André Vieira: Financiador do prefeito Eduardo Paes lucra com Olimpíadas do Rio de Janeiro

Empresário tomou os noticiários ao falar que não cabem pobres na Barra da Tijuca; o magnata brasileiro é dono de pelo menos seis milhões de metros quadrados de terras no bairro da zona oeste carioca.

Brasil de Fato - Por André Vieira - Rio de Janeiro - 11/09/2015



13º homem mais rico do Brasil, Carlos Carvalho | Foto: Divulgação/BBC
Os Jogos Olímpicos serão em 2016, mas um brasileiro, mesmo sem ser atleta, já está comemorando uma vitória, ao menos na categoria valorização de imóveis e terrenos. É o “dono da Barra”, como é conhecido o magnata brasileiro Carlos Fernando de Carvalho.
Generoso financiador da reeleição de Eduardo Paes (PMDB) - sua empresa doou R$ 150 mil para a campanha do atual prefeito do Rio de Janeiro -, o empresário é dono de pelo menos seis milhões de metros quadrados de terras na Barra da Tijuca, bairro na zona oeste que concentrará grande parte das atividades olímpicas.
Com a confirmação do maior evento esportivo mundial, a região do “dono da Barra” tem sido privilegiada com a chegada de bilhões de reais em obras de infraestrutura, como a linha 4 do metrô e a construção do BRT (TransOlímpica, TransOeste e TransCarioca), dentre outras. "Sem a Olimpíada, não seria possível negociar essa área em menos de 20 anos", disse Carvalho em matéria publicada pela revista Exame em 2011.
Obras Olímpicas

Fundador da empreiteira Carvalho Hosken em 1951, Carlos Carvalho, aos 91 anos de idade, é apontado como a 13ª pessoa mais rica do Brasil, segundo a lista de bilionários da Bloomberg. Nas terras de Carvalho está sendo construída a Vila Olímpica, que hospedará cerca de 17 mil atletas e comissões técnicas durante os jogos de 2016.
Essa obra foi denunciada pelo Ministério Público do Trabalho no mês passado sob a suspeita de trabalho escravo praticado por uma construtora que presta serviços ao empreendimento. Passados os jogos, cada apartamento deverá ser vendido por mais de R$ 1 milhão.
A empresa do bilionário também é responsável pela construção do Parque Olímpico, ao lado das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, que será palco das competições de 16 modalidades esportivas.
Paga a banda, escolhe a música
Recentemente o empresário Carlos Carvalho ocupou os noticiários por conta de uma declaração, no mínimo, preconceituosa. Em entrevista à agencia britânica BBC Brasil, ao comentar sobre a permanência de moradores de baixa renda na região, ele soltou o verbo. “Como é que você vai botar o pobre ali? Ele tem que morar perto porque presta serviço e ganha dinheiro com quem pode, mas você só deve botar ali quem pode, senão você estraga tudo, joga o dinheiro fora”, disse.
Tobias Faria, do Instituto de Formação Humana e Educação Popular (IFHEP), pondera que é complicada a relação entre financiadores de campanhas eleitorais e políticos eleitos. Ao comentar sobre o “dono da Barra” e sua relação com o prefeito Eduardo Paes, Tobias chama atenção para o fato de que as empresas doadoras, na verdade, fazem investimento no político. “Os interesses que estão em jogo na Barra da Tijuca são claramente os interesses das empresas imobiliárias”, critica.
Vila Autódromo
Símbolo de resistência, a comunidade Vila Autódromo, localizada ao lado do Parque Olímpico, foi atingida por um decreto da Prefeitura, que obrigou dezenas de moradores a deixarem as casas em que viviam durante anos para as obras das Olimpíadas, evento que durará menos de um mês.
“Quem conhece a Vila Autódromo sabe o que estão fazendo lá. Desalojando um espaço de convivência, moradia, espaço em que uma comunidade morava durante anos em função da especulação imobiliária. Estão transformando toda aquela região num espaço caro para vender imóveis. É um desrespeito com os moradores que vivem ali e que estão resistindo, mas que estão sendo derrotados”, finaliza o educador popular Tobias Faria.

Comentários