RBA: Frente 'expressa desejo de sair da defensiva e ir para a ofensiva', afirma Jandira Feghali
ENTREVISTA
Deputada diz que movimento a ser lançado neste sábado une entidades e partidos políticos em defesa da democracia, contra o golpe, de agenda progressista e plataforma desenvolvimentista
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 05/09/2015
GUSTAVO LIMA - CÂMARA DOS DEPUTADOS
São Paulo – O lançamento da Frente Brasil Popular neste sábado (5), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, obedece à necessidade de criar um movimento social para “enfrentar a intolerância e a atitude antidemocrática com unidade e com uma agenda política que mostre um caminho para o Brasil”. A avaliação é da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Segundo ela, o movimento é “a expressão do desejo de sair da defensiva, ir para a ofensiva política, mas com uma agenda, uma plataforma, uma visão desenvolvimentista de Brasil”. A intenção, diz, é negociar a agenda com o governo e com os partidos da base de sustentação no Congresso Nacional. A agenda incorpora a defesa de uma política industrial e inovação.
A convocatória do evento em BH tem o apoio de militantes de inúmeras entidades, como CUT, CTTB, MST, Via campesina, FUP, UNE, Levante Popular da Juventude, Consulta Popular, Marcha Mundial das Mulheres, Rede Nacional de Médicas/os Populares, Associação de Juízes pela Democracia, inúmeros sindicatos, Central de Movimentos Populares (CMP), entre outros, incluindo os partidos políticos como PT, PcdoB e PDT. O movimento tem apoio de intelectuais e jornalistas.
Jandira Feghali falou à RBA.
Qual sua opinião sobre a importância da Frente na atual conjuntura do país?
Eu vejo uma importância estratégica, porque o movimento social, a esquerda, as pessoas que não são de partido nenhum, formadores de opinião, pessoas de universidade, movimento popular estão entendendo que têm de sair da defensiva, enfrentar a intolerância, a atitude antidemocrática com unidade e com uma agenda política, uma agenda que mostre o caminho que queremos para o Brasil.
Esse evento, que vai juntar de mil a duas mil pessoas, chamado pelas entidades e partidos, será a expressão desse desejo de sair da defensiva, ir para a ofensiva política, mas com uma agenda, uma plataforma, uma visão de Brasil. Obviamente para negociar isso com o governo, com os partidos e partir para uma agenda positiva para o país.
O que destacaria na plataforma da frente?
A plataforma será trabalhada amanhã. A redução de juros, taxação de grandes fortunas estão na pauta. Enfrentar a regulação econômica da mídia, a defesa dos direitos civis contra o retrocesso e preconceito que estão existindo aí. Uma política desenvolvimentista e uma política industrial incorporando inovação. A questão da redução da jornada de trabalho. É uma série de plataformas. Cada movimento social traz a sua e devemos afunilar numa agenda comum. Acredito que vai afunilar em dez pontos, uma coisa focada, firme, no sentido de trabalhar com ela no movimento social e também propondo ao governo políticas públicas que se sintonizem com esse eixo que a Frente Brasil Popular vai lançar. Mas a essência é virar a posição defensiva para uma posição de propor, olhar o Brasil para frente.
Em que medida levar o Brasil para a frente depende do governo, já que ele está sendo cercado por uma ofensiva da direita? Qual o papel do governo no processo?
Do ponto de vista institucional, a disputa, o enfrentamento, se dá na Câmara e no Senado, mas do ponto de vista da sociedade, é você organizar a sociedade e fazer a disputa política. Inclusive porque é um governo em disputa permanentemente. Levy e Nelson Barbosa são cabeças diferentes. Essa disputa vai se dando, dentro do governo, e a sociedade também vai fazendo essa disputa. Se não houver essa articulação, não tem disputa nenhuma na sociedade. O lançamento da Frente Brasil Popular, que vai buscar se ampliar, não só na frente da esquerda, mas em uma frente mais ampla, é pra fazer a disputa na narrativa com a sociedade, e uma disputa dentro do governo também.
Historicamente, quando a esquerda se dividiu, a direita tomou o poder. Existe unidade hoje, até em torno do governo?
Sim, mas na verdade a frente não é uma frente de defesa do governo, é uma frente em defesa da democracia, contra o golpe. A defesa que se faz é do mandato constitucional da presidenta, em respeito às urnas. Essa defesa é unitária. Agora, a frente defende uma agenda, uma plataforma para o Brasil. Naquilo que o governo topa, vamos em unidade; no que não topa, vai-se fazer a disputa. Tem pessoas que são da base do governo, e tem as que não são. Nos encontramos na defesa da democracia e na defesa da plataforma.
Nós que somos da base do governo, vamos tentar abrir caminho no governo para ouvir esse movimento e disputar a plataforma dentro do governo, nós vamos ajudar nisso para ver se o governo se aproxima dessa plataforma. Esse é o nosso papel.
Numa eventual reforma ministerial, o governo deveria abrir mais espaço para a esquerda?
Acho que a pauta prioritária é a reforma ministerial, não a redução de ministérios. O problema da Dilma não é a redução ou não de ministérios, mas a reforma ministerial, que tem de visar a governabilidade, que se dá no campo institucional, como se relaciona com as bancadas e com os partidos, mas também como é com a sociedade. Então ela vai ter que olhar para a reforma ministerial olhando para os dois lados. Para aproximar a agenda do desenvolvimento e dos direitos, e ao mesmo tempo, conquistar governabilidade institucional. A reforma ministerial vai ter de ser equilibrada, e ela tem de decidir o que vai fazer, porque ainda não decidiu.
Mas não precisa ampliar o espaço de representantes da esquerda no governo?
Existe esquerda no governo. O mínimo que tem de fazer é fazer uma reforma ministerial olhando para que país ela quer. Se olhar uma agenda desenvolvimentista, uma agenda de direitos, contra o retrocesso, a reforma vai para um lado, que pode ter gente que não seja só da esquerda, mas seja desenvolvimentista também. Mas se ela olhar uma agenda de manter apenas a restrição do ajuste, aí ela se distancia dessa agenda.
Sua sensação do Congresso, hoje, em termos de golpismo, é de que melhorou ou piorou?
Acho que eles não estão enxergando espaço para isso, mas tem um setor que insiste nessa posição. Então, essa disputa ainda existe, apesar de eu achar que do ponto de vista jurídico, técnico e social, essa proposta do impeachment, de golpe, está distante. Mas eu acho que isso não está superado em parte do Congresso.
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