Luis Nassif: A dificuldade em se montar o segundo tempo

Há notícias de que a presidente Dilma Rousseff pretende desfechar um plano de marketing para conter a queda da popularidade.
Na política, recorre ao marketing que não tem discurso. Exposição pública sem conteúdo é tiro no pé, tão grande quanto os passeios de bicicleta denotando uma (falsa) tranquilidade que não passa a ideia de solidariedade com as vítimas da crise.
Não será percorrendo o país e relembrando o passado que Dilma conseguirá reverter sua impopularidade.

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Para um governo minimamente estruturado, o passo que precederia o marketing seria entender o futuro, ter um projeto de país na cabeça, saber o que propor. É por aí que são trabalhadas as expectativas tanto dos empresários como do público em geral.
Em algumas áreas está sendo retomado o diálogo. É o caso do MDIC  (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), reestruturando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI).
Há bons interlocutores setoriais na Agricultura, Desenvolvimento Agrário, Pequenas e Micro Empresas, Educação, Ciência e Tecnologia. Na área macro, Nelson Barbosa conseguiu se fazer respeitar junto ao setor real da economia, e Joaquim Levy junto ao mercado – apesar da notória insuficiência de seu ajuste fiscal.
Finalmente, depois de um início algo desastroso, o Ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, começa a pegar a embocadura e a rascunhar as peças de um projeto de país.
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Por outro lado, há um cansaço com o pessimismo militante da mídia, com o negativismo sem propostas da oposição e com esse clima permanente de golpe paraguaio no ar.
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Esta semana há dois episódios divisores de água, que definirão os próximos passos da política e do governo.
O primeiro foi a nova etapa da Lava Jato com um detalhamento até agora inédito dos esquemas de financiamento politico. A operação atinge o PT  mas não chega em Dilma.
O estardalhaço midiático, a falta de cuidados no vazamento de informações e a blindagem de caciques da oposição são aspectos negativos da operação. Mas não comprometem o fato de que as ferramentas de combate à corrupção atingiram um nível de eficácia inédito, com o uso de modernos instrumentos tecnológicos e parcerias internacionais.
Não dá mais para prosseguir no velho modelo de lotear estatais e cargos públicos para garantir a governabilidade. Nem para aceitar mais a parceria Gilmar Mendes-Eduardo Cunha de barrar o fim do financiamento privado de campanha.
De qualquer forma, o Ministério Público Federal ainda não passou pela prova do pudim: avançar em investigações sem contar com a parceria com os grupos de mídia e seus aliados. Mantem uma desconfortável zona de impunidade na sua linha de atuação.
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O segundo passo deverá acontecer até o final da semana, com o possível indiciamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Barradas as tentativas de golpe paraguaio do TCU (Tribunal de Contas da União) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o afastamento de Cunha abre espaço para uma recomposição do PMDB em torno do vice-presidente Michel Temer.
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Se o Planalto saísse da sua apatia, poderia começar agora a preparar o próximo tempo do jogo, expondo um plano crível para mudar as expectativas negativas em relação à economia e ao país.
Caso contrário, faria melhor em terceirizar a condução do governo para Temer.

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