Fernando Brito: As emanações do submundo da Lava Jato
1 de agosto de 2015 | 13:42 Autor: Fernando Brito
A decisão da advogada Beatriz Catta Preta de abandonar seus clientes (e os milionários honorários que receberia) chamou a atenção até de gente ingênua como eu, há dez dias: A “Doutora Delação” pede o boné e vai embora, de repente? Estranho…
Uma semana atrás surgiu o primeiro sinal concreto de que algo estava acontecendo no submundo de interesses políticos e financeiros da Operação Lava Jato.
Do nada, surgiu uma nota na Veja – único veículo de comunicação que assume abertamente a defesa de Eduardo Cunha – intitulada ” O Casal Fera” informando que a Doutora Delação, Beatriz Catta Preta, tinha como sócio “ o marido, que é ex-policial, (que)usa métodos, digamos, indelicados para negociar pagamentos. Essa era a principal reclamação dos clientes que chegavam a seu escritório”. A nota seguia, dizendo que“socos na mesa, gritos e xingamentos eram rotina na dinâmica das cobranças – em especial com famílias já fragilizadas pela prisão dos acusados”.
Até este distraído blogueiro percebeu e escreveu naquele dia: Tem gato na tuba da Operação Lava Jato.
Ontem, Luís Nassif escreveu uma bela análise dos fatos, “Para entender o jogo do impeachment e o caso Catta Preta“, onde faz perguntas intrigantes:
“Por que razão uma advogada criminal pouca conhecida, que transitava apenas pelo baixo submundo do crime, se tornou advogada de todas as delações? Quais seus contatos anteriores, para se tornar o canal entre os detidos e a força tarefa e o juiz Sérgio Moro? Quem bancava seus honorários, se não eram os detidos? E porque os detidos se valeram apenas dela para aceitar o acordo de delação?”
Hoje, é a Folha quem começa a publicar as informações – até agora restritas à blogosfera, de que tem muito caroço neste angu:
“Segundo ex-clientes de Catta Preta ouvidos pela Folha, ele apresentava os orçamentos, fazia cobranças de honorários, e, em alguns casos, prospectava negócios.
Colegas que conviveram com a advogada no início da carreira contam que o casal se conheceu em 2001, quando Catta Preta atuou como defensora de Carlos. Ele foi flagrado com US$ 400 mil em notas falsas e disse à polícia que usou as cédulas para diminuir o prejuízo de uma negociação que tinha feito com indianos que lhe repassaram dinheiro falso. Carlos foi condenado a três anos em regime aberto.
Nos bastidores do meio jurídico, advogados atribuem às intervenções de Carlos parte da capacidade de Catta Preta de atrair clientes que antes eram defendidos por outros profissionais. A Folha não conseguiu contato com a advogada.”
Nem se entrou na abertura, ano passado, da empresa de ambos em Miami, embora seja fato documentado e ninguém fez a pergunta obvia:porque os acusados da Lava Jato demitiram seus advogados originais e os substituíram pela Doutora Delação, que logo firmou acordos com o Ministério Público para dedurar fatos e, quem sabe, não-fatos.
Há um odor fétido emanando de todo este processo de delações, o qual – depois de florescer durante meses diante de um Governo e de um PT que quase pediam desculpas por existirem – encontrou um adversário do mesmo naipe: Eduardo Cunha, que conhece bem estes métodos, por experiência própria.
A “sua” CPI vai, como se disse aqui, passar como um trator sobre a Doutora Delação, sem piedade de sua vida privada e das relações profissionais. O fato de o Dr. Moro tê-la protegido ao se recusar a fornecer a lista completa de clientes de Catta Preta é irrelevante: basta uma consulta aos processos e se verá quais. Os nomes serão ditos e repetidos e as contradições apontadas.
E com direito a transmissão da TV Câmara.
Não vou me surpreender se, amanhã, for revelado que Alberto Youssef, um condenado da Justiça, em liberdade condicional por delação, foi “plantado” como operador de gente não apenas corrupta como burra.
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