Luciana Genro: “Dilma não vai cair porque isso atrapalha o ajuste econômico”

Ela
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Militando ao lado do seu partido PSOL contra a redução da maioridade penal e as manobras de Eduardo Cunha no Congresso, Luciana Genro disse que “o Brasil precisa de um novo junho de 2013”.
A filha de Tarso Genro acredita que a mobilização social pode gerar pautas mais concretas do que os eventos difusos de dois anos atrás.
A ex-candidata à presidência da República em 2014 também não crê que Dilma Rousseff vai cair, aposta na queda do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e defende a manifestação de rua como uma resposta crítica à corrupção.
O DCM conversou com ela sobre esses assuntos e também sobre a Lava Jato e o depoimento da advogada Beatriz Catta Preta, que afirmou que se sentiu ameaçada pela CPI da Petrobras.
Luciana, você afirmou que é necessário um “novo junho de 2013″ com pautas claras. Como mobilizar as ruas com movimentos de direita presentes?

Não acredito que haja tantos movimentos de direita nas ruas. O que existe é gente de direita, e gente muito confusa sendo dirigida por lideranças da direita. Mas eles não têm um movimento social organizado.
Até porque nunca foi a tradição da direita se organizar em movimentos sociais. Não estou subestimando o fato de que a situação política está polarizada, mas creio que a mobilização é a melhor forma de responder ao ajuste fiscal e à corrupção. Precisamos de um novo junho com um programa claro de mudanças estruturais.
O ideal neste momento de crise seria uma Assembleia Popular Constituinte, já eleita a partir de novas regras. Ela seria eleita sem o dinheiro das empreiteiras e a desigualdade que caracteriza a disputa eleitoral. Isso só será possível se as ruas exigirem tais mudanças.
A senhora acredita que o governo Dilma cai antes do fim do segundo mandato?
Não creio que a Dilma caia, exceto se surgir algo muito claro que a envolva pessoalmente na corrupção, o que eu não penso que vá ocorrer. Dilma não vai cair porque a burguesia não tem interesse em derrubá-la, o que traria ainda mais instabilidade e dificuldades para implementar o ajuste econômico. O que eles querem, e já têm, é um governo fraco, rendido e disposto a aplicar as medidas que garantam superávit. Isso para seguir pagando os juros da dívida e sustentando os lucros dos bancos e grandes especuladores.
O movimento da direita em 15 de agosto pode amedrontar a esquerda? 
A nós não amedronta. Se eles querem disputar nas ruas, vamos lá.
Na sua opinião, quando o país voltará a crescer após esse ajuste fiscal? 
Esse ajuste fiscal vai afundar o Brasil. Vêm aí mais recessão, desemprego, arrocho salarial e deterioração dos serviços públicos. Após uns dois ou três anos pode voltar a crescer, mas sob a base de uma queda enorme. Isso prova que a política do PT foi um fracasso.
Não é porque eles gastaram demais, como diz o PSDB, mas por que eles não mexeram nas estruturas econômicas, como o problema da dívida pública. Eles mantiveram a mesma política econômica do PSDB, de submissão ao capital financeiro.
A política do PT não mexeu na estrutura tributária, mantendo privilégios aos bancos, acionistas e milionários que pagam pouco imposto. Também não mexeu na estrutura política, mantendo a lógica do toma-la-dá-cá, a corrupção e o aparelhamento do Estado.
Eduardo Cunha deve permanecer blindado após as recentes denúncias milionárias dele na Lava Jato?
Acho que Cunha vai acabar caindo. Ele não é só um homem de direita, mas sim um gângster da política. Ele tem sua serventia para a burguesia, no entanto pode ser descartado quando passa dos limites. Acho que ele já passou.
Qual é a sua opinião sobre o último depoimento da advogada Catta Preta e o futuro da Lava Jato? 
O depoimento da advogada mostra até onde Eduardo Cunha está disposto a ir para se proteger. Ele é um perigo. A Lava Jato não pode parar. A operação tem que seguir e desbaratar todos os esquemas que saqueiam as nossas estatais.
Como a senhora avalia o desempenho do PSOL diante dos desmandos de Cunha no Congresso? 
Nossa bancada fez o possível e o impossível. Somos poucos, mas muito atuantes e combativos. Muitas vezes nossos deputados são os únicos a se opor de forma veemente aos desmandos de Cunha e protagonizamos bons embates para contrapor sua agenda reacionária e de assistencialismo em relação aos parlamentares.
Nossos mandatos parlamentares são instrumentos de luta dos trabalhadores e estão à serviço das causas democráticas, como a luta das mulheres, dos negros, da juventude e da população LGBT.
Na avaliação da senhora, Michel Temer está tentando diminuir a atuação de Eduardo Cunha no PMDB? Ele tenta manter a governabilidade?
Me parece que os dois têm uma disputa de poder dentro do PMDB. Temer está mais empenhado em ajudar o governo a aplicar o ajuste contra o povo e Cunha, em criar dificuldades para vender facilidades.
Isto é, Eduardo Cunha quer dificultar a vida do governo para ganhar sua proteção no escândalo da Lava Jato. Ele está envolvido até o pescoço. Mas o governo está tão fraco que não consegue proteger nem os seus.
Posições como a do PSTU, e de movimentos como Movimento Negação da Negação (MNN), pedindo pelo Fora Dilma, enfraquecem a frente de esquerda no país? 
De qual frente de esquerda você fala? Frente de esquerda com o PT para mim não existe. Como poderia fazer frente de esquerda com o partido que aplica a política da direita? Que promove o desemprego e a retirada de direitos sociais ao mesmo tempo em que mantém os privilégios dos milionários e dos bancos?
O PSOL quer construir um terceiro campo, de oposição de esquerda ao governo Dilma e à direita.
Qual será o futuro político da senhora? Prefeitura de Porto Alegre em 2016? Presidência em 2018? E quais serão os próximos passos do PSOL? 
O PSOL vai seguir esta luta para construir o terceiro campo na política nacional, a oposição de esquerda e a resistência contra os retrocessos que Cunha tenta impor no Congresso Nacional.
Foi aprovada na Câmara, sob o patrocínio de Cunha, uma nova lei que, se confirmada pelo Senado, vai nos tirar dos debates eleitorais. Uma verdadeira Lei da Mordaça. Vamos lutar contra isso, buscando apoio com Deus e o Diabo para derrotar esta medida no Senado.
Eu estarei à disposição do PSOL para concorrer em 2016 à prefeitura de Porto Alegre, mas, se for prefeita, não abandonarei meu mandato para concorrer à Presidência.
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Pedro Zambarda de Araujo
Sobre o Autor
Escritor, jornalista e blogueiro. Autor do projeto Geração Gamer, que cobre jogos digitais feitos no Brasil. Teve passagem pelo site da revista EXAME e pelo site TechTudo.

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