Fernando Brito: As vaidades são as desculpas dos incapazes
As especulações crescentes sobre uma eventual saída do Ministro Joaquim Levy da pasta da Fazenda têm, boa parte de exploração política mas, também, um fundamento real.
Levy não pôde entregar a “mercadoria” que prometeu, um ajuste rápido, profundo, seguido de uma recuperação modesta, mas crescente, da economia.
É óbvio que, em grande parte, por fatores que estavam além de seu controle.
Desde os mundiais – porque o cenário no início do ano era o de progressiva recuperação da economia global – até os políticos, pois a cooperação de um Legislativo sublevado, sob o comando de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, empenhados em criar despesas e recusar qualquer possibilidade de ganho de receitas, que que só agora aconteceu – e timidamente – com a redução da desoneração tributária em alguns setores antes beneficiados pela política expansionista do primeiro mandato de Dilma.
Se há algo, porém, de que Levy não pode reclamar é do apoio que teve de Dilma Rousseff, ao ponto de ter a Presidenta ter permitido que se enviasse à população uma imagem em muitos pontos inversas àquelas que tinha e que a levaram ao triunfo eleitoral.
Talvez ele, Levy, tenham levado algum tempo para se dar conta de que não são políticas conservadores o que querem os conservadores no Brasil.
O que querem – e ao ver a possibilidade disso entram num estado de incontrolável excitação – é ter o poder de volta, pela via da demolição do governo que, pela quarta vez desde 2002, os venceu nas urnas.
E que, para isso, não hesitam em apostar numa situação caótica, algo nada difícil de alcançar, com o coquetel que mistura nossos problemas intrínsecos, os conjunturais, os globais, tudo regado ao molho de uma mídia que se tornou puerilmente furibunda e perversamente seletiva em sua indignação.
Joaquim Levy deveria entender que está sendo derrotado por aqueles a quem quer agradar e não pelos que nos desagradamos de sua escolha para Ministro da Fazenda.
Entre outras razões, porque somos a outra mão, além daquela de “tesoura” que o notabilizou, necessária ao equilíbrio das contas públicas, a que é capaz de pugnar por uma receita maior e mais bem distribuída no corpo da sociedade, pois a estrutura tributária brasileira é um caso antológico de desequilíbrio e injustiça.
E, convenhamos, também um caso patológico de complicação, ineficiência e deformações, além da sonegação “lavajática” que surge nas maracutaias reveladas na Operação Zelotes que, embora imensas, estão longe de ser a causa de nossas agruras, embora estejam perto de revelar os descaminhos do imposto no Brasil.
Levy e seus cortes são parte importante da busca do reequilíbrio fiscal, mas Levy e seus cortes não são um horizonte que nos reequilibre e nos devolva o senso de direção indispensável para os agentes econômicos – dentre os quais frequentemente esquece-se de incluir o povão.
Apesar de todos os problemas reais porque passamos – desde os nossos até os que nos vêm de fora – o nosso problema central é o da falta de confiança.
Era essa a missão essencial que lhe foi atribuída.
E ela não será cumprida porque sua presença agrada aos grandes, que estão se lixando para a sua permanência no cargo e fariam de sua saída apenas mais uma ferramente da lucrativa especulação financeira.
Ninguém sabe o que temos pela frente, mas tem faltado ao Ministro Levy a capacidade de entender que não tem sido capaz de apontar o saídas e que que é disto que lhe vem a grandeza possível da posição que ocupa.
Levy tem toda a razão em reclamar das “trapalhadas” erráticas do Governo e nenhuma razão para achar que não é parte delas.
Muito menos em achar que é possível ser o “comandante” da economia e achar que os problemas da política não são seus, ainda que os Mercadante da vida tornem mais difícil o que muito difícil é.
Se não pode haver retomada da economia sem ajuste nas contas, é um fato já visto que igualmente não pode haver ajuste sem um mínimo de retomada da atividade econômica.
É este o impasse que precisa ser resolvido e ele está na capacidade de criarem-se as condições políticas para sustentar medidas estruturais que o permitam.
E a política, neste momento, e a única porta para resolvê-lo e é o que Lula tenta dizer ao pedir que o Governo restabeleça um mínimo de capacidade de articular-se com o (ex?) centrão liderado pelo PSDB.
É mais que hora de se perceber que nossa chance de vencer a crise, como fez aquele a quem chamaram de “simplório” ao afirmar que o tsunami da crise de 2008 viraria aqui marolinha, é crescer.
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