Salatiel: O novo xadrez que se forma nas Organizações Globo
SEX, 18/09/2015 - 19:30
ATUALIZADO EM 18/09/2015 - 19:31
O novo xadrez que se forma nas Organizações Globo
Há um novo xadrez se formando nas Organizações Globo.
O mais recente passaralho do jornal O Globo, em virtude das dívidas do jornal na construção de uma nova sede e o fracasso da venda da sede antiga, a entrada de Lauro Jardim para seu time de colunistas devem marcar uma nova fase do jornalismo das Organizações Globo -OG, na qual a revista Época, pela primeira vez, passa a fazer parte do jogo principal.
Considerada o "patinho feio" das OG, a revista Época mudou de patamar dentro do grupo com a ascensão do presidente da Editora Globo, Fred Kachar, para a presidência do Infoglobo, e a de Diego Escoteguy no comando da revista.
Enquanto João Gabriel, o diretor de redação no expediente, chamado de "Rainha da Inglaterra" pela equipe da revista, distrai-se em eventos literários e atividades afins, Fred e Diego os dois completaram a travessia de Damasco da revista, iniciada por Helio com a reforma editorial de 2011: primeiro, de veículo moderado à versão farsesca de Veja; agora, de versão farsesca a veículo capaz de ruborizá-la.
Era essa a intenção de Helio: colocar-se à direita de Veja. Para isso, Diego fora contratado e, pouco a pouco, as vozes e pautas "dissonantes" da revista substituidas por vozes e pautas com a face de Diego. De 2012 em diante, deixaram a revista, por obra de Helio e Diego, nomes como Paulo Moreira Leite, Luiz Maklouf Carvalho, Felipe Patury, entre outros.
A chegada de Lauro Jardim - e as fontes que carrega consigo - deve fortalecer o monopólio político das OG na imprensa e no Rio de Janeiro, onde a família Marinho tem uma influência semelhante à dos Matarazzo em São Paulo dos anos 1930-40, e enfraquecer Veja, onde Lauro era um dos principais meios de influência dos proprietários da publicação e um dos maiores geradores de audiência da revista e do site. Isso num momento econômico delicado para o Grupo Abril.
Com isso, o grupo derruba a única fronteira em que não detinha o poder total: na imprensa "noticiosa" semanal.
Claro que há dúvidas no caminho.
O Globo (jornal) vive o momento mais delicado de sua História - e tem dois anos para voltar a ser lucrativo, o que, diante das perspectivas econômicas do país e do novo câmbio, não deve se concretizar.
Época, por sua vez, mantém uma circulação estável na aparência - ao menos metade das revistas são entregues de maneira gratuita ou com descontos que inviabilizam o negócio, num momento econômico delicado.
A TV Globo, embora lider absoluta de audiência, ostenta índices inimagináveis há dez anos (na década passada, uma novela das oito chegava a 60 pontos de audiência, hoje está em 20 pontos). A publicidade de rádio está estagnada há anos. As outras fontes de renda - produtos, TV paga, portais - estão longe de trazer o prestígio, dinheiro, influência de outros tempos.
A notícia, aliás, da nova contratação (que não deve ter custado pouco), logo na sequência do passaralho, pegou a redação d'O Globo de surpresa, onde, aliás, continuam, pontualmente, as demissões, gerando um clima de tensão (somado à tristeza) na redação. Se não havia dinheiro para uma série de bons jornalistas, para o caderno de literatura e ideias (O Prosa), como (ou por que?) há dinheiro para um colunista dessa envergadura?
O raciocínio acima deve explicar.
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