Último discurso de Salvador Allende
Salvador Allende Gossens (1908-1973) |
Santiago do Chile, 11 de setembro de 1973, 9:10 da manhã em Radio Magallanes
Meus amigos:
Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Radio Portales e da Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas sim decepção. Que sejam elas um castigo moral para aqueles que traíram seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rasteiro... que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos Carabineros.
Diante desses fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar! Situado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais... nem com o crime... nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento, definitivo, o último em que poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição. O capital estrangeiro, o imperialismo, unido à Reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, aquela que lhes ensinara o general Schneider e que reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará em casa, esperando, com mão alheia, reconquistar o poder, para seguir defendendo seus lucros e privilégios.
Dirijo-me, sobretudo, à mulher simples de nossa terra; à camponesa que acreditou em nós; à operária que trabalhou mais; à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da pátria, aos profissionais patriotas, àqueles que dias atrás estavam trabalhando contra a insubordinação patrocinada pelas associações profissionais, associações classistas que também defendem as vantagens que uma sociedade capitalista dá a uns poucos. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram, que deram sua alegria e seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos... porque em nosso país o fascismo já estava há tempos presente nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A História os julgará.
Seguramente a Radio Magallanes será calada e o metal tranquilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos, minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à lealdade dos trabalhadores. O povo deve defender-se, mas não sacrificar-se. O povo não deve se deixar arrasar nem crivar-se de balas, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam vocês que, muito antes do que se imagina, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores!
Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.
Pablo Milanés
Yo pisaré las calles nuevamente (1974) interpretado por su autor, el cantautor cubano, y en una versión del grupo punk chileno Los Miserables
Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada y en una hermosa plaza liberada me detendré a llorar por los ausentes. Yo vendré del desierto calcinante y saldré de los bosques y los lagos y evocaré en un cerro de Santiago a mis hermanos que murieron antes. Yo unido al que hizo mucho y poco al que quiere la patria liberada dispararé de las primeras balas más temprano que tarde sin reposo retornarán los libros las canciones que quemaron las manos asesinas renacerá mi pueblo de su ruina y pagarán su culpa los traidores. Un niño jugará en una alameda y cantará con sus amigos nuevos y ese canto será el canto del suelo a una vida segada en La Moneda. Yo pisaré las calles nuevamente de lo que fue Santiago ensangrentada y en una hermosa plaza liberada me detendré a llorar por los ausentes. Muito obrigado a Radio Magallanes Fonte: http://tlaxcala-int.org/article.asp?reference=10531 Data de publicação do artigo original: 11/09/2013 URL deste artigo: http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=10552 |
Comentários