Quando Moro fica bonzinho ou algo no ar, além dos aviões da Panair
Fernando Brito, do Tijolaço, já tinha chamado a atenção para o fato. A advogada Beatriz Catta Pretta se desligou da defesa dos clientes que fizeram delação premiada na Operação Lava Jato. Fato estranho, agora que a operação parece entrar em sua fase decisiva.
Recordando: Paulo Roberto Costa, o delator mor, era defendido pelo criminalista Nélio Machado, que não queria que seu cliente fizesse um acordo de delação premiada. Em agosto de 2014 ele é substituído pela dr. Beatriz, que encaminha então o acordo de delação premiada. Uma fonte do mundo jurídico ouvida pelasNotas Vermelhas diz que muita gente estranhou que o réu escolhasse a Catta Pretta pois, segundo esta fonte, um cliente com a capacidade financeira de Paulo Roberto Costa optaria normalmente por um escritório renomado, de primeira linha, e não por uma advogada competente, mas não muito conhecida.
Uma mera especulação
A não ser, e isso é apenas uma especulação que se faz no mundo jurídico, que a contratação da advogada fizesse parte de algum trato secreto que fosse benéfico para o réu, e para mais alguém com interesses que iriam além da demanda judicial. Este alguém então teria indicado a dra. Beatriz como uma espécie de fiadora deste trato. O fato é que depois de ser escolhida por Paulo Roberto Costa, Dra. Beatriz também assumiu a defesa de Augusto Mendonça, Pedro Barusco e Júlio Camargo. Todos fizeram o acordo de delação premiada e, como lembra Fernando Brito, “aceitaram deixar de defender-se, aceitaram penas e assumiram devolução de dinheiro roubado e multas judiciais”. E as delações, vamos concordar, são mesmo uma bela obra de engenharia. Quando não se encaixam ou têm contradições, é só fazer um remendinho em um depoimento, um puxadinho no outro, e toca-se a vida. Júlio Camargo, lembram-se todos, foi o que falou sobre a propina que Eduardo Cunha teria pedido e relatou que tinha medo da pressão do presidente da Câmara. E justo agora, Beatriz pede desligamento.
Moro defende Beatriz
Sérgio Moro não é um juiz conhecido por acreditar muito em coisas como “presunção da inocência” ou que alguém só pode sofrer uma pena depois de condenado e outras baboseiras que o fariam perder a valiosa estima do Sistema Globo (além da medalhinha). É investigado por abusos em suas decisões desde 2005 e na Operação Lava Jato ordenou várias prisões com base no “se”, “supostamente”, etc. Mas esse rigor parece estar se atenuando. Quando se anunciou que a doutora Beatriz seria convocada para prestar depoimento na CPI da Petrobras, que queria saber sobre a origem dos recursos que os seus clientes usaram para pagá-la, Sérgio Moro, definitivamente, não gostou. Nesta sexta-feira (24), na Folha de S. Paulo, lá longe (página A8), distante das manchetes ou de maiores destaques, encontramos a informação de que Moro considerou que a convocação para o depoimento parte de “uma especulação abstrata”. Disse mais. Segundo o, até então, implacável herói, “não existem indícios de origem criminosa nos recursos utilizados para o pagamento da defensora” e, pasmem, o depoimento da doutora na CPI seria um “constrangimento ao acusado e seus defensores”. Como diria o poeta, no peito de Sérgio Moro também bate um coração.
Mudando de assunto
Deixando de lado esta súbita humanização de Sérgio Moro, voltemos à questão que importa: em tendo base real a especulação de que teria sido feito um trato à margem da lei (por isso mesmo secreto), em torno das delações premiadas, trato no qual a doutora Beatriz seria uma espécie de fiadora, descobrir quem a indicou a seus clientes da Operação Lava Jato poderia dar indícios, dependendo de quem seja esta pessoa (se é que ela existe) de qual seria o teor deste suposto trato, qual o seu objetivo principal e, finalmente, o que teria acontecido que motivou o abandono do caso pela doutora e sua ida (como se anuncia) para Miami. Cartas para a redação.
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