Emir Sader: Círculos viciosos da direita brasileira
Depois dos governos da ditadura e dos governos neoliberais, a direita brasileira está zonza. Não sabe o que fazer, para onde caminhar, nem o que propor
por Emir Sader publicado 14/08/2015 14:16, última modificação 14/08/2015 14:51
MÁRCIA MINILLO/RBA
A direita pôde gozar, durante um tempo, da sua capacidade de impor uma estabilidade política – baseada na força – e um crescimento econômico, mesmo se com aumento das desigualdades e da exclusão social. O modelo brasileiro serviu de referência para outros países da região, tanto como imposição violenta da ordem, quanto como modelo econômico. O primeiro aspecto se reproduziu em outros países. O segundo não.
Mas aqui a direita ficou como referência de "ordem" e de "expansão econômica". Quando a economia deixou de crescer, a legitimidade da ordem ditatorial se enfraqueceu e o consenso da democracia se consolidou. A direita ficou com sua imagem vinculada à repressão.
A direita se renovou no Brasil com o figurino neoliberal, tendo não a repressão, mas o mercado como referência central. Conseguiu um sucesso inicial de marketing com Fernando Collor, e depois o êxito do controle da inflação com Fernando Henrique Cardoso. A incapacidade de transformar esse controle em retomada do crescimento econômico e em distribuição de renda levou ao esgotamento e ao fracasso também desse modelo da direita.
Mas a consolidação da crise da direita veio realmente com o governo de Lula, que conseguiu superar a prolongada recessão que havia herdado, assim como combater ao mesmo tempo as acentuadas desigualdades da sociedade brasileira. Esse sucesso enterrou a direita, como ela existia, e deixou-a órfã de modelos.
A partir daquele momento, a direita oscilou entre a retomada do modelo neoliberal de FHC – fracassado aos olhos da massa da população – ou tentar aparecer como continuador do programa do Lula, com adequações. Fracassou nas duas tentativas.
Seus elementos de força estão na capacidade de desestabilização dos governos a partir do monopólio privado dos meios de comunicação. Nesse plano, a direita tem mostrado invejável capacidade, seja no caso do chamado "mensalão", com todos os seus desdobramentos, seja na campanha mais recente de denúncias a partir da Petrobras.
Consegue impor a agenda nacional, deixa o governo sem iniciativa e pôde colar no PT a imagem de partido corrupto, extensível ao governo.
Porém, essa capacidade de desestabilização não consegue se transformar em força política alternativa aos governos do PT. A falta de propostas inovadoras leva a direita ao círculo vicioso do neoliberalismo e da ditadura, que não goza de nenhum apoio popular. Assim, apesar de conseguir, conforme pesquisas feitas pela própria mídia privada, rebaixar o nível de apoio do governo Dilma a 7%, não consegue, por mais que manipule, baixar o apoio a Lula a menos do que 33%.
É essa crise que levou a direita às atitudes mais incongruentes, entre apoio a formas de golpe, disseminando ódio e baixarias contra o governo. Seja apoiando medidas contraditórias com o que defenderam e implementaram no passado, elevando os gastos públicos, seja aliando-se, de forma aventureira, a Eduardo Cunha.
Quando baixa a espuma, a direita se vê órfã: nem impeachment, nem qualquer forma de golpe e com perspectivas eleitorais difíceis para 2018: Alckmin contra Lula.
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