Homenagem no Senado aos 50 anos da Globo nos lembra uma antiga verdade


  

“O homem, por natureza, é levado a desprezar quem o bajula e a admirar quem não se mostra condescendente”. 


O autor desta frase está morto há mais de 2.400 anos. Era um grego chamado Tucídides. Se Tucídides conhecesse a realidade política brasileira e pudesse assistir à sessão do Senado nesta quarta-feira (6), que homenageou os 50 anos da TV Globo, acharia que seu ensinamento ficou perdido no abismo dos tempos. Ele ouviria incrédulo, e um pouco envergonhado, os discursos laudatórios de senadores do PT, do PSOL e do PDT. O historiador grego, é certo, não se espantaria com as falas de tipos como o Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), aquele que, segundo o seu ex-amigo Demóstenes Torres, rouba, mente e trai. Ronaldo Caiado só faltou dizer que foi a família Marinho que libertou os escravos, derrotou Hitler e inventou a penicilina, mesmo caminho seguido pelo ínclito José Serra.

Mais mentiras sobre a Globo



Mas Tucídides ouviria com estupor, por exemplo, o senador do PSOL, Randolfe Rodrigues, dizer que a Globo “é fundamental à democracia e a um de seus principais valores, que é a liberdade de expressão”. Disse ainda Randolfe que a emissora do Jardim Botânico é uma “incentivadora de talentos. Na Rede Globo há sempre o espaço para o novo”. Para quem acha que Randolfe já tinha elogiado demais a emissora, ele ainda encontrou espaço para afirmar que “é indispensável ao país a existência de uma rede de televisão capaz de promover a integração nacional e estabelecer espaços para debates”. O senador do PT, Jorge Vianna, não ficou atrás. Destacou a preocupação social da Globo e teceu loas ao jornalismo global: “O jornalismo da Globo é uma linguagem que fala com todos, todas as regiões do país”. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) incluiu a Globo entre os motivos de orgulho do Brasil. Para o senador, a emissora teve papel preponderante “na construção da unidade nacional”. Mais motivo teria Tucídides para assombro se reparasse que, na mesa que presidia a homenagem, estavam confortavelmente instalados três sorridentes ministros do Governo Dilma (do Turismo, Henrique Alves; da Comunicação Social, Edinho Silva; e da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos).

Algumas verdades sobre a Globo

Não, a Globo não é motivo de orgulho da nação. Aliás, em uma nação em que a justiça funcionasse de fato sem olhar a quem atinge, a TV Globo já teria tido sua concessão cassada há muito tempo. Ao contrário de “incentivar talentos”, a Globo sufoca as mais genuínas expressões do talento nacional, sacrificando tudo a uma homogeneidade que visa apenas aumentar seu lucro e seu poderio. Perguntem a qualquer um dos milhares e milhares de atores e atrizes de talento que existem no Brasil e que não fazem parte do pequeno grupo que é ou foi da Globo se eles conseguem viver da sua profissão e também lhes perguntem as causas. Eles dirão que uma das principais é a falta de espaços regionais onde expressar sua arte, hoje monopolizada por sotaques, padrões de beleza e comportamento restritos a dois ou três estados da federação. Mesmo as verbas públicas destinadas ao incentivo da produção cultural, segundo o próprio ministro da Cultura de Dilma, são, em sua maioria sugados, direta ou indiretamente, pelos tentáculos insaciáveis desta verdadeira usina de mediocridades que é o sistema Globo de Comunicação. O jornalismo Global, senador Jorge Viana, não passa de um panfleto que busca cotidianamente criminalizar o seu partido, caro Senador, e derrubar através de chicanas, um projeto político de esquerda ao qual o senhor está ligado. A TV Globo nasceu de um golpe militar, apoiado e incentivado pelo grupo de comunicação que a criou. Esta ditadura - não sabemos se este fato histórico é do conhecimento do Senador Cristóvão Buarque – mandou ao exílio o grande brasileiro Leonel de Moura Brizola, fundador do partido onde o senador Cristóvão se abriga.

O que as “Excelências” esqueceram
Os senadores e ministros que se dizem “de esquerda” e se rebaixaram a fazer este triste papel de bajular uma emissora golpista - inequivocamente a principal incentivadora da onda conservadora que nos assola - além de terem manchado suas biografias, cuspiram nas memórias de Maurício Grabois, Soledad Barrett, Vladimir Herzog, Dinalva Oliveira, Helenira Resende, Rubens Paiva, Maria Lúcia Petit, Carlos Lamarca, Pedro Pomar , Ângelo Arroyo, João Batista Drummond, Gregório Bezerra, Marighella, Oswaldão, e tantos outros que tombaram na luta contra a ditadura sustentada pelo grupo de comunicação que foi alvo da vergonhosa homenagem. Estes e muitos outros brasileiros, com o sacrifício de suas próprias vidas, derrotaram o regime apoiado pela Globo, o que tornou possível aos senhores senadores e ministros que se situam no campo popular e democrático, ocuparem hoje estas elevadas posições. É decididamente uma pena que Vossas Excelências não tenham levado isto em conta.

Tucídides: “Coragem é liberdade”

Tucídides foi também um guerreiro, enfrentou o exílio, e considerava que "a liberdade é a felicidade, e a coragem é a liberdade". Provavelmente ele se levantaria em meio ao Senado e bradaria aos que se acoelharam: “De espírito forte devem ser considerados, e com razão, os que, mesmo conhecendo claramente as dificuldades da situação e apreciando os prazeres da vida, justamente por isso não se retiram diante dos perigos”.

Saudações a quem tem coragem

Sendo assim, nossa saudação à Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), ao senador Roberto Requião (PMDB-PR) e a diversos outros senadores que não compareceram a uma homenagem que elevou quem não merecia ser elevado e marcou em alguns a frase do samba: “Para subir, você desceu”.



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