Darío Pignotti: Direita aposta no surgimento de um 'Berlusconi brasileiro'
Wadih Damous acredita que o governo recuperou a iniciativa política e que as mobilizações da direita a favor do impeachment esmoreceram.
Brasília - Deputado do PT e ex-presidente da regional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil, Wadih Damous defende que as mobilizações pró impeachment, como a ocorrida no domingo passado, são “uma aposta no surgimento de um Silvio Berlusconi brasileiro” e opinou que é a possibilidade de que Dilma renuncie é “nula”.
– Poderíamos dizer que a pessoa mais celebrada no domingo foi o juiz Sérgio Moro.
– É compreensível que esses grupos se entusiasmem com alguém como o juiz Moro, que está criminalizando toda a atividade política, e isso leva a saídas fascistas, do tipo de Silvio Berlusconi na Itália. A Rede Globo, conhecida por apoiar o golpismo, o transformou numa celebridade televisiva, num salvador da pátria.
– Moro diz se inspirar na Mani Pulite – Operação Mãos Limpas, realizada na Itália, nos Anos 90.
– Poderíamos dizer que a pessoa mais celebrada no domingo foi o juiz Sérgio Moro.
– É compreensível que esses grupos se entusiasmem com alguém como o juiz Moro, que está criminalizando toda a atividade política, e isso leva a saídas fascistas, do tipo de Silvio Berlusconi na Itália. A Rede Globo, conhecida por apoiar o golpismo, o transformou numa celebridade televisiva, num salvador da pátria.
– Moro diz se inspirar na Mani Pulite – Operação Mãos Limpas, realizada na Itália, nos Anos 90.
– E foi depois da Mãos Limpas que surgiu o Berlusconi. Moro tem veleidades injustificadas, ele não pode se comparar com o promotor (Antonio) Di Pietro (que liderou as investigações na Itália), ou com a Mãos Limpas. Ele não tem reputação jurídica, nem elaboração doutrinária: ele ganhou fama trilhando o caminho autoritário, através da violação da Constituição, dos direitos de defesa e inclusive dos direitos humanos. Ganhou os elogios da Globo porque só investiga suspeitos do PT. Quando aparecem indícios sérios sobre o PSDB, ele não os investiga.
– E quem seria o Berlusconi brasileiro?
– Quem sabe se esse Berlusconi brasileiro não termina sendo o próprio juiz Moro. Ele se fez muito popular entre os grupos mais reacionários. E está cercado por um grupo de promotores fanáticos, uns jovens sem nenhum saber jurídico, que se assumem como se fossem predicadores do bem contra a política. Isso a nível jurídico. A nível parlamentário, Moro também está ganhando apoio. Hoje no Brasil nós temos a Câmara dos Deputados mais reacionária das últimas décadas. Uma casa composta por muitos policiais exercendo cargo de deputados, policiais que vêm às sessões vestidos com uniforme, e eles enaltecem o trabalho de Moro, as leis repressivas e o estado de exceção com aspecto republicano.
– Como foi o desempenho de Moro na causa do Petrolão?
– Creio que o juiz Moro não tem a exata dimensão das consequências do Petrolão, ou seja, do processo da Lava Jato, e que isso está causando estragos à Petrobras e à economia brasileira, para favorecer não sei quem. Esse processo já comprometeu 2,5% do PBI, isso gera desemprego, a quebra de empresas estratégicas.
– O que você acha do uso das delações premiadas?
– O uso das delações premiadas é abusivo e autoritário. É curioso, mas nestes momentos, quando não há chance de um retorno dos militares, o fascismo brasileiro atua através das armas, atua através dos órgãos do Estado, como o Poder Judiciário.
– Através de delações como essa foi decretada a prisão de José Dirceu, ex-homem-forte do governo de Lula.
– É verdade, não me aprofundei no tema, mas não tenho visto nada consistente na acusação contra ele, de quem eu tenho o orgulho de ser amigo.
– Dirceu é corrupto ou chefe de uma quadrilha?
– José Dirceu é o melhor quadro político do Brasil, um homem com uma biografia de compromisso político e militância, ele foi estigmatizado injustificadamente, não é um corrupto. Existe uma perseguição política contra Dirceu, principalmente na imprensa e entre esses promotores fanáticos. Mas não é verdade que ele montou uma organização para delinquir.
– Dilma pode renunciar?
– Considero que a presidenta tem muitos defeitos, como o de não gostar de política. Ela foi militante da luta armada, nunca foi líder estudantil, nem de partido, ocupou cargos de quadro técnico. Ela não gosta do jogo da política, esse é um defeito, mas ela tem a virtude de ser aguerrida, valente, tem um carácter forte, até em excesso, ela não vai a fraquejar por causa das pressões.
– Qual é a probabilidade de que aconteça o impeachment?
– Se me perguntassem há uma semana atrás, eu teria dito que o impeachment estava avançando. Depois de todos esses movimentos bem sucedidos feitos por Dilma e Lula, a situação melhorou, porque o governo recuperou a iniciativa política. Conseguiu atrair o senador Renan Calheiros de volta à base governista, houve diálogo com o Supremo Tribunal Federal. Creio que o governo saiu das cordas, está mais atuante. Agora eu sou mais otimista. Medindo de 1 a 100, na semana passada, o impeachment tinha 60% ou mais de chances, agora tem menos de 30%, capaz que 20%. O impeachment se desinflou.
– A oposição insiste na tese de que Dilma não termina o mandato.
– A oposição é boa para ganhar pesquisas, mas não consegue eleger um presidente há quatro eleições. Não nos esqueçamos que Dilma ainda tem três anos e meio de mandato por diante. Ninguém ignora o fato de que este é o pior momento dos governos do PT, a economia vai mal, a política também, mas existem chances reais de melhorar.
– 66% da população está a favor do juízo político, segundo uma pesquisa.
– Teríamos que saber como foram formuladas as perguntas dessa pesquisa. As pessoas estão insatisfeitas com o governo, mas não vejo que exista um 66% querendo impeachment. Talvez haja 66% em São Paulo, mas São Paulo não é o Brasil, São Paulo é um caso atípico, mas é só um Brasil. Nelson Rodrigues, um importante escritor brasileiro, já dizia que “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”.
– Lula deveria assumir algum ministério?
– Até o mês passado, eu defendia que Lula deveria assumir um ministério político, para melhorar a articulação do governo, mas analisando melhor agora, mudei de ideia. Se estivesse num ministério, eclipsaria Dilma, seria um erro acabar com a figura da presidenta. Além disso, Lula sendo ministro carregará com o desgaste do governo, afetando sua imagem para ser candidato à presidência, em 2018. É o maior líder popular do país, temos que preservá-lo.
– O PT é um dos principais alvos dos manifestantes?
– O PT está numa encruzilhada, até a sua própria existência está em jogo, e o partido perdeu boa parte da credibilidade que já teve. Deveríamos reconquistar os movimentos sociais, reconquistar a juventude, que também perdemos. Hoje, a juventude vai às ruas com a direita, como se vê nas marchas desestabilizadoras, ou se identifica mais com o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade, nascido de uma dissidência do PT). Lamentavelmente, já não somos uma opção para os jovens, e hoje há muitos jovens conservadores, golpistas, estão nos ganhando nas ruas. Temos que reconhecer, infelizmente, que o PT perdeu a capacidade de mobilização que tinha, terá que reconstruir esse poder, para resistir a esse golpismo. Creio que isso poderá ser reconquistado em algum momento. Precisamos reconhecer que hoje é muito difícil o PT convocar uma mobilização em defesa de um governo que está fazendo um ajuste econômico como este, gerando mais desemprego.
– É uma situação irreversível?
– É reversível porque o PT é um partido com mais de um milhão de filiados, com uma base muito forte. Hoje não temos capacidade de pedir à sociedade que defenda um governo impopular. Mas temos a possibilidade real de pedir à sociedade que vá às ruas para defender a democracia.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Evan Schneider/ UN
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