Dr. Sérgio Moro, para quem provas não vêm ao caso – estranho que não tenha apertado Barusco para saber, afinal, quem combinou a propina com ele e afinal qual era a sua parte a fazer na maracutaia – a Justiça vai, como todos nós, querer saber afinal porque pagaram US$ 100 milhões a Barusco.
Da mesma forma, é inacreditável que o “achava que tinha dinheiro” seja manchete num depoimento onde um gajo diz que recebeu das empreiteiras US$ 100 milhões sem fazer nada, sem praticar uma irregularidade, um favorecimento, uma roubalheira.
E porque, se ele não fazia nada, Duque ou Vaccari dividiam com ele o produto da boa-vontade das empreiteiras.
Ouçam, se puderem, as quatro partes do depoimento. Verão que Barusco só indica uma coisa: os acertos entre os ladrões e as empresas eram todos fora da Petrobras, mordidas que davam nos lucros das suas contratadas. Só falta esclarecer a troco de que deixavam-se morder, já que “nunca passou pela cabeça”, a menos da dele, fazer algo que as pudesse prejudicar ou fornecer listas mais ou menos óbvias de empresas qualificadas para licitações que, diz ele próprio, “elas iam acabar mesmo sabendo”.

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