Moisés Mendes: esgotou-se o repertório de Lobão
Lobão já fez o seu número na campanha pelo impeachment. Esgotou o repertório, na política e na arte. Há décadas, canta a mesma música, com aquele refrão infantil — me chama, me chama —, e ultimamente decidiu compor modinhas de protesto contra o governo, depois de desistir de participar de passeatas.
Dizem que é um show fraco. Tanto que uma apresentação marcada para quarta-feira, no Teatro Feevale, em Novo Hamburgo, foi cancelada por falta de público, como admitiram os próprios organizadores.
Pouco mais de 50 pessoas teriam comprado ingresso. Lobão se negou a cantar para 50 pessoas. Pois deveria ter ido até o fim, em nome da fidelidade ao seu público, como fez o líder estudantil Kim Patroca Kataguiri.
No dia 24 de abril, no embalo dos protestos de rua, Kim organizou A Grande Marcha, que saiu de São Paulo em direção a Brasília. Ao final da procissão, estimulada por raposões da oposição, Dilma seria derrubada. Mais de 50 mil pessoas chegariam ao Planalto Central para tomar o poder. No dia 30 de maio, chegaram oito. Mas Kim foi até o final.
Lobão se recusou a cantar para meia centena. Não aprendeu com o menino Kim uma lição de humildade, que até os golpistas deveriam assimilar.
Outra coisa que Lobão não sabe é que não há arte de direita. Desde tempos medievais, construiu-se essa imagem de que artista independente é o que só fala mal do governo. É uma ideia consagrada pelo humor em geral como ícone da resistência aos déspotas.
Artistas que se dedicam a espinafrar governos são, de fato, os que produzem o melhor humor. Mas isso não significa "arte" de direita, que raramente funciona, no humor ou na música. A transgressão nunca será produto de reacionários. Não há no mundo um caso de humor direitoso de qualidade como o pretendido por Lobão e sua viola. Quem discordar deve apresentar provas.
Foi por isso que o público do Vale do Sinos se negou a ver Lobão. Muita gente deve querer o impeachment de Dilma, mesmo que sob a liderança de Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro (e dos outros que se escondem atrás do muro). Mas poucos se dispõem a ver um show fraco.
Lobão deveria saber que arte e política só funcionam à esquerda, com artistas panfletários e seus sucessos que todos conhecem. Alguns são geniais. Mas a direita pretendida como arte não funciona, nem em teatros, circos ou quermesses. O público sabe disso.
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