Kiko Nogueira: Faltava alguém dizer em público que vai matar Dilma e arrancar sua cabeça. Não falta mais.

Postado em 31 ago 2015

“Um recado claro à presidanta Dilma Roussef. (…) Renuncie, fuja do Brasil ou se suicide. Dia 7 de setembro a gente não vai pacificamente pras ruas. Juntamente com as Forças Armadas, vamos te tirar do poder. Assuma o seu papel, tenha humildade para sair do país porque, caso contrário, o sangue vai rolar. E vamos fazer um memorial na Praça dos Três Poderes: um poste de cabeça pra baixo. Nós vamos arrancar sua cabeça e fazer um memorial.”
O autor dessas ameaças é Matheus Sathler, que se apresenta como advogado num vídeo gravado no último dia 25.
Sathler foi candidato a deputado federal pelo PSDB. Não se elegeu.

No ano passado, causou barulho por causa de sua proposta de criação do “kit macho” e “kit fêmea” — como ele mesmo explicou, cartilhas para distribuição nas escolas ensinando “homem a gostar de mulher e mulher a gostar de homem”.
Ele se declara líder de um certo Movimento Mais Valores, Menos Impostos. Numa entrevista para o Uol, gabou-se de sua relação “muito boa com o pastor Silas Malafaia, com o deputado pastor Marco Feliciano e com o padre Paulo Ricardo [sacerdote olavista de extrema direita].”
Evangélico, “pregador” da Assembleia de Deus Ministério Missão Vida, acha necessário “proteger as crianças da influência homossexual”.
Mais do que visivelmente limítrofe, Sathler é o que a jornalista alemã Anja Reschke chamou de “pequeno ninguém” da internet. Reschke falava do alcance do ódio dos extremistas: “Até recentemente, esses comentaristas estavam escondidos atrás de pseudônimos, mas agora essas coisas estão sendo feitas sob os nomes verdadeiros dos autores”, disse ela em seu telejornal. “Aparentemente, não é mais embaraçoso.”
Cometeu um crime. Mas, como em tantos outros casos — para citar apenas dois deles, o do psicótico que invadiu a comitiva presidencial nos EUA e o do agente da PF que praticava tiro ao alvo com uma foto de Dilma —, este também vai ficar impune.
O Brasil é o país onde a noção de tolerância se transformou num laissez faire em que se incita o assassinato numa boa, enquanto a polícia militar faz escolta para um boneco inflável e o ministro da Justiça dá tapinhas nas costas de um miliciano.
Os pequenos ninguéns estão vencendo.

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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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