Miguel do Rosário: Mercadante fica (fazendo o quê?)

18 setembro 2015 - Miguel do Rosário - Análise de Conjuntura

mercadante e joao r marinho
Análise Diária de Conjuntura - 18/09/2015
Bem dizia o Barão de Itararé, de onde nada se espera, é que não sai nada mesmo.
Lula foi à Brasília insistiu para Dilma trocar Mercadante. Os líderes do PMDB e do PT insistem em trocar por outro ministro, que tenha mais diálogo com os partidos.
Nada.
Mercadante continua, sabe-se lá com que função, visto que deve perder a articulação política (que aliás nunca fez).
E o pior é que, a acreditar no que dizem os jornais, Mercadante é responsável por manter Dilma numa "redoma dourada", ou seja, não lhe fala sobre os problemas reais da política e do país.

Mercadante tem uma personalidade muito parecida à de Marta Suplicy. Possivelmente está chantageando o govenro, é a única explicação. Tipo assim: se me demitirem, eu saio atirando, viro a casaca e entro para o time da oposição.
Assim como Marta, é vaidoso, personalista, paulista e midiático.
Mercadante é a caricatura do petista que sonha em ser elogiado pela Folha de São Paulo. Nem esconde isso, vide a cartinha que mandou para o editor da Folha, Otavinho Frias, elogiando o papel de Luis Frias, seu pai, durante o regime militar.
Os livros de história contam que a Folha emprestava seus furgões para o regime transportar presos políticos para locais de tortura.
Folha e Globo, que hoje dão tanto destaque a Helio Bicudo, chamando-o de "fundador do PT", apesar dele não sê-lo, sáo os mesmos jornais que, no passado, faziam o trabalho sujo, pró-ditadura, contra o qual lutava Helio Bicudo.
A visita de Lula à Dilma rendeu a matéria principal do Globo de hoje, mas aparentemente Dilma não ouviu o ex-presidente.
Lula é o cara que, apesar de ser perseguido diuturnamente pela imprensa e pelos estamentos judiciários (mensalão, etc), terminou seu governo com a maior aprovação da história da república. Dilma bem que podia ouvi-lo um pouco mais.
O Painel da Folha vem com uma história estranhíssima de que Dilma deveria procurar FHC e Serra para aprovar medidas anticrise.
É o tipo de matéria plantada, com objetivo de convencer a presidente a ceder mais e mais à oposição. Além do mais, é armadilha. Dilma já tentou convesar várias vezes com a oposição, caindo na mesma esparrela, e foi rechaçada publicamente. São golpes políticos calculados, feitos para fortalecer a oposição e detonar o governo.
Há algumas semanas, por exemplo, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi à tribuna do congresso pedir clemência ao PSDB. Elogiou tucanos, admitiu erros e quase chamou o PSDB para governar no lugar do PT.
Resultado: o PSDB montou uma frente pró-impeachment e está mais animado do que nunca com a possibilidade de voltar ao poder via golpe.
O mais estranho nisso tudo é o silêncio de Mercadante. Se ele fosse mesmo articulador político, era para estar falando todo o dia, na imprensa, na internet.
Outro dia estava pesquisando a origem dos blogs políticos, e descobri que uma das origens de sua popularização nos EUA foi o uso por políticos populares, que os usavam para se comunicar com a sociedade.
Ou seja, os ministros poderiam ter blogs, onde poderiam expor seus pontos-de-vista e fazer a famigerada "batalha da comunicação", aquela mesma que a Dilma conclamou que fosse feita, mas qual a Batalha de Itararé, jamais aconteceu.
Enquanto aguardamos a bomba anti-PT do final de semana, o golpômetro cai um ponto. Esse é o único trunfo de Dilma: a tendência natural do golpômetro é baixar. Para mantê-lo estável ou em alta, a imprensa precisa alimentar a conjuntura com escândalos cada vez maiores.
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Não podemos ser ingênuos, porém.
Se as conspirações chegaram até aqui, quebrando grandes empresas nacionais, prendendo um executivo como Marcelo Odebrecht, fazendo o país perder R$ 140 bilhões, derrubando a economia, é claro que eles estão dispostos a ir até o fim. Quando eles recuam, é porque sentem que o momento ainda não está maduro.
Ainda é preciso despelotar um pouco mais a imagem do PT junto à opinião pública, antes de acender o baseado do impeachment.
Então esperarão sair novas pesquisas Datafolha e Ibope. Aguardarão mais vazamentos coletivos. As CPIs de Eduardo Cunha continuarão fazendo o trabalho sujo.
À militância de esquerda, pede-se que mantenha a espinha firme e o coração preparado para os terremotos que ainda virão.
Entretanto, o governo não pode agarrar-se exclusivamente ao vitimismo antigolpista. A questão do "golpe" não pode ser o único argumento.
Dilma decidiu não trocar Mercadante, contra a opinião de tudo e todos. Não quer trocar Cardoso. Então precisa oferecer alguma iniciativa. Trocar esses ministros, que se mostram totalmente inúteis diante dos desafios trazidos pelas conspirações midiatico-judiciais e pelo golpe, seria uma medida salutar, uma oxigenação do governo.
Por outro lado, diante dos rumores de que Dilma queria trocar Mercadante por Katia Abreu, os apoiadores de Dilma ficam até aliviados por ela não ter feito nada.
Katia Abreu permanece na Agricultura.
Mercadante, mesmo ficando, deve perder atribuições.
A articulação política deve ficar a cargo do assessor mais antigo de Dilma, Giles Azevedo. Todos reconhecem a competência de Azevedo, mas ele é discreto e silencioso, e o governo ainda tem carência de uma voz, algúem que possa fazer a batalha política no dia a dia.
Se a batalha do impeachment já começou, cabe ao governo fazer uma reforma ministerial que leve em conta essa realidade. A estratégia de não responder apenas reforça a agressividade dos adversários, que encaram o silêncio com irritação crescente, e, com isso, vão testando seus limites até níveis insuportáveis, flertando com a ofensa e com o golpismo.

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