Fernando Brito: A “voz do povo” só vale para cana, não vale para grana, Deputado Cunha?

6 de julho de 2015 | 21:08 Autor: Fernando Brito
financiaprivado
Cansei de ouvir, na “revotação” da redução da maioridade penal os deputados da direita enchendo a boca para dizer que a maioria esmagadora da opinião pública era a favor de cadeia para adolescentes.
Os mesmos, quase todos, que aprovaram o financiamento privado das campanhas eleitorais, também numa “revotação” cunhística, vão dizer o quê, agora?

A a “opinião pública” vale  pela cana, mas não vale pela grana?
Dinheiro de pessoa física a gente dá como quiser e é tolerável que quem tem mais possa dar mais, até certo limite, desde que isso não seja forma de escapar de impostos.
De pessoa jurídica  – e e empresa não é “pessoa” – não, nem dentro de limites, porque é a usurpação do direito de quem compra produtos e serviços de uma organização e tem seu dinheiro desviado – mesmo legalmente – para candidatos a cargos eletivos que não escolhe.
Quando, no auge das tais “jornadas de junho”, o Governo Dilma apresentou, mas não defendeu, a proposta de financiamento público exclusivo das campanhas, errou grosseiramente e não pode seguir errando agora.
Se a maioria do parlamento, beneficiária deste dinheiro das empresas, não quer, a população quer.
Como se desmoralizariam, se o Governo sai resolutamente para a defesa de suas propostas, as teses de que o PT – e só o PT – foi garimpar dinheiro de favor de empresas para a campanha?
Não é tarde, porém, para retomar a campanha.
Há, para a transformação desta imoralidade em regra constitucional, uma votação do Senado, na qual é hora de fazer cavalo de batalha.
Há, em tramitação no Supremo, uma decisão proibindo o “surucutaco” empresarial nas eleições, sobre a qual Gilmar Mendes continua sentado.
Assumir esta causa é a maior prova de que a política pode e deve se fazer sem dinheiro – legal ou ilegal, mas sempre imoral – de empresas.
E deixar que os “paladinos da moralidade” escancarem que considera imoral apenas o dinheiro que se dá ao PT, enquanto o deles é limpo, puro e generoso.
Mas, para isso, o governo tem de tomar posição, não ficar a reboque, dizendo: “ah, eu preferia que as eleições fossem limpas, mas os deputados, sabe como é…”

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