Paulo Nogueira: Onde foram parar os valentes jornalistas da Globo que defendiam o impeachment?

Postado em 11 ago 2015
O patriarca morreu, mas o papismo foi mantido pelos três herdeiros
O patriarca morreu, mas o papismo foi mantido pelos três herdeiros
Uma coisa eu preciso reconhecer na família Marinho: ela sabe dar ordens.
Nisso, é bem diferente da família Civita, que não consegue pedir um café para o mordomo.
Nem bem João Roberto Marinho disse aos senadores do PT que transmitiria a seus editores o que ouvira deles, o noticiário da Globo mudou consideravelmente.
Em todas as mídias.
O que João ouviu é o que todos já sabiam: que a cobertura da Globo vinha sendo escandolasamente enviesada contra o governo.
João prometeu aos senadores que iria avisá-los do diagnóstico prontamente.
Presumo, pelo que conheço da Globo, que ele mandou um email sintético, que é seu estilo, aos integrantes do Conedit, o Conselho Editorial.
Acabou.

No Jornal Nacional da sexta-feira, um milagre: a dupla aparição de Dilma e Lula em reportagens diferentes.
Há quanto tempo o JN não abria espaço duplo para coisas do PT? Uma eternidade.
Os jornalistas da Globo sabem que o preço da visibilidade é a submissão.
Ou o papismo.
Na biografia de Bial sobre Roberto Marinho, um episódio revelador é narrado.
O jornalista Evandro de Andrade estava conversando com Roberto Marinho sobre a possibilidade de chefiar o Globo.
Evandro, numa carta, garantiu a RM que era “papista”. O papa falou, acabou: passemos para o próximo assunto.
Imagine, apenas a título de especulação, que Ali Kamel se insurgisse e continuasse a acelerar enquanto os patrões pedem que se freie.
Quantas horas até ele ser removido? E alguém trataria de espalhar, nos corredores do poder na Globo, que Kamel foi vitimado pelo Ibope. Pegou, afinal, o Jornal Nacional com mais que o dobro da audiência atual.
Mas isso não vai acontecer, porque Kamel é papista. Você não faz carreira na Globo se não for.
A Globo freando, as demais empresas jornalísticas fizeram o mesmo, excetuada a Abril com a Veja.
Para a Veja, não há mais recuo possível. O estrago por anos de jornalismo criminoso é de tal monta que simplesmente não existe um caminho de volta.
Os atuais leitores – analfabetos políticos de classe média que tem raiva de pobres, negros, homossexuais, índios e demais minorias – debandariam. E os antigos jamais retornariam.
A Folha e o UOL, da família Frias, parecem ter também desistido de atear fogo. Todos os dias, na home do UOL, o blogueiro Josias de Souza decretava o fim do governo.
Procurei Josias hoje, na home, e não encontrei. Fui a seu blog, e encontrei um tom que nada tem a ver com a gritaria dos últimos meses.
A coragem dos colunistas e comentaristas da grande mídia vai até o exíguo limite de uma ordem patronal.
No Facebook, Eric Bretas, diretor de mídias digitais da Globo, disse que o editorial da Globo provava que jornalistas e donos não têm a mesma opinião.
Respondi que respeitaria os aloprados da Globo se eles, diante das novas instruções de JRM, continuassem a fazer o que vinham fazendo.
Claro que isso não aconteceu.
Certamente os papistas da Globo encontraram, como sempre, vários motivos para pensar exatamente igual aos donos.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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