Cíntia Alves: O festival de balões que assola Brasília

Jornal GGN - Agosto começou digno do título de mês de soltar balão. O cenário de crise política aguda, com especulações diárias sobre onde - ou nas mãos de quem - o País vai parar nos próximos meses tem funcionado como combustível, fertilizante para mentes criativas. Isso, claro, quando os balões não são feitos com o propósito de atender a interesses pessoais.
Este último é o caso das notinhas em jornais como Folha de S. Paulo nas últimas semanas, dando conta de que o senador José Serra (PSDB), em flerte eterno com o Palácio do Planalto, decidiu se aproximar do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e tem topado uma troca de favores que beneficiam ambos os lados. Seus concorrentes tucanos estariam de orelha em pé.

Temer, como coordenador político de Dilma Rousseff, precisa intensificar a interlocução no Senado, comandado pelo correligionário Renan Calheiros, e Serra estaria ajudando nisso. Na outra ponta, o tucano espera ganhar espaço num eventual governo Temer como ministro da Fazenda e pavimentar, assim, o caminho até 2018.
A questão é que Serra não é unanimidade no PSDB, embora a Folha tenha frisado que a aliança entre ele e Temer garantiria que parte do tucanato desse sustentação ao governo peemedebista pós-impeachment de Dilma. Duvidoso, já que essa semana, com aval do presidente Aécio Neves, outra parte do PSDB decidiu subir o tom e pedir novas eleições já. Aecistas não querem saber de governo Temer.
Pode-se cogitar que o que Serra quer, na verdade, é sinalizar que não está disposto a assistir de braços cruzados o governador Geraldo Alckmin e Aécio disputarem entre si a liderança da chapa presidencial tucana para a próxima eleição. Serra quer ser candidato de novo, nem que tenha de trocar de partido para isso.
Tal como Marta fez com o PT, o senador pode estar tentando, com ajuda da imprensa amiga, a passar a seguinte mensagem: se o PSDB não me quer como postulante, tem quem queira. No caso, o PMDB, que possui uma vitrine de presidenciáveis limitada, por enquanto.
Os balões sobre reforma ministerial
Quem não se arriscou a projetar as alianças de um eventual governo Temer - a IstoÉ ouviu "fontes próximas ao vice" que garantem que Joaquim Barbosa, Marina Silva, Pedro Simon, Carlos Ayres Britto e outras figuras "de respeito" seriam convidados para o primeiro escalão - decidiu palpitar sobre a reforma ministerial da presidente Dilma.
Houve quem defendesse a ida de Temer para o Ministério da Justiça - uma pasta "em crise" sob a gestão de José Eduardo Cardozo, em função a Lava Jato - de e Lula para a Casa Civil. Assim, justificam, Dilma ficaria com a parte técnica do governo, enquanto o ex-presidente lidaria com as articulações políticas. Crise resolvida.
Para engrossar esse caldo, na quinta-feira (6), o blog do Gerson Camarotti (G1) publicou que, "para estancar a crise", o Palácio do Planalto já avalia convocar Lula para ser ministro.
A ideia defendida por petistas é a de que seria "apropriado" que o ex-presidente assumisse cargos como o Ministério da Defesa ou Relações Exteriores, para defender lá fora a imagem do Brasil. Esqueceram de contar que Lula tem passado maus bocados com a criminalização de sua atuação no exterior, em prol de empresas brasileiras. Sem contar que o presidente de honra do PT sempre manteve certa distância do Planalto, evitando fomentar as teses de que governaria no lugar de Dilma.
Outra indicação para se pensar: o blog do Esmael Morais, nesta sexta (7), diz que uma "surpresa" na reforma ministerial de Dilma seria o alojamento do senador Roberto Requião na área da "Economia". O peemedebista esteve com Aloizio Mercadante (Casa Civil) essa semana e, desde então, reduziu as críticas ao governo e tem feito mistério sobre o teor do encontro.
Mas Requião é contrário ao plano Levy e não faz questão nenhuma de esconder isso. Teria sentido ele na área comandada pelo atual ministro da Fazenda?

Comentários