Vice assume lugar de prefeita foragida em cidade do Maranhão


Prefeita foragida

A vice-prefeita de Bom Jardim (a 275 km de São Luís, no Maranhão), Malrinete Gralhada (PMDB), assumiu o comando da prefeitura nesta sexta-feira (29) no Fórum da cidade. Ela foi empossada pelo juiz Cristovão Sousa Barros, da 2ª Vara Criminal. A posse deveria ter ocorrido na Câmara de Vereadores, mas um desencontro com o presidente da Casa impediu que isso ocorresse.

A cidade estava sem comando desde que a prefeita Lidiane Leite da Silva (PP), de 25 anos, fugiu após ter a prisão decretada pela Justiça por causa da Operação Éden , da Polícia Federal. Na quinta-feira (27), a Justiça determinou que a vice assumisse o cargo imediatamente.

Suspeita de desviar recursos de escolas municipais, Lidiane está foragida desde o dia 20 de agosto. Ela ficou conhecida por publicar nas redes sociais fotos em que aparece ostentando luxo.

A Operação Éden apura fraudes em licitações, desvio de dinheiro e transferências bancárias irregulares.

Enquanto ainda estava no cargo, Lidiane gostava de compartilhar selfies nas redes sociais segurando taças de champanhe ou fazendo poses com amigas e com um personal trainer. Também comentava sobre suas compras.

Devia era comprar um carro mais luxuoso porque graças a Deus o dinheiro está sobrando , escreveu.Além da Polícia Federal, o Ministério Público do Maranhão e a Polícia Civil também participam das investigações. Os ex-secretários municipais Antônio Cesarino e Beto Rocha foram presos.

Dinheiro sobrando - Para quem quiser conhecer toda essa história de corrupção da prefeita larapia, o jornal O Globo, publicou uma longa matéria. Leia a seguir


Antes de se tornar prefeita por acaso e passar a ostentar uma vida de luxo nas redes sociais, a jovem Lidiane Leite da Silva, de 25 anos, vendia leite na porta da casa da mãe para sobreviver na pequena Bom Jardim, no Maranhão. Na cidade onde nasceu e foi criada, estudou até o ensino fundamental. Se valia da simpatia e da boa aparência para atrair a freguesia e acabou chamando a atenção de Humberto Dantas dos Santos, o Beto Rocha, fazendeiro de Lagarto (SE), com quem iniciou o namoro que mudaria sua vida para sempre.

O fazendeiro com patrimônio em torno de R$ 14 milhões, incluindo fazendas, caminhonetes de luxo e apartamentos em São Luís, foi lançado em 2012 pelo PMN como candidato a prefeito de Bom Jardim, mas teve a candidatura impugnada no mês agosto, após o Ministério Público Eleitoral (MPE) denunciar à Justiça a prática de "captação ilícita de sufrágio" (compra de voto).

Beto então renunciou e lançou a candidatura da namorada pelo PRB, com limite de gasto de até R$ 500 mil. Lidiane, que sequer possuía bens registrados em seu nome, acabou se elegendo com 50,2% dos votos válidos (9.575) frente ao principal adversário, o médico Dr. Francisco (PMDB), que obteve 48,7% (9.289). Beto então assumiu a Secretaria Municipal de Assuntos Políticos e acabou preso na "Operação Éden", na quinta-feira (20).

A rotina de viagens, festas, roupas caras, veículos e passeios de luxo é incompatível com o salário de pouco mais de R$ 12 mil que Lidiane recebia como prefeita de Bom Jardim e passou a compartilhar por meio de fotos nas redes sociais.

"Eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô nem aí pra o que achem. Beijinho no ombro pros recalcados". Em outro post, ela diz: "Devia era comprar um carro mais luxuoso pq graças a Deus o dinheiro ta sobrando (sic)".

No Maranhão, entre 217 municípios, Bom Jardim ocupa a 175ª posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) da Organização das Nações Unidas (ONU), que analisa o acesso à educação, renda e expectativa de vida. É considerada a segunda pior cidade para se viver no Vale do Pindaré, composto por outras 22 localidades.

No município, o clima é de incerteza. Os vereadores estão impedidos de realizar votação para afastar a prefeita por causa de uma medida cautelar obtida por Lidiane na Justiça. Ela já havia sido afastada três vezes do cargo: a primeira em abril de 2014, pelo prazo de 30 dias, após denúncias de improbidade administrativa, retornando ao cargo em 72 horas, depois de obter liminar na Justiça; a segunda pelo período de 180 dias, em dezembro de 2014, com liminar suspensa pelo Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA) em 48 horas; e, na terceira, em maio de 2015, retornando em 72 horas.

Procurada pela PF

A PF lançou nesta segunda-feira (24) um alerta: quem ajudar a prefeita a se esconder será tratado como integrante de organização criminosa, de acordo com o superintendente da PF no Maranhão Alexandre Saraiva.

"Pelo tempo que ela está desaparecida, é muito provável que ela esteja recebendo o auxílio de outras pessoas. Isso pode fazer com que essas pessoas sejam incluídas na organização criminosa que se investiga", disse.

A PF informou também que a vigilância em aeroportos e rodoviárias foi reforçada. Além de Beto Rocha, está preso o ex-secretário de Agricultura, Antônio Gomes da Silva, conhecido como Antônio Cesarino.

Esquema

A polícia investiga transferências de cerca de R$ 1 mil realizadas da conta da prefeitura para a conta pessoal de Lidiane que chegam a R$ 40 mil em um ano. Também foram feitas transferências para o advogado da prefeitura, Danilo Mohana, que somam mais de R$ 200 mil em pouco mais de um ano.
Além da prefeita, secretários, ex-secretários e empresários também estão sendo investigados por causa de irregularidades encontradas em contratos firmados com "empresas-fantasmas". Houve duas licitações para reformar 13 escolas, pelas quais a "Zabar Produções" obteve R$ 1,3 milhão e a "Ecolimp" recebeu R$ 1,8 milhão. Nenhuma das empresas foi encontrada.

Em 2013, a prefeitura firmou contrato com 16 agricultores para o fornecimento de merenda escolar nas escolas municipais, pelos quais cada agricultor receberia em média R$ 18 mil por ano. Os agricultores afirmaram que não receberam os pagamentos.

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