Luis Nassif: Os dilemas de Dilma


Ambiente desanuviado após o pacote Renan Calheiros. Na verdade, é uma soma de propostas de Joaquim Levy e Delfim Neto. Como se diz em Brasília, os profissionais entraram em campo. Restou ao PT ir a reboque de Renan.
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Entra-se, agora, em uma fase de muitas indefinições à espera de algumas definições, em um quadro em que há muitas informações ainda não reveladas pela Lava Jato.
Em círculos mais próximos ao Palácio, espera-se que a iniciativa de Renan convença Dilma Rousseff a sair da inércia.
Hoje em dia, o governo está completamente paralisado. Há boas iniciativas nos diversos Ministérios, paralisadas pela inércia de Dilma.

A presidente isolou-se mais ainda, inclusive de seu círculo mais próximo: o Chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante.
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O isolamento de Dilma tem produzido um festival de tiros internos, de integrantes do primeiro escalão espalhando balões de ensaio sobre colegas.
Dilma segue uma estratégia dos tempos de guerrilha, de segmentar as informações que passa para os assessores, para identificar fontes de vazamento. Quando localiza, dá uma bronca, mas não interrompe a guerrilha.
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Os vazamentos não têm nenhuma relevância em si, são as pequenas futricas que fazem a glória dos setoristas de Brasília. Mas são sinais eloquentes da falta de um rumo ou uma liderança consistente, o que faz com que cada Ministro procure se blindar junto aos jornalistas que cobrem sua área.
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Há um enorme conjunto de temas à espera de definições.
Por exemplo, o programa Brasil Carinhoso visa proporcionar renda mínima de R$ 77,00 por pessoa a famílias na linha de extrema pobreza. Com a inflação, esse valor foi corroído, mas não se consegue discutir ajustes.
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O MEC (Ministério da Educação) está praticamente paralisado, sem avançar no planejamento estratégico e refém da chamada bancada BBB (Biblia, Bala e Boi). A Secretaria da Presidência criou um Comitê de Costumes para analisar todo o conteúdo dos programas do MEC e da Saúde.
Recentemente, o Comitê vetou a cartilha Escola Sem Homofobia. Tudo devido às ameaças da bancada evangélica de trancar a pauta de votações.
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Chama atenção a forma como Dilma se rendeu totalmente aos argumentos de Levy, a ponto de avalizar sua posição de não rever as metas de superávit fiscal quando todos os sinais já indicavam a frustração da receita com a recessão.
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Por todos esses fatores, aguarda-se que venha em breve uma reforma ministerial, na qual Dilma possa se cercar de uma estrutura mais profissional de conselheiros e analistas e sair desse isolamento massacrante.
O pacote Renan acena a ela com uma sobrevida política. É relevante ao abordar alguns temas ligados à competitividade e à redução da burocracia. Mas embute o risco de desmontar a herança da Constituição de 1988.
Se Dilma não tiver iniciativa de blindar algumas políticas sociais centrais – como a universalização do SUS (Sistema Único de Saúde) ou o respeito às terras indígenas – poderá ser a pá de cal em qualquer veleidade programática tanto dela quanto do PT.
A cada dia, a Lava Jato desmonta a imagem do PT de um partido diferenciado. Sem a bandeira da ética, restou a bandeira social. Se nem essa for defendida, Dilma se verá na situação da donzela que trocou de namorado, foi ao baile com outro pretendente, viu-se abandonada, mas não conseguiu mais o primeiro namorado de volta.

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