Luis Nassif: Mirian e Sardenberg, a vingança sufocando a generosidade


No dia 13 de maio de 2013, Luiz Alberto Marques Vieira Filho cometeu a imprudência de acrescentar dados nos perfis da Wikipedia de dois jornalistas da Globo, Mirian Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, utilizando um computador ligado à rede do Palácio do Planalto.
O autor é funcionário de carreira do Ministério da Fazenda e na época estava lotado na Secretaria de Relações Institucionais.
No perfil de Sardenberg acrescentou que seu irmão, Rubens Sardenberg, é economista-chefe da Febraban, “instituição que tem grande interesse na manutenção dos juros altos no Brasil”. Acrescentava que “a relação familiar denota um conflito de interesses em sua posição como colunista-econômico”. Depois, apontava “erros notáveis” em algumas previsões de Sardenberg,
Sardenberg, de fato, é um histórico defensor de juros altos – ou seja, é daqueles jornalistas que consideram a taxa de juros a variável principal da economia, à qual todos os demais fatores se subordinam. E cometeu, de fato, “ erros notáveis” de previsões, comuns em todos nós, que trabalhamos com cenários.

Houve uma evidente forçada de barra de Vieira Filho de atribuir essa posição pró-juros ao parentesco de Sardenberg. Mas muito longe do que caracterizaria uma campanha difamatória ou caluniosa.
Em relação a Mirian, incluiu comentários sobre “análises desastrosas” que teria feito e afirmou que ela teria cometido “a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas”.
Na verdade, Mirian embatucou no comentário, quando confrontada com a notícia da prisão do banqueiro.
O constrangimento de Mirian devia-se ao fato de, na época, o Opportunity patrocinar o site de seu marido, economista da área de meio ambiente. Nada disso a comprometia, mas foi evidente seu desconforto em comentar o caso.

O factoide criado

Aí entra em ação a mão pesada da mídia e um surpreendente sentimento de vingança dos dois jornalistas.
A velha mídia criava um escândalo por dia para fustigar o governo. As mudanças na Wikipedia foram descobertas meses depois de terem sido incluídas. Era um mero caso de uma pessoa utilizando indevidamente uma rede de computador corporativa para fins indevidos – algo comuníssimo em qualquer corporação que disponha de rede de micros.
Mas criou-se um escândalo tentando transformar os dois comentários em campanha política, pelo fato de terem saído de um computador da rede do Palácio. O factoide mereceu o inacreditável endosso da presidente Dilma Rousseff.
E aí se entra no campo da retaliação, de dois jornalistas dos mais conhecidos, escudados na enorme estrutura e influência de seus veículos, contra a pessoa física do servidor que ousou tocar no seu perfil.
Se Vieira Filho mereceu castigo, ele veio na forma de censura interna e da perda do cargo que tinha no Conselho do Banco do Brasil. 
Mas os dois jornalistas acharam pouco. Foram abertos quatro processos, dois na esfera civil, dois na esfera penal.
Os processos penais não resultaram em nada, por não haver crime. O próprio Ministério Público do Distrito Federal propôs uma “transação penal”, para evitar que o processo fosse iniciado. Portanto, as queixas crimes sequer foram aceitas.
Mesmo assim os jornais apresentaram a proposta como se fosse uma condenação penal.
O Procurador Douglas Ivanowski Kirchner, a quem competiu conduzir as ações criminais, julgou-as desnecessárias.
“Devido às sanções administrativas, se revela desnecessária a atuação ministerial para o caso em tela, visto não haver indícios de utilização política da máquina pública, seja pela atuação isolada daquele servidor, não restando comprovada, inclusive, qualquer diretiva superior pautando a sua conduta, seja pela conclusão do órgão da Presidência de ter havido a simples infração de não observância das normas legais e regulamentares”, diz ele em um despacho coroado de bom senso.
“Em relação à questão criminal, nenhuma investigação foi realizada tendo em vista a inexistência de repercussão do feito no âmbito penal, sendo atípica a conduta do ex-servidor investigado. Em face de todo o acima expendido, determino o arquivamento do presidente inquérito Civil”.
Ações sem fundamento têm consequências pesadas no bolso do processado. A conta dos processos já bate em R$ 160 mil. A tensão, agravada por diabetes, fez com que Vieira Filho perdesse a visão do olho esquerdo por quatro meses. A esposa, grávida, tem repartido as agruras com o marido. Ainda esta semana teve um descolamento da placenta e quase perdeu o bebê.
A guerra política acaba revelando o lado mais cruel da personalidade das pessoas. Um pouco de generosidade seria um exemplo relevante para pacificação dessa guerra implacável que toma conta do país. E faria muito bem para a biografia dos dois jornalistas.

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